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Política

Professores superam delegados, médicos e até pastores em candidaturas de 2020

444 professores optaram por declarar o ofício da educação no “nome político”; número de "pastores" chega a 100

Guilherme Correia | 29/09/2020 09:59
Sessão na Câmara de Campo Grande, antes da pandemia, em outubro do ano passado. (Foto: Divulgação)
Sessão na Câmara de Campo Grande, antes da pandemia, em outubro do ano passado. (Foto: Divulgação)

Entre professores e professoras, quase 100% dos municípios de Mato Grosso do Sul acumulam 444 candidatos que optaram por declarar o trabalho educacional no “nome político”, aquele pelo qual o candidato quer ser conhecido. Além disso, 100 "pastores" e ao menos 48 profissionais de segurança também deixam claro o ofício na candidatura.

Apesar disso, na ocupação oficial, nem todos declararam o que é visto no nome eleitoral. Por exemplo, Juvenal Consolaro, de 68 anos, é pecuarista e deve concorrer ao cargo de prefeito pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) em Figueirão, mas pelo nome de “Professor Juvenal”.

Defendendo bandeiras da educação e do setor agrícola, Juvenal explica ao Campo Grande News que utilizou nome pelo qual é conhecido na cidade, já que lecionou em escola pública por quase 30 anos disciplinas de língua portuguesa, literatura e inglês.

Na década de 1980 comprei um pedacinho de terra, e desde então sou criador de 'umas vaquinhas’, mas sou conhecido assim aqui", justifica.

Na lista de bens declarados pelo candidato, tem casa no valor de R$ 150 mil, "uma gleba de terra de 75 hectares" avaliada em R$ 779.250, rebanho bovino no valor de R$ 200 mil, além de terreno custando R$ 60 mil.

De acordo com o cientista político e professor pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Daniel Estevão, o “nome social” é utilizado já que normalmente é pelo qual as pessoas são conhecidas efetivamente. “Pode ser o mesmo ou não que o nome civil da pessoa. Nos registros eleitorais têm muitos ‘Zé’, ‘Tião’, ‘Tonhão’, que são os apelidos, porque é o nome pelo qual são conhecidos, se coloca lá ‘José da Silva’, talvez os eleitores não saibam quem é”.

A maioria dos municípios do Brasil são de pequeno e médio porte, então provavelmente as pessoas se conhecem, têm relações pessoais mais próximas. Isso ajuda o eleitor, ele vê lá a foto do dono do bar, da quitanda, do vizinho, do amigo, e 'confirma' pelo nome que é conhecido ele, ajuda a criar essa conexão e o leitor a se lembrar do candidato", diz o professor.

Rita Gomes Xavier vai concorrer com o nome de “Professora Rita” pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), mas declara ser empresária em Bonito, distante 140 quilômetros de Campo Grande. A reportagem tentou contato por meio do e-mail divulgado oficialmente, mas não foi respondida até o momento de publicação.

Além dela, outros dois "empresários" utilizam nome político de "professor" - ambos têm bens declarados com valor inferior a R$ 30 mil.

Outros cargos - O número de candidatos a cargos nas Câmara Municipais com “pastor” ou “pastora” nos nomes políticos é o segundo no ranking de apelidos, chega a 92 em Mato Grosso do Sul, quase o triplo do que já era previsto, e número ainda maior do que as últimas eleições municipais no Estado, que registraram 73 candidatos.

Além desses, oito têm abreviação “Pr” no nome, que totalizariam 100 pastores no total. Por fim, nove candidatos foram registrados enquanto “bispos”, 16 "missionários" e nenhum “padre”.

Estevão comenta que a maioria dos "pastores" tem outras ocupações porque não necessariamente vivem da atividade pastoral. Por se tratar de uma vertente sem uma "regulação", ao contrário do catolicismo, por exemplo, se torna mais fácil declarar que é pastor. "Muitas pessoas são conhecidas assim no meio onde vivem, até mesmo esposas dos pastores, líderes religiosos de bairros".

Ele também ressalta que a "Bancada da Bíblia" vem ganhando força e visibilidade nos últimos 10 anos, o que motiva que "pautas morais" sejam sustentadas pelos candidatos evangélicos que já existem. Além disso, novos candidatos optam por deixar claro que têm envolvimento com grupos religiosos – “é um movimento que alimenta o outro", diz.

Antes [de 2018] mesmo, pautas morais tiveram importância muito grande, como questões da Escola Sem Partido, da união civil de pessoas do mesmo sexo. Em 2014, com o PT [Partido dos Trabalhdores] muito envolvido em questões de corrupção, essa questão começou a ter mais peso nas questões morais.

Entre “doutores”, 97 candidatos colocam o título no nome e têm ocupação em diversas áreas da saúde e Direito, Outros 38 são enfermeiros.

No campo da segurança pública, dois candidatos a vereador em Campo Grande e Nova Alvorada do Sul optaram por ser conhecidos enquanto delegados, além de candidato à prefeitura de Costa Rica - também “delegado”. Entre os “policiais”, são sete, além de nove candidatos declarados como “cabos” do exército, 10 "coronéis", 12 tenentes e sete "guardas".

O cientista explica que além de fazer com que o candidato seja lembrado, os nomes também indicam, em tese, quais pautas serão priorizadas pelo mesmo. "Quando você coloca professor no nome, entende-se que você vai dar uma certa atenção para a educação. Quando coloca sargento, a mensagem que você tá passando é de que vai se preocupar com a segurança, doutor e enfermeiro, vai passar que está preocupado com a saúde".

Outros professores - Natural de Fátima do Sul, Terezinha Sirlei Costa, de 53 anos, foi registrada enquanto dona de casa e deve concorrer à vereança pelo Democratas em Sidrolândia, sob a alcunha de “Professora Terezinha”.

Em Nova Alvorada do Sul, Jaiuson José dos Santos, de 50 anos, deve concorrer pelo cargo de vereador pelo PP (Partido Progressista) com o nome de “Professor Jailson”. Ele é registrado enquanto “empregado doméstico”.

Onze candidatos têm ocupação declarada como “vereador” e um enquanto “prefeito”. Em Douradina, o “Professor Jean”, nome político pelo qual Jean Sergio Clavisso Fogaça, de 41 anos, é conhecido, se recandidata para o cargo do executivo da cidade.

Os "vereadores" são Professora Ana Maria (PDT), Professor Ismael (PT), Professora Roseli (MDB), Professor Pontinha (PT), Professor Denilson Rafíne (PSDB), Professor Buda (PDT), Professor Eduardo (PSDB) e a Professora Donizete (MDB).

Apenas Corguinho, com 6.054 habitantes, não tem candidato com nome "professor" na disputa eleitoral.

Para o levantamento feito pelo Campo Grande News, foram filtradas as candidaturas que possuem as palavras chave supracitadas como prefixo do "nome da urna". Os dados originais podem ser conferidos na página do Tribunal.

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