Com MS à frente, direita mira Senado por impeachment de ministro do STF em 2026
O rearranjo que resultou na fusão entre PSDB e Podemos, além da federação entre PP e União Brasil, conferiu uma posição privilegiada ao centro-direita de Mato Grosso do Sul nas eleições do próximo ano. Com essas mesmas forças unidas em torno da recandidatura do governador Eduardo Riedel, a disputa mais acirrada será pelas duas vagas que se abrirão no Senado.
RESUMO
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A direita política em Mato Grosso do Sul mira as eleições para o Senado em 2026 como parte de uma estratégia nacional para confrontar o Supremo Tribunal Federal (STF). A principal meta é eleger senadores alinhados com a pauta bolsonarista para pressionar pela abertura de processos de impeachment contra ministros do STF, principalmente Alexandre de Moraes. Para isso, partidos como PL, União Brasil e PP articulam candidaturas conjuntas e buscam ampliar sua representatividade na Casa. O foco na eleição para o Senado reflete a importância da Casa na indicação e julgamento de ministros do STF. A direita busca atingir dois terços das cadeiras para influenciar decisões políticas e promover reformas. Enquanto isso, o governo Lula e o próprio STF demonstram preocupação com o movimento e articulam estratégias para evitar o que consideram uma ameaça à estabilidade institucional. A disputa pelas vagas no Senado em Mato Grosso do Sul promete ser acirrada, com diversos nomes já se apresentando como pré-candidatos, incluindo Reinaldo Azambuja, Giane Nogueira e Luiz Ovando.
Juntas às outras 52 em disputa nos demais estados, essas cadeiras representam os cargos mais cobiçados pela direita e extrema-direita dentro da estratégia nacional de confronto prolongado com o Supremo Tribunal Federal (STF).
O deputado Luiz Ovando (PP), pré-candidato a uma dessas vagas, resume o pano de fundo da disputa: “Tenho dito e insistido que, na eleição de 2026, o mais importante será o cargo de senador. Precisamos escolher muito bem o Senado. Por quê? Porque precisamos retomar o ordenamento jurídico deste país, que infelizmente foi jogado na lata do lixo pelo STF.”
“Ordenamento jurídico” é um eufemismo. O objetivo da direita ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro é pressionar a próxima Mesa Diretora do Senado — que assumirá em fevereiro de 2027 — para colocar em pauta um dos cerca de 60 pedidos de impeachment contra ministros do STF.
O principal alvo é, naturalmente, Alexandre de Moraes, relator do processo que julga a tentativa de golpe de 2022, além de diversos inquéritos que tramitam entre a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República desde 2019. Atualmente, acumulam-se pedidos contra oito ministros; apenas Kassio Nunes Marques, André Mendonça (ambos indicados por Bolsonaro) e Cristiano Zanin (nomeado por Lula) ficam de fora.
Entre 2023 e 2024, os atritos com o STF serviram como ensaio para um confronto mais direto. As forças do centro-direita concentraram críticas, inicialmente, na promulgação da Lei do Marco Temporal e, mais recentemente, na tentativa de impor uma anistia antes mesmo da conclusão dos julgamentos dos envolvidos em ataques e atos antidemocráticos. Tanto o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quanto seu sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB), deixaram os pedidos de impeachment fora da pauta. O mesmo ocorreu no Senado, com o ex-presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e, mais recentemente, com Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Assim, anistia e processos de impeachment contra ministros do STF devem permanecer engavetados ou em “banho-maria” até a próxima legislatura. Para o bolsonarismo, essa é a grande carta de 2026 — uma espécie de Cavalo de Troia.
“O PL está puxando a direita para uma crise institucional dentro das regras constitucionais. O impeachment de ministro do STF será compromisso de campanha e estará nos palanques no ano que vem. Já há uma luz vermelha acesa no governo e no Supremo. Pode vir uma tsunami por aí”, avalia Leonardo Barreto, cientista político da Universidade de Brasília (UnB).

Segundo ele, já são visíveis os esforços do governo e do Judiciário para tentar uma blindagem. Barreto lembra que, dias atrás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nos bastidores, que trocaria a eleição de cinco governadores pela de um único senador — evidenciando o temor das chamadas “pautas-bomba”, como o impeachment no STF. O líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues (PT-AP), passou a defender uma reforma política com redução de vagas no Congresso.
Indagado informalmente por um interlocutor sobre sua meta ao assumir a presidência do STF em setembro, o ministro Edson Fachin foi direto: “Evitar o impeachment de um ministro do STF.” Os movimentos no governo e no judiciário indicam, como se vê, que impeachment ronda Executivo e Legislativo e tem potencial para ferir o equilíbrio entre os poderes.
