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Meio Ambiente

MS-040 tira região do isolamento, mas vira "rodovia da morte" dos bichos

Viviane Oliveira e Leonardo Rocha | 17/04/2015 08:18
Tamanduá-bandeira morreu atropelado na rodovia. (Foto: Marcelo Calazans)
Tamanduá-bandeira morreu atropelado na rodovia. (Foto: Marcelo Calazans)
Anta às margens da rodovia. No asfalto, é possível ver as marcas de frenagem. (Foto: Marcelo Calazans)
Anta às margens da rodovia. No asfalto, é possível ver as marcas de frenagem. (Foto: Marcelo Calazans)

Não precisa andar muito para encontrar animais mortos atropelados às margens da MS-040, rodovia recém-inaugurada, que liga Campo Grande a Santa Rita do Pardo. Em alguns trechos, dos 209 quilômetros de asfalto construídos, há placas indicando a travessia de animais silvestres, no entanto, acidentes envolvendo bichos são constantes e a principal causa, na maioria das vezes, está associada a alta velocidade. As vítimas são tatus, antas, lobinhos, capivaras e mutuns; além do tamanduá-bandeira, que está na lista de animais em extinção.

Em janeiro deste ano, uma mulher morreu e dois homens ficaram feridos após o carro de passeio em que os três estavam colidir contra uma anta de aproximadamente 200 quilos e capotar na MS-040. Apesar de não ter acostamento, a via é bem sinalizada e o asfalto foi muito esperado pelos moradores da região e por quem precisa passar pelo local diariamente como a professora de matemática, Regina Pecantet Mota, 48 anos, que mora em Campo Grande, e dá aula em uma escola rural, a beira da rodovia.

A pista é nova e ainda não tem muito movimento, mas os motoristas pisam forte no acelerador e quem não conhece a região corre o risco de se envolver em acidente com animal. “Aqui precisa com urgência de radares para controlar a velocidade dos veículos, evitar acidentes e atropelamentos de bichos, porque a tendência dá qui para frente é aumentar o tráfego, principalmente de caminhões”, destaca. A professora diz ainda que quando está na estrada procura manter a velocidade controlada e a atenção redobrada.

Em menos de 75 quilômetros da rodovia, a equipe de reportagem do Campo Grande News encontrou dois tamanduás mortos. O bicho é um dos animais que corre risco de extinção, de acordo com uma lista que foi apresentada no ano passado durante a solenidade do Dia Internacional da Biodiversidade, em Brasília.

Professora Regina mora em Campo Grande. Ela pega a estrada toda terça-feira para dar aula em uma escola rural. (Foto: Marcelo Calazans)
Professora Regina mora em Campo Grande. Ela pega a estrada toda terça-feira para dar aula em uma escola rural. (Foto: Marcelo Calazans)
Professora Cleide comemora a obra de pavimentação, mas ao mesmo tempo lamenta que tantos animais estejam morrendo na via. (Foto: Marcelo Calazans)
Professora Cleide comemora a obra de pavimentação, mas ao mesmo tempo lamenta que tantos animais estejam morrendo na via. (Foto: Marcelo Calazans)

Compartilha da mesma opinião a professora Cleide Camila de Araújo, 53 anos. Ela leciona na escola há 11 anos e por causa da estrada ruim passou a morar na região. “Na sexta-feira à noite vou para a minha casa em Campo Grande e retorno no domingo. Antes, quando chovia e era estrada de chão, a gente ficava até 15 dias ilhado. Hoje, com o asfalto melhorou muito, mas alguns ajustes ainda precisam ser feitos na via, principalmente para evitar que os aminais continuem morrendo”, diz.

Cleide relembra que quando caminhava na estrada era comum encontrar os animais passando de um lado para outro. "Eles convivem harmoniosamente com os moradores. Aqui na escola vive o Jacinto, um tatu, que é o xodó das crianças”, conta.

Por ter sido recentemente asfaltada, não há nenhum estabelecimento comercial em toda a extensão da MS-040. “Direto tem gente pedindo socorro na via. Aqui não tem nada e sem acostamento o motorista acaba correndo risco ao parar na pista. Outra coisa que não funciona bem é o sinal de celular”, reclama a cozinheira Solange Benites, 27 anos. Ela mora há 15 anos em uma carvoaria às margens da rodovia.

A obra, que foi inaugurada em dezembro do ano passado, resolveu um antigo problema da região, onde só existia um estreito caminho de terreno arenoso, de tráfego difícil e praticamente inviável para o deslocamento de veículos pequenos ou mesmo o transporte da produção agropecuária.

A nova via asfaltada faz uma ligação direta do município da região leste até Campo Grande, o que deve facilitar a vida daqueles que antes precisavam dar volta via Bataguassu, percorrendo um trecho mais longo e de muito tráfego pelas BRs 267 e 163. O trecho pavimentado da rodovia MS-040 interliga os municípios de Campo Grande a Santa Rita do Pardo, passando pelo município de Ribas do Rio Pardo.

Em alguns trechos, dos 209 quilômetros de asfalto, há placas indicando a travessia de animais silvestres. (Foto: Marcelo Calazans)
Em alguns trechos, dos 209 quilômetros de asfalto, há placas indicando a travessia de animais silvestres. (Foto: Marcelo Calazans)

Direção defensiva - O comandante da PRE (Polícia Militar Rodoviária), coronel Valdir Ribeiro Acosta, diz que a polícia começou a fazer blitz com radar móvel e vai solicitar ao órgão competente que seja implantado radar fixo, principalmente nos pontos em que animais estão morrendo.

A primeira coisa que deve ser respeitada por qualquer motorista é a velocidade permitida para a via, que é de até 80 km/h. Sendo assim, explica o comandante, se o condutor seguir a sinalização vai conseguir fazer a direção defensiva, como evitar atropelamento de animais, capotar o veículo em caso de estourar um dos pneus, mesmo sendo pego de surpresa. “Dia desses, em fiscalização em um dos trechos da MS-040, flagramos um motorista que estava em torno de 150 km/h. Ele foi autuado e multado conforme manda a legislação”, alerta.

O condutor também não deve viajar cansado e muito menos à noite se não conhecer a estrada. “A tendência é que o fluxo de veículo aumente cada vez mais”, diz o comandante. Ele acrescenta ainda que a partir do momento que o local começar a ganhar visibilidade, os empresários vão investir em postos de combustíveis, restaurantes, hotéis e borracharias na via.

Segundo o secretário estadual de infraestrutura, Ednei Marcelo Miglioli, o governo deve informar aos motoristas por meio de processo educativo que a estrada não tinha tráfego de veículos e os animais são acostumados a transitar no local. Em um segundo momento, observa o secretário, é fazer mapeamento dos trechos para que sejam sinalizados e até um estudo com intuito de diminuir acidentes envolvendo bichos. “Os motoristas precisam se adaptar com a questão da fauna, que é muito forte em nosso Estado”, diz.

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