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Meio Ambiente

Família de tuiuiús com 3 filhotes segue crescendo com saúde em ninho artificial

Ninho artificial, construído com tecnologia da Energisa, faz tuiuiús reocuparem área tombada

Por Gabriela Couto | 30/11/2023 13:45
Casal de tuiuiús com seus quatro filhotes crescendo no primeiro ninho artificial para a espécie no Pantanal (Foto: Energisa)
Casal de tuiuiús com seus quatro filhotes crescendo no primeiro ninho artificial para a espécie no Pantanal (Foto: Energisa)

O ninho artificial de tuiuiús, ave símbolo do Pantanal, localizado às margens da BR-262, se consolidou como um sucesso. Os três filhotes desta primeira reocupação da área tombada estão crescendo com muita saúde.

Em 2020, uma série de queimadas destruiu 4,5 milhões de hectares do bioma, consumindo a vegetação e desalojando a fauna pantaneira. A tragédia sem precedentes acertou em cheio uma das mais famosas casas dos tuiuiús.

Por ser tão famoso, o ninho e o ipê eram pontos turísticos da região, tombados como patrimônio histórico de Corumbá. A destruição de toda essa área pelo fogo deixou os tuiuiús sem ninho e os moradores locais desolados.

Para tentar resgatar as aves que moravam no local, Rodolfo Pinheiro, gerente de construção e manutenção na Energisa Mato Grosso do Sul, participou da construção do ninho artificial. Nascido em Corumbá, Rodolfo viu o famoso ninho dos tuiuiús ainda criança. Ele guarda na memória quando a família, saindo ou voltando de férias, parava às margens da rodovia para admirar e fotografar o voo e os pousos dos pássaros no alto ninho.

Momento da implantação do ninho artificial, após a passagem do fogo (Foto: Energisa)
Momento da implantação do ninho artificial, após a passagem do fogo (Foto: Energisa)

Quando o ipê que servia de casa para os tuiuiús queimou, a tristeza foi geral. Rodolfo não poderia imaginar que faria parte do time que traria as aves de volta. A ideia veio através do pesquisador Walfrido Tomás, da Embrapa Pantanal, e da pesquisadora Neiva Guedes, do Instituto Arara Azul: criar um ninho artificial, da mesma forma como é feito na Europa com as cegonhas, que são aves da mesma família dos tuiuiús.

O contato com Rodolfo e a Energisa se deu por conta da tecnologia de construção de altas torres e de estruturas metálicas, que poderiam colocar o ninho na altura certa para os pássaros se readaptarem.

“Quando teve a queimada, a gente ficou muito consternado, foi muito triste.  Para mim, pessoalmente, e para as pessoas que conhecem. Quando eles vieram falar comigo, eu pensei, “é muita loucura isso”, porque eu estava como gerente do departamento de construção e manutenção e caiu na minha mão (junto com o meu time, óbvio) um negócio que se relacionava com meu tempo de moleque, que eu tirava foto e admirava. Ter essa possibilidade de ajudar na restauração foi algo fantástico, uma sorte para mim”, contou Rodolfo.

Funcionários anexando o poste que sustenta o ninho; mesma tecnologia usada para energia (Foto: Energisa)
Funcionários anexando o poste que sustenta o ninho; mesma tecnologia usada para energia (Foto: Energisa)

A tecnologia da Energisa foi fundamental para viabilizar a ideia. Além da alta torre, o time de Rodolfo partiu dos desenhos de Walfrido para construir uma estrutura metálica octogonal em formato de taça, que serviria de apoio para os pássaros e seu ninho.

Como alguns postes da Energisa no Pantanal já são ocupados por ninhos de aves, a equipe sabia que o material era seguro para abrigar os tuiuiús. Apesar de próximo à rodovia, o local era de difícil acesso por conta de um barranco.

Sem auxílio de caminhão, trator ou escavadeira, a furação e fixação do poste foi toda feita manualmente pelo time da Energisa. Sempre com a supervisão da Embrapa, o poste foi colocado no local e a uma altura próxima daquela do ninho original.

A instalação do ninho foi concluída em 2020 e chegou a ser notícia nacional. Mas aí veio a ansiedade: será que algum tuiuiú iria regressar? Será que escolheriam aquela estranha estrutura metálica para voltar a construir seu ninho ao lado da rodovia, naquela área já tombada pelo patrimônio histórico?

Em pouco tempo, os técnicos da Energisa fotografaram a volta dos tuiuiús. A ave símbolo do Pantanal voltava a ocupar o seu lugar, adotando o ninho artificial com vista panorâmica para a maior planície alagável do planeta. Uma enorme emoção para todos os envolvidos no projeto.

Momento que os funcionários da Energisa colocam ganhos para formar o ninho de tuiuiús (Foto: Energisa)
Momento que os funcionários da Energisa colocam ganhos para formar o ninho de tuiuiús (Foto: Energisa)

“É um momento muito gratificante! Conseguimos confeccionar o ninho que antigamente ficava ali na piúva e foi queimado nas queimadas do ano passado. Está aqui, missão cumprida! O casal de tuiuiús aceitou o ninho artificial”, comemora Emerson Leite, técnico de redes e linhas da Energisa MS.

Além do regresso das aves, outro enorme feito foi confirmado no dia 8 outubro de 2023. Pela primeira vez, filhotes de tuiuiú nasceram em um ninho artificial. Avistados por biólogos da Birdwatch no Pantanal, o acontecimento torna o projeto um sucesso completo e mostra como a união de políticas ambientais, boas ideias, investimento e tecnologia pode fazer a vida renascer em áreas afetadas pelo fogo ou pela ação humana.

“Foi muito importante ver a volta dos tuiuiús e a reprodução no ninho artificial. A espécie ocorre do sul dos EUA até o norte da Argentina e esse é um projeto pioneiro que passa uma grande mensagem sobre o impacto ambiental de ações humanas equivocadas. E também serve como um monumento, tanto para lembrarmos dos nossos erros como para mostrar a resiliência da natureza e como ações humanas conjuntas e acertadas podem trazer impacto positivo”, reflete Walfrido.

Estrutura foi montada com auxílio de pesquisadores que entendem de aves para chegar no projeto final que foi implantado (Foto: Energisa)
Estrutura foi montada com auxílio de pesquisadores que entendem de aves para chegar no projeto final que foi implantado (Foto: Energisa)

A construção do ninho também envolveu toda a sociedade e a comunidade local. Um grupo de Facebook foi criado, em que turistas e moradores postavam fotos para ajudar a monitorar a ambientação dos pássaros ao ninho.

“Envolvemos a sociedade através do que chamamos de ciência cidadã, quando a comunidade municia os pesquisadores com fotos e relatos sobre um determinado acontecimento. O ninho original nunca falhou em reproduzir novos tuiuiús. Um ano antes do incêndio, cinco novas aves haviam nascido. Por conta da seca em 2021 e 2022, os tuiuiús não se reproduziram. Então, ver em 2023 que o ninho artificial é capaz de abrigar e dar espaço para a reprodução das aves é algo maravilhoso”, emociona-se Walfrido.

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