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Lado Rural

Família Scheffer investe em MS e quer prática regenerativa em 100% da produção

Grupo comprou 5,37% do capital da SLC, que controla mais de 65 mil hectares para plantio de grãos e pesquisa

Por Viviane Monteiro, de Brasília | 14/05/2025 13:22
Família Scheffer investe em MS e quer prática regenerativa em 100% da produção
Funcionários do grupo em dia de campo. (Foto: Reprodução)

O Grupo Scheffer Participações, com sede em Mato Grosso, referência nacional na produção agrícola regenerativa em larga escala, vem ampliando as parcerias estratégicas e consolidando sua presença também em Mato Grosso do Sul — na esteira do crescimento global do segmento, da ordem de 14% ao ano até 2033. O mercado cresce impulsionado pela adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis, com a saúde do solo, valor agregado, redução do uso de agrotóxicos, alta produtividade e redução de emissões de gases de efeito estufa.

Para fazer frente a esses e outros desafios, a empresa, com cerca de 40 anos no mercado e que carrega no seu DNA a marca da família Maggi, fatura mais de R$ 1,7 bilhão ao ano, com investimentos pesados em ciência e tecnologia, capacitação de pessoal e técnicas agrícolas de manejo sustentável. Em algumas áreas, a produtividade do algodão — a segunda atividade da empresa depois da soja — supera em 20% a média nacional, segundo especialistas ouvidos pelo Campo Grande News.

Com cerca de 10 unidades de produção no Brasil, e também na Colômbia, o grupo Scheffer, que cultiva mais de 220 mil hectares em duas safras anuais (safra e safrinha), iniciou negócios em Mato Grosso do Sul no ano passado, por intermédio de duas operações.

O grupo adquiriu 5,37% do capital da SLC Agrícola, uma das maiores produtoras de algodão, soja e milho do Brasil, e que tem presença em sete estados, incluindo Mato Grosso do Sul. A empresa registrou lucro líquido de R$ 510,7 milhões no primeiro trimestre deste ano, o que representa alta de 123,1% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme balanço divulgado na noite desta terça-feira, 13. Já a receita líquida da SLC cresceu 19,1%, alcançando R$ 2,3 bilhões.

O grupo Scheffer tornou-se um dos maiores acionistas da SLC, atrás somente da família Logemann, mediante a aquisição ocorrida em janeiro do ano passado, envolvendo cerca de 23,8 milhões de ações ordinárias, com investimentos na casa de R$ 400 milhões.

Família Scheffer investe em MS e quer prática regenerativa em 100% da produção
Elizeu Maggi Scheffer, o patriarca do grupo.

Originária do Paraná, a família estabeleceu-se no Mato Grosso na década de 1980, quando Elizeu Maggi Scheffer, o patriarca, primo do ex-ministro e ex-governador do Estado, Blairo Maggi, e sua esposa, Carolina Scheffer, fundaram o Grupo Scheffer em 1986.

A operação, aprovada sem restrições pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em março de 2024, foi conduzida pelo casal e os três filhos: o economista Guilherme Scheffer, diretor financeiro do grupo e responsável pela expansão da agricultura regenerativa; Gyslaine Rafaella Scheffer e Gilliard Antonio Scheffe. Os cinco investidores atuarão em bloco na SLC Agrícola.

Mercado em expansão - Para especialistas, a entrada de um acionista com forte atuação em agricultura regenerativa pode acelerar a adoção de práticas sustentáveis, aproveitando as janelas de crescimento do mercado. Hoje, a maioria da produção do Grupo Scheffer segue o modelo regenerativo, que avança gradativamente. A meta é alcançar, até 2030, 100% das áreas cultivadas pelo grupo com essas práticas.

Para o economista Guilherme Scheffer, a agricultura regenerativa é o caminho para unir a eficiência do agro — com alta produtividade, qualidade e rentabilidade financeira — à responsabilidade social, ambiental e econômica. Ele entende que o futuro da produção agropecuária passa, obrigatoriamente, por práticas mais conscientes e sustentáveis, como aponta em artigo divulgado no site do grupo.

“A jornada que nos trouxe até aqui nos impulsiona a seguir adiante, mantendo o foco em continuar fazendo uma agricultura que seja boa para a sociedade e para a natureza.”

Carro-chefe da produção regenerativa, a colheita da atual safra de algodão da família Scheffer, semeada entre dezembro e início de fevereiro, está prevista para ocorrer entre junho e setembro. Pelas estimativas de analistas, a colheita deve somar cerca de 20 milhões de arrobas de fibra em caroço, distribuídas entre 60 mil hectares, aproximadamente. Além da agricultura, atua também com pecuária de corte e mineração.

Na divulgação do balanço do trimestre da SLC Agrícola, o Diretor Financeiro e de Relações com Investidores da empresa, Ivo Brum, destacou, nos resultados obtidos no período, o crescimento de safras, de receitas e aquisições. Paralelamente a isso, chamou a atenção para os negócios da empresa na agricultura regenerativa.

