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Política

Endividada, Santa Casa troca genérico por medicamento 12 vezes mais caro

Jéssica Benitez | 10/06/2013 18:56
Presidente da ABCG é o primeiro a ser ouvido pela CPI da Saúde (Foto: Cleber Gellio)
Presidente da ABCG é o primeiro a ser ouvido pela CPI da Saúde (Foto: Cleber Gellio)

A primeira audiência feita pela CPI da Saúde, instalada na Assembleia Legislativa, teve a participação do presidente da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande) mantenedora da Santa Casa, Wilson Teslenco. Entre as revelações sobre os problemas no maior hospital do Estado ele chamou a atenção dos deputados ao relatar que do dia para noite a junta interventora que estava à frente da unidade hospitalar trocou um medicamento genérico, que custava R$ 40 mil por trimestre, para uma marca 12 vezes mais cara.

“No último dia de administração, 16 de maio deste ano, a junta interventora assinou a troca de um medicamento genérico, com custo de R$ 40 mil a cada três meses, para outro que custava R$ 500 mil por trimestre”, contou. Ele explicou que quando o fato foi constatado pela nova direção do hospital, parte da mercadoria já havia sido entregue.

“Mas consegui impedir que o restante chegasse até nós, salvando R$ 1,6 milhão que seriam pagos pelo produto”, disse. Outra situação detectada pela nova gestão é a supercontratação. Segundo depoimento de Teslenco, muitos servidores do hospital não sabem qual função exercem. Há oito anos o quadro de funcionários apresentava 2 mil colaboradores, hoje esse número subiu para quase 3 mil.

Dentro desta estimativa ainda se inclui a supervalorização dos plantões que chegam a R$ 100 por hora. Além disso, desde outubro do ano passado, tributos federais foram recolhidos, porém deixaram de ser repassados à União acumulando dívida de R$ 18 milhões, somente neste caso. Mesmo sem tal pagamento a despesa da Santa Casa permaneceu a mesma nos primeiros meses de 2013.

Janeiro a receita da unidade foi de R$ 17,6 milhões contra despesa de R$ 22 milhões. Em fevereiro os mesmos R$ 17 milhões entraram, mas as dívidas somaram R$ 20,6 milhões. “Em nenhum momento houve preocupação em reduzir os gastos e somente no ano passado foram cotraídos 78 milhões em dívidas”, avaliou o presidente.

Para ele não só a conta bancária do hospital ficou defasada nos últimos anos, mas também o prédio onde os pacientes são abrigados. “Posso dizer que o imóvel está caindo aos pedaços. Existem ilhas de eficiência no hospital, mas no geral está caindo aos pedaços”, sentenciou ressaltando a situação se estende, ainda, aos aparelhos utilizados.

Antes o equipamento era próprio, mas durante a gestão da junta interventora, quase 100% foram sucateados e outros alugados para que o atendimento não fosse prejudicado. O cenário, porém, não se resume à Capital. A dívida de instituições filantrópicas relacionadas à saúde pública no Brasil chega a R$ 5 bilhões.

“E a Santa Casa não escapou disso”, lamentou. Na opinião de Teslenco a única solução que pode salvar o hospital é começar tudo do zero. “O que foi construído com o dinheiro da sociedade em 80 anos, foi consumido em dívidas nos últimos oito anos. Essa é a herança que recebemos”.

Para finalizar, ele pontuou quatro passos a serem tomados a partir de agora para recuperar a instituição.
Primeiro pagar os R$ 18 milhões em tributos federais atrasados que impedem que a unidade consiga obter a CND (Certidão Negativa de Débitos), documento exigido para repasse de verba federal. Segundo conseguir empréstimo para quitar tais débitos e, por fim, renegociar com o Município e com a União questões relacionadas à prestação de serviços.

CPI – Além da documentação levada por Teslenco à oitiva, com todos os números e dados ditos por ele, os integrantes da comissão parlamentar requisitaram também: O valor total dos repasses de verbas públicas nos últimos anos. Todos os processos de compra que a Santa Casa fez neste período.

Contratualização do hospital. Conta de tributos como água e luz. Relatório sobre a redução de leitos e fechamento da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) também dos últimos anos. Folha de pagamento dos funcionários e contratações ano a ano. E folha de pagamento do quadro de médicos do hospital.

Denúncia - Segundo o presidente da CPI, deputado estadual Amarildo Cruz (PT), dentre as denúncias que chegaram à comissão através do e-mail disponibilizado à população, está o relato de que a Santa Casa, em determinado período, teria virado um verdadeiro “comitê eleitoral”.

“Aqui a pessoa cita nomes de vereadores, deputados federais, prefeitos e tudo mais”, revelou. Todas as informações recebidas serão averiguadas pelos parlamentares, tanto as que chegam pela internet, quanto as que são relatadas pelos depoentes.

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