A direita investe pesado na eleição para o Senado. O objetivo é exercer pressão suficiente sobre o futuro presidente da Casa para que coloque o impeachment em pauta — ou, no mínimo, force uma negociação política favorável à direita e ao ex-presidente Bolsonaro.
Como apenas o Senado tem prerrogativa para aprovar a indicação ou julgar um ministro do STF, é nessa Casa que a direita travará sua guerra. O plano é conquistar dois terços da Casa, propor reformas e provocar mudanças profundas que a ela interessem.
O PL, sob a liderança de Valdemar Costa Neto, quer capitalizar o avanço de 2022 — quando, mesmo com a derrota presidencial de Bolsonaro, elegeu a maior bancada no Congresso. Dos 27 novos senadores naquele ano, o PL elegeu 8; o União Brasil, 5; o PP, 3; o PSD e o Republicanos, 2 cada; e o PSC, 1. O PT, com 4, junto aos aliados PSB e MDB, totalizam apenas pouco mais de um quinto dos parlamentares com mandato até 2030 — entre eles, a senadora Tereza Cristina, com ampla influência no MS e força suficiente para dividir a direita caso decida disputar o governo em 2026.
Queridinha do agro e da elite política, Tereza Cristina tem resistido ao assédio e promete apoiar Riedel. O centro-direita, que já impôs derrotas ao governo e ao STF no Congresso, controla hoje 21 dos 27 senadores que não disputarão reeleição no próximo ano — todos favoráveis à restrição do poder do STF.
A meta da direita é manter essa proporção entre os 54 novos senadores a serem eleitos e, paralelamente, pressionar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para que assuma a candidatura presidencial contra Lula — movimento que ainda deve gerar muitas emoções.
Os acordos firmados a partir da fusão e da federação entre partidos não favorecem a ministra do Planejamento, Simone Tebet, que deseja retornar ao Senado, mas não conta com apoio nem do MDB nem do PT no estado. Também em desvantagem está a senadora Soraya Thronicke, que perdeu protagonismo após o entendimento entre Renata Abreu (Podemos) e Marconi Perillo (PSDB). No ninho tucano, o esforço agora é eleger o ex-governador Reinaldo Azambuja.
O segundo nome ao Senado, pela composição PSDB/Podemos e PL, está sendo definido. Segundo o presidente regional do PL, Aparecido “Tenente” Portela: “O PL decidiu apoiar a reeleição de Eduardo Riedel ao governo de Mato Grosso do Sul e, como primeiro candidato ao Senado, Reinaldo Azambuja. A segunda vaga será definida pelo grupo, com a provável candidatura de Giane Nogueira”, disse ele ao Campo Grande News.
Giane, vice-prefeita de Dourados e esposa do deputado federal Rodolfo Nogueira (PL), tem o apoio de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle. Ela participou do ato promovido pelo PL em 6 de abril na Avenida Paulista, em São Paulo, onde posou ao lado do ex-presidente. Na segunda-feira, passou por uma cirurgia e, segundo os médicos, se recupera bem.
Tenente Portela reforça que o foco do PL no estado são as candidaturas de Reinaldo e Giane, mas o partido ainda aguarda desdobramentos políticos para avaliar outras possibilidades. Portela, que é primeiro suplente de Tereza Cristina, chegou a ser indiciado pela Polícia Federal no inquérito sobre a tentativa de golpe e ainda será avaliado pela Procuradoria-Geral da República.
No PSDB e no Podemos, o desafio é acomodar Soraya Thronicke, que deseja a reeleição ao Senado, mas pode ser orientada a disputar uma vaga na Câmara — ainda que as dificuldades sejam semelhantes, dado o excesso de pré-candidatos. Pelo tabuleiro atual das forças dominantes no Estado, Soraya e o senador Nelsinho Trad (PSD) terão de lutar muito para garantir a reeleição.
Além de Simone, Reinaldo e Ovando, já manifestaram interesse em disputar o Senado: Gerson Claro (presidente da Assembleia Legislativa), o secretário de Infraestrutura de Campo Grande, Marcelo Miglioli, e o deputado Vander Loubet (PT). Outros partidos como PL, PSD, PSB e Republicanos também podem lançar nomes.
O deputado Geraldo Resende (PSDB) também deseja concorrer ao Senado, mas aguarda a definição de Reinaldo Azambuja. Por ora, os ventos sopram a favor do PSDB e da nova União Progressista (UMP): o PSDB tem 44 prefeituras, três deputados federais e seis estaduais; o União Progressistas, embora mais frágil, conta com Tereza Cristina, um deputado federal, dois estaduais e 16 prefeituras. Em terceiro, o MDB de Simone soma 10 prefeituras e três deputados estaduais — estrutura modesta para uma disputa majoritária.