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Saúde e Bem-Estar

Sobrecarga de cuidadores de pacientes com Alzheimer leva ao isolamento emocional

Especialistas alertam que rotina de cuidado sem apoio pode provocar adoecimento físico e mental

Por Inara Silva | 03/08/2025 14:47
Sobrecarga de cuidadores de pacientes com Alzheimer leva ao isolamento emocional
Andréia Ramos de Oliveira ao lado da mãe Olinda Ângela. (Foto: Arquivo Pessoal)

O cuidado com pacientes diagnosticados com Alzheimer, na maioria das vezes, recai sobre um único familiar. A sobrecarga leva à exaustão física e ao isolamento emocional. A psicóloga Ana Cláudia Siebra, coordenadora do grupo Apoio Alzheimer, destaca que a maioria desses cuidadores se veem desamparados e isolados.

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O cuidado de pacientes com Alzheimer geralmente recai sobre um único familiar, levando à exaustão física e isolamento emocional. A psicóloga Ana Cláudia Siebra, coordenadora do grupo Apoio Alzheimer, destaca que muitos cuidadores se sentem desamparados, mesmo quando há outros familiares disponíveis. Este é o caso de Andreia Ramos de Oliveira, de 49 anos, que abandonou o emprego para cuidar da mãe com Alzheimer. Especialistas recomendam o compartilhamento de responsabilidades, aceitação de diferentes formas de cuidado e a importância de o cuidador dedicar tempo a si mesmo, inclusive considerando a institucionalização em casos extremos.

"Geralmente, o cuidador é um familiar. Nem todos aceitam da mesma forma e isso acaba sobrecarregando apenas um", explica Siebra.

A situação se agrava quando o cuidador, por afeto ou por acreditar que consegue lidar sozinho, assume toda a responsabilidade.

Ainda que haja múltiplos filhos na família, a psicóloga afirma que a tendência é que um deles assuma a maior parte da responsabilidade, muitas vezes por morar junto ou por iniciativa própria.

Dedicação 24 horas

Este é o caso de Andréia Ramos de Oliveira, de 49 anos. Ex-caixa de supermercado, ela largou o emprego há um ano para cuidar da mãe, diagnosticada com Alzheimer, que é uma doença degenerativa.

Junto com o marido e dois filhos, ela mudou-se para uma edícula no fundo da casa dos pais e enfrenta sozinha a sobrecarga emocional e a falta de compreensão familiar diante da doença que avança. “Tem gente que não entende e até debocha dela”, reclama a filha.

O pai de Andréia tem 75 anos e a mãe 74. Os dois precisam de cuidados especiais, principalmente, por conta da mobilidade.

Além de apresentar sintomas de agressividade e desorientação, a mãe tem chorado muito, passa noites sem dormir, tomada pelo medo de ficar sozinha.

“É ruim vê-la assim, ela acha que sou uma pessoa estranha, é difícil”, relata Andréia, visivelmente comovida.

Apesar da exaustão, ela encontra um respiro nos momentos de apoio, como do marido e diz que poupa os filhos do peso da situação. “Pego mais para mim porque eu sou a filha”, resume.

Momentos de trocas

O grupo de apoio a cuidadores tem sido um refúgio para Andréia, que se sente acolhida e percebe que sua luta não é isolada, pois há casos mais graves que o dela. Apesar da sobrecarga, ela conta com o apoio da irmã, que leva a mãe ao médico, e do irmão, que se dispõe a substituí-la quando precisa sair.

Sobrecarga de cuidadores de pacientes com Alzheimer leva ao isolamento emocional
Psicóloga Ana Cláudia Siebra, coordenadora do grupo Apoio Alzheimer. (Foto: Henrique Kawaminami)

Espaço para si mesmo

É vital que o cuidador compreenda seus próprios limites e os dos demais familiares. A psicóloga destaca ainda que é imprescindível que a pessoa dedique um tempo semanal para si mesma, longe do ambiente de cuidado, buscando atividades que promovam bem-estar, como ir ao cinema, visitar amigos ou frequentar um salão de beleza. "Dentro do ambiente ela não se desliga", enfatiza Ana Cláudia Siebra.

Conselhos para um cuidado mais equilibrado

Um dos pontos críticos ressaltados pela psicóloga é a dificuldade em delegar e permitir que outros cuidem. Diante dessa realidade, Siebra sugere ajustes para que cuidado seja menos desgastante:

  • Permitir o revezamento: É fundamental que o cuidador principal compreenda a necessidade de compartilhar as responsabilidades e permita que outros familiares também contribuam.

  • Aceitar as diferentes formas de cuidado: O cuidador principal deve entender que cada um cuidará à sua maneira e dentro de suas capacidades.

  • Reconhecer os limites: Tanto o cuidador principal quanto os demais familiares possuem limites para lidar com a doença. É importante que cada um faça o que é possível sem se sobrecarregar.

  • Considerar a institucionalização: Em casos de esgotamento extremo ou quando o idoso pode ter uma assistência melhor em uma instituição especializada, a psicóloga sugere a institucionalização como uma opção válida, apesar da resistência de algumas famílias que encaram a decisão como um abandono