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Sabor

Arepas, sancochos e patacons são memórias de amor para quem está longe

Evento que reuniu venezuelanos acolhidos por diferentes instituições possibilitou encontro entre conterrâneos

Danielle Valentim | 21/04/2019 07:25
Arepas com queijo e presunto. (Foto: Tatiana Marin)
Arepas com queijo e presunto. (Foto: Tatiana Marin)

Para 11 famílias venezuelanas que, atualmente, moram em Campo Grande comer arepas, sancochos ou patacons passa de refeição para oportunidade de matar a saudade de casa. Na última sexta-feira, cerca de 50 imigrantes foram reunidos em uma grande festa para relembrar sabores, músicas, danças e a cultura do país de origem. Entre a alegria, a emoção tomou conta durante a canção “Venezuela”, de Luís Silva, música adotada por eles depois que o hino perdeu a essência e só causa dor.

O evento reuniu famílias acolhidas pela A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e o grupo de voluntários MS Acolhe, parceiro do Fraternidade Sem Fronteiras. Dessa forma, muitos conterrâneos de diferentes cidades venezuelanas se encontraram. A imigração venezuelana resulta do cenário de crise política, econômica e social que vivem atualmente. Para fugir da fome e da morte, a porta de entrada dos venezuelanos é o estado de Roraima.

Antes de dar início a comilança, as famílias apresentaram danças folclóricas como a “Leo Leo Lê” e “Manduco”. (Foto: Tatiana Marin)
Antes de dar início a comilança, as famílias apresentaram danças folclóricas como a “Leo Leo Lê” e “Manduco”. (Foto: Tatiana Marin)
Emoção tomou conta durante a música "Venezuela". (Foto: Tatiana Marin)
Emoção tomou conta durante a música "Venezuela". (Foto: Tatiana Marin)

Antes de dar início a comilança, as famílias apresentaram danças folclóricas como a “Leo Leo Lê” e “Manduco”, música tradicional que mulheres negras cantavam enquanto lavavam roupas no rio, na apresentação elas esfregavam a saia como se estivessem lavando.

Já a música “Venezuela” arrancou lágrimas até de quem não era imigrante. Para eles, a canção representa todas as culturas pela variedade de instrumentos usados.

Além disso, a letra remete ao retorno ao país e segundo a professora Venezuelana Lorena Cortez, de 28 anos, o texto explica o atual momento de cada imigrante, principalmente, no trecho: [...] E se um dia eu tiver que naufragar e um tufão quebrar minhas velas enterrem meu corpo perto do mar, na Venezuela [...].

Além do gêmeo de Lorena estão em Campo Grande, o irmão mais velho e sua mãe. Chorando, a jovem conta que o pai permaneceu na Venezuela.

Lorena era professora na Venezuela; Ela ainda sofre pelo pai que está no país. Atualmente mora no Bairro Tarumã. (Foto: Tatiana Marin)
Lorena era professora na Venezuela; Ela ainda sofre pelo pai que está no país. Atualmente mora no Bairro Tarumã. (Foto: Tatiana Marin)
Francis Perez era enfermeira na Venezuela. (Foto: Tatiana Marin)
Francis Perez era enfermeira na Venezuela. (Foto: Tatiana Marin)

“Ele tem medo de sair e nunca mais pode entrar na Venezuela. Nós tentamos explicar que não é verdade, mas não tem jeito. Eu nunca pensei que seria tão fácil poder viver aqui. O povo brasileiro é muito acolhedor. Me sinto acolhida pelos campo-grandenses e pelos membros da igreja. Eu sou muito grata”, conta Lorena, bastante emocionada.

Francis Perez era enfermeira na Venezuela. Para fugir da crise passou uma semana pedindo carona e percorrendo trechos a pé até chegar a Boa Vista. Sem dinheiro ao chegar ao Brasil passou três meses dormindo na praça da cidade.

A venezuelana está há um ano no Brasil, desses nove meses em Campo Grande, no Bairro Jardim Imá. A filha de 15 anos e mãe chegaram depois e somam cinco meses de imigração. A adolescente Querismar Salazar, de 15 anos, estava morrendo de saudade de comer. “Agora estamos eu, minha filha, meu filho de 10 anos e minha mãe. Estou trabalhando em uma lavanderia”, conta Francis. “É muito bom poder comer esse alimento que faz parte da minha cultura, estava com muita vontade”, disse a adolescente.

Morgana pontua que eventos como este ajudam os imigrantes a se familiarizarem e se sentir acolhidos.(Foto: Tatiana Marin)
Morgana pontua que eventos como este ajudam os imigrantes a se familiarizarem e se sentir acolhidos.(Foto: Tatiana Marin)

A designer de interiores Morgana Veiga Fonseca, de 27 anos, é membro da igreja e pontua que eventos como este ajudam os imigrantes a se familiarizarem e se sentir acolhidos. No entanto, ressalta que eles ainda precisam de doações na área de cama, mesa e banho, além de utensílios de cozinha.

“Nossa ala [região] recebeu cinco famílias, então, todos ajudaram de todas as formas, mas eles são um povo muito bom e sempre disposto a servir. A comida é diferente, bem diferente do que a gente tem aqui”, ri Morgana.

Sancocho. (Foto: Divulgação)
Sancocho. (Foto: Divulgação)
Pequena Venezuela matou a saudade. (Foto: Divulgação)
Pequena Venezuela matou a saudade. (Foto: Divulgação)

As arepas foram servidas como entradas. A iguaria é parecida com um pão, mas no lugar da farinha de trigo, se usa milho moído ou farinha de milho pré-cozido. A passa pode ser frita ou assada. Depois disso é só abrir e rechear a seu gosto. No evento, tinha opção com feijão, queijo e presunto e frango.

Logo em seguida, como prato principal foi servido o Sancocho. Bem temperado, é uma sopa tradicional com pedaços de carne com osso, mandioca, batata, milho e legumes. Aqui no Brasil se assemelha com o famoso puchero.

 

A Chicha. Drink com arroz, leite condensado e canela. Aqui no Brasil lembra o arroz doce. (Foto: Divulgação)
A Chicha. Drink com arroz, leite condensado e canela. Aqui no Brasil lembra o arroz doce. (Foto: Divulgação)
Patacons ou patacones de banana verde. (Foto: Divulgação)
Patacons ou patacones de banana verde. (Foto: Divulgação)

O patacon veio por último. A receita é feita de pedaços de bananas verdes amassadas em rodelas e, em seguida, fritas. No evento, tinha queijo e catchup em cima, mas vai da criatividade de cada um.

Durante todas as refeições, duas bebidas tradicionais na Venezuela foram servidas. A primeira a Papelón com Límon. Extremamente, refrescante, o líquido é preparado com rapadura batida com água e limão. A bebida também leva o nome de uma cidade venezuelana. Aqui no Brasil, é idêntica a garapa com limão.

E por fim, a bebida cremosa Chicha ganhou a noite. Feita de arroz ou massa de macarrão, leite, leite condensado, canela e gelo, a bebida adocicada se parece com arroz doce batido.

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