STF analisa denúncia contra Kids Pretos, que inclui militares que serviram em MS
São 12 acusados pela tentativa de golpe, entre eles os Kids Pretos, que executariam ações violentas

O Supremo Tribunal Federal decide nesta terça-feira se aceita ou não a denúncia que pode tonar réus mais onze militares (dois generais, quatro coronéis e cinco tenentes-coronéis) e um agente da Polícia Federal pela tentativa de golpe de 2022.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
O Supremo Tribunal Federal (STF) analisa denúncia contra onze militares e um policial federal por tentativa de golpe em 2022. O grupo, conhecido como "Kids Pretos", inclui militares que serviram em Mato Grosso do Sul, como o coronel Bernardo Romão Corrêa Neto e o tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros. A denúncia alega que o grupo planejava assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, caso um decreto anulasse a eleição presidencial fosse assinado. O plano, chamado "Punhal Verde Amarelo", foi encontrado no computador do general Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Presidência. A denúncia aponta que o grupo monitorou as autoridades, mas não agiu devido à falta de apoio do Alto Comando do Exército e à desistência de Bolsonaro em assinar o decreto. Outros dois militares da reserva de Mato Grosso do Sul, o general Laércio Virgílio e o tenente Aparecido Portela, aguardam manifestação da Procuradoria-Geral da República. O julgamento ocorre em paralelo à oitiva de testemunhas, incluindo o general Freire Gomes, cujo depoimento gerou controvérsias.
Definido como núcleo 3, o grupo reúne todos os agentes das Forças Especiais do Exército, da ativa e da reserva, conhecidos como Kids Pretos, entre os quais estão dois militares que serviram em Mato Grosso do Sul, o coronel Bernardo Romão Corrêa Neto, que comandou o 1º Regimento de Cavalaria Mecanizado, o “Regimento Antônio João”, em Bela Vista, e o tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, que serviu em Campo Grande, onde foi alvo, no ano passado, de um mandado de busca.
Segundo a denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, integrantes desse grupo seriam os responsáveis pela execução do Plano Punhal Verde Amarelo, que previa uma ação violenta caso o decreto que anularia a eleição presidencial de 2022 fosse assinado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro: o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice, Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo sobre a tentativa de golpe no STF.
O plano foi encontrado no HD de um computador usado no Palácio do Planalto pelo general Mário Fernandes que, antes de ser nomeado secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência, o número 2 da pasta, chefiou o Comando de Operações Especiais em Goiânia, principal base dos chamados Kids Pretos, tropa de elite do Exército, capacitada para qualquer tipo de ação militar.
Formado, entre outros, pelos tenentes-coronéis Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo, Helio Ferreira Lima e Ronald Ferreira de Araújo, listados no julgamento de hoje, o grupo chegou a monitorar as autoridades, mas acabou não agindo, conforme a denúncia, porque faltou apoio do Alto Comando do Exército à trama golpista e, na última hora, Bolsonaro não quis se arriscar assinando o decreto que impediria a posse do presidente eleito.
Além de Romão e Cavaliere, outros dois militares da reserva, que moram em Mato Grosso do Sul, o general de brigada Laércio Virgílio e o primeiro-tenente Aparecido Portela, conhecido como Tenente Portela, indiciados pela Polícia Federal, aguardam manifestação da Procuradoria Geral da República, que analisa os dois casos separadamente, podendo denunciá-los ou não. Os dois estão na reserva.
Amigo de Bolsonaro, Portela é presidente do PL em Mato Grosso do Sul e primeiro suplente da senadora Tereza Cristina (PP). Na sessão de hoje da Primeira Turma do STF serão analisadas ainda as denúncias contra os generais Estevam Theophilo e Nilton Rodrigues, os coronéis Fabricio Moreira de Bastos, Cleverson Magalhães e Márcio Nunes Ricardo Júnior; e o policial federal Wladimir Matos, que fala, em áudio encontrado em seu aparelho celular na semana passada pela Polícia Federal, na formação de uma equipe para prender e “matar meio mundo”. Na denúncia, ele é acusado de monitorar o esquema de segurança de Lula.
Os agentes das Forças Especiais listados neste grupo são acusados na denúncia de participar de duas reuniões em que o plano foi discutido. A primeira delas em 12 de novembro na casa do ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice em 2022, Walter Braga Netto, no Setor Militar, em Brasília, e a segunda, que teria reunido só os Kids Pretos, em 28 de novembro, num endereço da Super Quadra Norte, um prédio onde morram militares, também na capital.

O militar que mais aparece em todos os encontros e articulações relatados em todos os núcleos é o ex-ajudante de Ordens da Presidência, o tenente miliar Mauro Cid, que também foi das Forças Especiais e teve como instrutor o coronel Bernardo Romão Corrêa Neto, outro Kid Preto. Durante o mês de dezembro, até uma semana antes do encerramento do mandato de Bolsonaro, segundo a denúncia, eles monitoraram Lula e Moraes.
O julgamento de hoje ocorre paralelamente à fase de oitiva de testemunhas, marcada na segunda-feira, 19 de maio, pelo recuo da principal delas, o general Freire Gomes, que abrandou a participação do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier – sobre o qual negou, como havia dito à polícia, que este teria apoiado o plano golpista, colocando a tropa à disposição de Bolsonaro _, confirmou o teor de uma minuta golpista apresentada pelo ex-presidente, mas disse ter entendido que as medidas estão previstas na Constituição.
Ele chegou a ser advertido por Moraes sobre a possibilidade de ser enquadrado por falso testemunho por dizer uma coisa na fase policial e mudar a declaração no processo. A força da acusação agora está lastreada na possibilidade da trama ser sustentada pelo delator, Mauro Cid, e pelo ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Batista Júnior, que foi enfático sobre o plano golpista, afirmando que o próprio Freire Gomes chegou a alertar que o ex-presidente poderia ser preso se levasse o plano em frente. Ele será ouvido na quinta-feira.