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Meio Ambiente

Guerra entre tatus e apicultores termina em paz e com certificado de proteção

Trabalho conjunto entre entidade e apicultores encontrou equilíbrio e encerrou conflito cujo animal era vilão

Lucia Morel | 21/04/2022 07:41



Um conflito que acabou em paz entre tatus, abelhas e apicultores. Os primeiros, sem alimento suficiente no Cerrado de Mato Grosso do Sul, descobriram que podiam se alimentar das larvas das segundas nas colmeias de apiários. Já os produtores amargavam prejuízos que estavam se estendendo e não havia uma saída equilibrada.

A partir de 2018, o trabalho de preservação do tatu-canastra feito pela Icas (Instituto de Conservação de Animais Silvestres) encontrou apicultores desesperados porque estavam perdendo suas produções de mel diante dos ataques noturnos dos tatus. De 178 áreas mapeadas pelo instituto na época, 73% havia tido prejuízos.

Atualmente, trabalho conjunto entre a entidade e apicultores encontrou o equilíbrio e encerrou a guerra que tinha o tatu-canastra como vilão. Com ações de mitigação, que protegem as colmeias do ataque, é possível previnir 100% das perdas. Isso, sem precisar matar o tatu, que é passível de extinção e sem causar perdas aos produtores.

O tatu-canastra é a maior espécie de tatu existente, mas devido sua reprodução lenta, é um dos animais cuja extinção seria fácil. (Foto: Icas)
O tatu-canastra é a maior espécie de tatu existente, mas devido sua reprodução lenta, é um dos animais cuja extinção seria fácil. (Foto: Icas)

Adriano Adames de Souza, de 53 anos, é apicultor há 30 anos e depois de instalar as barreiras de proteção, conseguiu evitar 100% das perdas. “Eu uso cerca eletrica e tela e consegui evitar 100% dos ataques, zerou o problema”, sustentou.

Do Icas, o zoólogo Arnaud Desbiez explica que o foco era a preservação do tatu-canastra, mas ao descobrir o prejuízo aos apicultores, foi preciso achar o equilíbrio que evitasse as perdas e também, a morte dos animais, já que os produtores, muitas vezes, recorriam a isso para protegerem as colmeias.

Colmeias protegidas com tela em apiário. (Foto: Adriano Adames)
Colmeias protegidas com tela em apiário. (Foto: Adriano Adames)

Selo – com a proteção às colmeias adequada, o próximo passo era manter a proteção aos tatus, foco do instituto. Assim, foi criado o selo “Produtor amigo do tatu-canastra”, certificação que a entidade oferece ao apicultor que adota boas práticas para a conservação do animal.

Já são cerca de 40 produtores em MS certificados ou em fase de, segundo Arnaud. “O selo indica que protege o Cerrado e o tatu. Criamos o selo com parceiros internacionais e são várias normas que o produtor deve seguir, como restrições ao fumegador, por exemplo”, afirma o zoólogo.

Adriano foi o primeiro apicultor certificado no Estado e conta que isso agrega valor ao produto, além de garantir a preservação da natureza. “Somos o único a ter o selo de proteção ao tatu-canastra no Brasil e podemos ter um valor melhor por conta disso”, avalia, comentando ainda que há credibilidade quando a produção envolve preservação.

A ideia do instituto é certificar todos os apicultores de Mato Grosso do Sul e então expandir o projeto para outros estados e até países onde riscos à apicultura já foram identificados, como Minas Gerais, Goiás, Argentina e Colômbia.

Tatu-canastra – é a maior espécie de tatu existente, mas devido sua reprodução lenta, é um dos animais cuja extinção seria fácil, caso não haja preservação. Ele pesa até 50 quilos e mede 1,60 metro do focinho até a ponta da cauda. Eles vivem cerca de 20 anos.

Colmeia destruída pelo animal. (Foto: Icas)
Colmeia destruída pelo animal. (Foto: Icas)

Dados do Icas mostram que após uma gestação de cinco meses, a fêmea tem apenas um filhote, que permanecerá com elaãe por mais de dois anos. “Isso torna muito baixa a taxa de reprodução da espécie: contando a gestação e o período de cuidados, a estimativa é de um filhote a cada 3 anos para cada fêmea. E elas só chegam à maturidade sexual em torno dos 7 anos de idade”.

De hábitos noturnos, seus principais alimentos são formigas e cupins, mas com a devastação do Cerrado para abertura de pasto, essas fontes foram reduzidas e ele acabou descobrindo as colmeias. Segundo Arnaud, apesar de agora as larvas de abelha não serem mais uma opção, não há risco dos tatus morrerem de fome, já que frutas também podem ser incluídas em seu cardápio.

Quer conhecer mais sobre o projeto? Clique aqui.

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