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Política

Surpresa nas urnas, ex-policial promete ser “pedra no sapato” do poder

“Não fui eleito para ser puxa-saco”, diz Tiago Vargas, que perdeu cargo na Polícia Civil, mas “ganhou emprego” de vereador

Anahi Zurutuza | 16/11/2020 11:05
Vídeo publicado em julho deste ano, em que Tiago Varga chora por demissão, deu "forcinha" na divulgação do candidato (Foto: Reprodução)
Vídeo publicado em julho deste ano, em que Tiago Varga chora por demissão, deu "forcinha" na divulgação do candidato (Foto: Reprodução)

Surpresa nas urnas, Tiago Henrique Vargas foi de policial civil demitido a vereador recordista em votos em 2020. O candidato, que fez sua base eleitoral no Los Angeles, bairro da periferia, onde nasceu e vive até hoje, conquistou 6.202 eleitores em Campo Grande – teve 1.366 votos a mais que o segundo colocado, vereador “de carreira”, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSD), que vai para seu quarto mandato.

Polêmico nas redes sociais e crítico ferrenho a nomes consolidados na política sul-mato-grossense, Tiago Vargas já havia tentado ser vereador pelo Pros em 2016 e depois, se candidatou a deputado federal em 2018, pelo PDT. Migrou pela terceira vez de partido e neste ano, fez a campanha apenas com os R$ 10 mil doados pelo Diretório Municipal do PSD, conforme declarou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Estreante na carreira política como o candidato mais votado para a Câmara da Capital, portanto, o ex-policial diz ter se surpreendido com o resultado. Não imaginava que atingiria tantos eleitores com a propaganda feita basicamente pela internet e entregando panfletos nos semáforos da cidade. “Me surpreendi por conta da própria campanha, que foi muito humilde. Foi eu e minha mãe [Mercedes Vargas, empregada doméstica] pros semáforos, durante 45 dias”, afirma.

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Longe de ser ingênuo, o ex-policial admite que toda a comoção gerada pela última polêmica que envolveu seu nome, a demissão da Polícia Civil após virar alvo da Corregedoria da corporação, lhe beneficiou, de certa forma. O vídeo gravado por ele chorando após receber a notícia da perda do cargo, em julho - pouco antes de a campanha eleitoral pegar impulso, portanto -, teve ao menos 5 milhões de visualização à época.

“Por causa de toda a minha trajetória, política e social, acredito que boa parcela dos meus eleitores é da minha comunidade, mas teve também muitas pessoas indignadas com as minha situação, minha demissão. O recado dado pelas urnas, através da população é: ‘não aguentamos mais as velhas práticas’”, afirma.

Tiago e a mãe, Mercedes, que foi junto com ele para semáforos da Capital entregar panfletos (Foto: Redes sociais)
Tiago e a mãe, Mercedes, que foi junto com ele para semáforos da Capital entregar panfletos (Foto: Redes sociais)

Fiscal da lei – Tiago Vargas promete ser “a pedra do sapato” do “sistema”. Diz que tem como principal bandeira “o combate à corrupção sistêmica” e que quer rever os contratos da Prefeitura de Campo Grande com o Consórcio Guaicurus e Águas Guariroba, por exemplo, mesmo que outros vereadores, como Vinicius Siqueira (PSL), já tenham usado da estratégia em mandato. “Acredito que existam pormenores que podemos focar, fazer uma investigação mais profunda, atacar na raiz mesmo, enxergar as entrelinhas dos contratos, revisar ponto a ponto”.

Eleito pelo partido do prefeito Marquinhos Trad (PSD), o ex-policial não acredita que isso será um problema.

“Meu compromisso não é com o prefeito e nem com a Câmara. É com o povo. Não fui eleito para ser puxa-saco. Vou fiscalizar, com o maior rigor possível. Pode até trazer algumas rusgas [com o Executivo], mas vou fazer a vontade do povo”.

Projetos – Ele destaca duas promessas de campanha como seus projetos iniciais e principais: cobrar a realização de concurso para a Guarda Civil Metropolitana e viabilizar criação do CTP (Cursinho Preparatório Popular), pré-vestibular.

Egresso da área da segurança, o ex-policial entende como dever do Estado combater a criminalidade, mas diz que o município pode e deve contribuir. O aparelhamento da Guarda Municipal é o primeiro passo, acredita. “Temos nossos guardas civis e temos coloca-los cada vez mais nas ruas. Tem um concurso que já foi anunciado, vou cobrar a abertura desse edital, e mais viatura, armamento, o que for necessário”.

O segundo projeto é para a Educação. “O que mudou minha vida foram os estudos, os concursos públicos e precisamos dar oportunidade para quem não tem condições financeiras”.

Perguntado sobre como pretende viabilizar as propostas, uma vez que as duas dependem de articulação e os possíveis conflitos com outros políticos podem freá-lo, o eleito não acha que terá grandes dificuldades. “Não vai ser difícil, tivemos a renovação muito grande na Câmara. Tenho certeza que muitos dos 17 novos eleitos, pensam como eu”.

Ex-policial civil em rua do Bairro Los Angeles, comunidade pela qual promete trabalhar (Foto: Redes sociais)
Ex-policial civil em rua do Bairro Los Angeles, comunidade pela qual promete trabalhar (Foto: Redes sociais)

Lugar ao sol – Como o mais votado, Tiago Vargas quer um lugar de destaque no Legislativo de Campo Grande. Não se atreve a dizer de cara que se candidatará à Presidência da Casa de Leis, mas conta que nesta semana mesmo, começa a mobilizar os novatos.

"Vou fazer contato com os eleitos. A maioria quis renovação, então temos de ter espaço, visibilidade sim. Mas, vou buscar um entendimento com os 17 novos”.

A polêmica demissão – Na Polícia Civil desde 1º de agosto de 2014, Tiago Henrique Vargas foi demitido do cargo de investigador por cometer nove infrações, conforme publicado no Diário Oficial do Estado do dia 17 de julho deste ano.

Ele alega ter sofrido perseguição política por veicular “denúncias” nas redes sociais. No mesmo dia, após a repercussão do vídeo, a Polícia Civil publicou nota de esclarecimento, “face às acusações infundadas e inverídicas disparadas nas redes sociais em desfavor do trabalho sério, transparente e idôneo da Corregedoria-Geral”.

A demissão foi resultado de processo administrativo disciplinar, segundo a Polícia Civil, aberto depois de fato que desabonou a conduta do policial. Tudo aconteceu durante exame em junta médica na Capital, no dia 31 de abril de 2019. De acordo com a apuração, Tiago Vargas “passou a ofender com xingamentos os profissionais da perícia médica, oportunidade em que passou a esmurrar uma mesa, culminando com chutes que vieram a quebrar citado bem público”.

“O ato demissionário foi proferido nos autos do Processo Administrativo Disciplinar nº 012/2019/CGPC/MS, onde a autoridade julgadora, acolhendo a sugestão da Comissão Processante e o parecer favorável do Corregedor-Geral da Polícia Civil, entendeu ter restado caracterizada 09 (nove) infrações disciplinares previstas na Lei Complementar nº 114/2005 que rege os deveres do Policial Civil tanto na vida pública, quanto na vida privada, de modo a dignificar a imagem da Polícia Civil perante a Sociedade, cuja conduta combinada com o artigo 172, incisos IV e XVII, prevê pena de demissão”, esclarece a nota.

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