Segundo o executivo, a SLC se consolidou como a empresa com maior área de agricultura regenerativa certificada nas Américas, com 181 mil hectares reconhecidos pelo padrão internacional “Regenagri”. A empresa possui área cultivada superior a 650 mil hectares, considerando todas as áreas cultivadas.

Fazendas certificadas em MS - Em Mato Grosso do Sul, a SLC Agrícola possui duas unidades de produção com a certificação internacional, focadas em soja e algodão. Uma delas é a Fazenda Planalto, em Costa Rica (MS), com área plantada de 21.953 hectares e 148 hectares destinados à pesquisa. A outra é a Fazenda Pantanal, em Chapadão do Sul (acesso pela rodovia BR-060), com área plantada de 44.772 hectares, sendo 124,26 hectares dedicados à pesquisa, segundo dados institucionais. Além dessas, a empresa conta com outras fazendas certificadas: Pamplona (GO), Palmares (BA), Planeste (MA) e Planorte (MT).

Pelas estimativas recentes do Boston Consulting Group (BCG), o Cerrado brasileiro – o segundo bioma do país –, pode se tornar o maior produtor de agricultura regenerativa do Brasil gerando até US$ 100 bilhões (R$ 560,81 bilhões) em valor econômico e impulsionando o PIB brasileiro em US$ 20 bilhões anuais até 2050. O estudo contou com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Conforme o estudo, o crescimento de 71% na conversão de áreas do Cerrado para uso agrícola entre 2019 e 2023 exige práticas regenerativas no bioma, o que também representa oportunidades de negócio. Segundo o BCG, 32,3 milhões de hectares apresentam potencial para agricultura regenerativa no cerrado: 23,7 milhões para recuperação de pastagens degradadas e 8,6 milhões para intensificação sustentável. A aplicação do modelo, no entanto, exigiria investimentos de US$ 55 bilhões (R$ 308,44 bilhões).

Outro estudo, da consultoria americana Spherical Insights, aponta que o mercado global de agricultura regenerativa, avaliado em US$ 7,64 bilhões em 2023 (R$ 42,85 bilhões), deve alcançar US$ 29,27 bilhões até 2033 (R$ 164,15 bilhões), com taxa de crescimento anual de 14,38%.

Família Scheffer investe em MS e quer prática regenerativa em 100% da produção
Equipe verifica resultados das práticas regenerativas e impactos positivos no solo. (Foto: Reprodução)

Parceria com a Andermatt - Outra parceria estratégica do grupo Scheffer, fechada também em 2024, se deu com a Andermatt Brasil, especializada em insumos biológicos agrícolas, para produção de bioinsumos na fábrica da Scheffer, em Sapezal (MT). O objetivo é ampliar a capacidade de atendimento às demandas dos produtores brasileiros.

Com sede em Curitiba (PR), a empresa de origem alemã tem escritório em Londrina (PR), fábrica em Joinville (SC) e presença comercial em 15 estados, entre eles Mato Grosso do Sul, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão e Mato Grosso.

O Grupo Scheffer conta com mais de 2.500 colaboradores, segundo dados institucionais. A empresa não divulga o valor exato de investimentos realizados em ciência, em laboratórios e infraestrutura especializada em bioinsumos, fatores que são um diferencial competitivo. O grupo investe ainda em acordos com institutos de pesquisa e com a Embrapa, além de desenvolver produtos biológicos para controle de pragas, aproveitando o clima agrícola favorável do país.

Na Colômbia, onde também atua fortemente, o grupo tem cultivado soja e milho, já que o excesso de chuvas e a altitude têm inviabilizado a produção de algodão.

O uso de agrotóxicos é criterioso e baseado em tecnologia. Um equipamento inovador permite aplicar herbicida de forma pontual, apenas quando necessário, reduzindo em até 90% o uso do produto, a depender da safra. Segundo o pesquisador Autieres Farias, da Lucrativa Consultoria, que treina profissionais do grupo, essa tecnologia reduz o custo de produção de forma significativa.

“Reduzimos o uso de agrotóxicos e tentamos colher mais com menos. Quando buscamos sustentabilidade, qualidade e equilíbrio no sistema, é possível obter retorno de 30%, 40%, até 50%, com a redução do uso de defensivos.”

Além disso, a família Scheffer investe grande parte dos lucros todos os anos no aprimoramento de processos, capacitação e integração das equipes, conforme divulgado no perfil oficial da empresa no Instagram.

“Hoje, o que muda de uma fazenda para outra é o investimento em pessoal. Os produtos são os mesmos; o que muda é o investimento humano. As empresas entenderam isso e têm feito um trabalho brilhante, com retorno econômico e reconhecimento nacional e internacional.”

 O pesquisador analisou o estudo do BCG sobre o potencial do Cerrado e concluiu que alcançar os US$ 100 bilhões na agricultura regenerativa depende de investimentos robustos em pesquisa, qualificação e políticas públicas.

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