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Política

Comunista derrota petista e impõe estilo ligth na luta pela reforma agrária

Zana Zaidan | 26/10/2013 10:00
Valdinir Oliveira assume a Fetagri depois de 20 anos de hegemonia no Estado (Foto: Divulgação)
Valdinir Oliveira assume a Fetagri depois de 20 anos de hegemonia no Estado (Foto: Divulgação)

Depois de duas décadas comandada pelo mesmo presidente, surge um novo nome na Fetagri (Federação dos Trabalhadores da Agricultura) de Mato Grosso do Sul: sai Geraldo Teixeira de Almeida, entra Valdinir Nobre de Oliveira, empossado presidente na sexta-feira (18). A promessa é de mudança nos rumos da reforma agrária no Estado e uma guinada em uma gestão após 20 anos.

A vitória de Valdinir foi inesperada, já que a expectativa era que Geraldo mantivesse a hegemonia no cargo. O presidente eleito era aliado da então diretoria e, inclusive, foi diretor da entidade em três mandatos consecutivos de Geraldo, de 1997 a 2009. Naquele ano, aconteceu o rompimento oficial, com o lançamento de chapa própria de Valdinir para a presidência.

O resultado foi desfavorável no pleito anterior, mas, entre polêmicas e acusações, agora Valdinir foi eleito para presidir a Fetagri pelos próximos quatro anos com 47% dos votos, e tem como desafio a luta para tirar do papel a reforma agrária que há mais de três anos não assenta uma única família no Estado. São 17 mil famílias acampadas aguardando a concessão de um lote.

Segundo Valdinir, nos últimos 20 anos a entidade sofreu com a “centralização” de Geraldo Teixeira, apontada como pivô da morosidade do processo. “Ele ficou por muito tempo, e adotou um mesmo sistema de trabalho. O que queremos agora é renovar o modelo, torná-lo mais democrático, já que o movimento em prol da terra não pode se restringir somente à figura do presidente. Vamos começar pela base: ouvir primeiro os assentados, passar pelos prefeitos de cada município e pelo Incra. Juntos, vamos levantar as deficiências das famílias em relação à saúde, transporte, e chegar até o governo do Estado”, antecipa Valdinir sobre a proposta de modelo de gestão.

Na cerimônia de posse do novo presidente estiveram presentes o governador André Puccinelli (PMDB), a secretária de Produção, Tereza Cristina, o presidente da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS), Eduardo Riedel e o vice do Sindicato Rural de Campo Grande, Rodolfo de Carvalho, entre outras autoridades que representam o agronegócio no Estado. Até então, o governador nunca havia comparecido na posse da direção da Fetagri.

Geraldo de Almeida aponta 20 anos positivos à frente da entidade que representa os agricultores (Foto: Arquivo)
Geraldo de Almeida aponta 20 anos positivos à frente da entidade que representa os agricultores (Foto: Arquivo)

Áreas desapropriadas – Geraldo não compareceu para repassar a cadeira de presidente da entidade ao novo gestor. A principal diferença dos ex-companheiros de luta sindical é o modelo de concessão dos lotes – enquanto Valdenir é militante das desapropriações de terras protocoladas pelo Incra/MS (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Geraldo era terminantemente contra.

“Lidamos com muita corrupção, uma facilitação de lideranças, que perceberam que era fácil demais dar terra para quem não deveria estar lá. Foi quando comecei a brigar por mudanças e decidi que deveria tomar a frente. O que estamos vendo agora é o resultado disso, a Justiça apurando quem precisa ficar e quem merece sair”, comenta sobre uma operação da Polícia Federal que, em 2009, desarticulou um esquema de compra e venda de terras que seriam voltadas a reforma agrária. Desde então, o Incra adotou como medida não assentar nenhuma família.

Valdinir aponta como meta o Incra assentar, pelo menos, 3 mil famílias por ano até o fim de sua gestão, e acredita que as ações de reintegração de posse facilitarão o processo. “A Fetagri tem (uma lista de) 500 mil hectares de áreas prontas, que estão improdutivas ou podem ser compradas dos proprietários por um preço justo, prontas para serem indicadas ao Incra. Algumas delas já estão com processo de desapropriação bem adiantado, em Nova Andradina e Ponta Porã, por exemplo”, acrescenta Valdinir.

20 anos “positivos” – Geraldo alega que não pôde participar da posse por ter participado de assembléia de prestação de contas do quatriênio anterior, que teve início às 13h30 do dia 18. Segundo o ex-presidente, os 20 anos à frente da entidade foram “muito positivos”. “Quando assumi, a Fetagri não tinha mais que 20 assentamentos, e era um tempo em que o Incra assentava famílias. Fechei meu trabalho com mais de 100 famílias assentadas. Agora é que existe esse impasse jurídico e quem sai prejudicado é o trabalhador, que fica sem terra para plantar”, rebate.

Para ele, a entidade foi amparada pelo governo do Estado durante a gestão Zeca (1999 – 2006). “O governador foi convidado pela Fetagri para minha posse, por exemplo, mas nunca aceitou o convite. Acredito que é porque estou do lado do trabalhador, assim como o Zeca”, comenta Geraldo sobre o fato de Zeca ser do PT, partido que também é filiado.

Perfil - Valdinir tem 44 anos e é natural de Nova Andradina, a 300 quilômetros de Campo Grande, onde morava com os pais no assentamento Casa Verde. A militância no movimento sindical teve início em 1992. Em 1997, Valdinir foi convidado para assumir o cargo de Diretor de Políticas Sociais da Fetagri e, por isso, veio para Campo Grande com a esposa e os três filhos de 20, 16 e 13 anos.

Desde então, Valdinir vive com a família no assentamento Conquista, onde, em 17 hectares de terra, trabalha com pecuária de leite. "Agora é cumprir oito horas de expediente na federação, e deixar que meus filhos e minha mulher tomem conta da nossa propriedade”, diz.

Valdinir é filiado do PC do B (Partido Comunista do Brasil) há 15 anos, mas a passagem pela política foi momentânea. Em 1996, disputou o cargo de vereador pelo partido em Nova Andradina, onde o número de votos foi inexpressivo – 103 entre 16.553 votos válidos. “Faltou maturidade para o cargo, era pouco experiente. Hoje tenho outra visão, acumulei conhecimento, estou em uma situação mais favorável”, acredita.

Ainda assim, a hipótese de concorrer a um cargo na administração pública é descartada pelo sindicalista. “Pelos próximos oito anos, está descartado. Planejo fazer um trabalho dentro da Fetagri, e para conseguir cumprir o plano, é desse tempo que preciso”, finaliza.

Governador André Puccinelli, durante posse da nova diretoria da Fetagri, na sexta-feira (Foto: Divulgação)
Governador André Puccinelli, durante posse da nova diretoria da Fetagri, na sexta-feira (Foto: Divulgação)
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