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A fome e a vontade de comer no isolamento social

Fabiana Tanabe e Stéfani Schneider (*) | 22/04/2021 12:30

Como está a sua fome? Você reparou se anda comendo mais do que antes da pandemia? Mas será que realmente é fome? Ou você come por outras razões que não a fome fisiológica propriamente dita?

Motivos para comer nunca nos faltam: comemos para repor nossas energias, porque estamos felizes, porque estamos tristes, porque alguém fez o nosso prato favorito, porque precisamos celebrar a vida, porque estamos com vontade de experimentar aquele restaurante novo, comemos para resgatar memórias boas de um passado distante ou nem tão distante assim. Além disso, a escolha do que vamos comer está vinculada a diversos fatores, sejam eles biológicos, culturais, sociais, psicológicos, econômicos.

Nas consultas de nutrição ou mesmo nas conversas informais por mensagens, muita gente tem relatado um consumo maior de alimentos durante a pandemia. Possivelmente, esse aumento na ingestão de alimentos, e em muitos casos alimentos bem específicos, seja em decorrência de um fenômeno conhecido como comer ou fome emocional 

Alguns estudos também apontam que o comer emocional teve aumento nesse período, principalmente naquelas pessoas que já tinham sinais prévios de ansiedade e se viram obrigadas a praticar o distanciamento social, ficando em casa na maior parte dos seus dias e tendo à sua disposição uma grande quantidade de alimentos. As rotinas ficaram desorganizadas, e o ritmo de atividades diminuiu, o que também ajuda a explicar essa questão.

A fome, por si só, configura-se como a necessidade fisiológica de comer quando há privação de energia ou de alimentos, sendo sinalizada por questões fisiológicas (quem nunca ouviu seu estômago roncar?) ou ambientais (meio-dia, hora de almoçar!). A fome fisiológica dificilmente está atrelada a um alimento específico, pois, nesse momento, a preocupação é comer o que quer que seja para matar a fome.

Por outro lado, o comer emocional ocorre quando recorremos à comida para lidar com nossas emoções, buscar refúgio e preencher o vazio interno provocado por nossos sentimentos negativos, como a raiva, a ansiedade e o estresse. Muitas vezes, esse processo acontece de forma automática porque, de certa maneira, fomos ‘ensinados’ a fazer isso: quem não conhece histórias do tipo “ganhava o peito ou a mamadeira quando começava a chorar”? Além disso, os alimentos “escolhidos”, quando precisamos preencher esse vazio emocional, geralmente são aqueles com alta densidade energética, como doces e frituras, ligados às fontes de prazer relacionadas à comida

Estamos atravessando um longo período de incertezas em diversos campos das nossas vidas. A ansiedade e o sentimento de impotência frente à covid-19 são questões que requerem nossa atenção. Uma vez ou outra, comer por conta das nossas emoções é até normal, mas, no longo prazo (lembrando que estamos nessa situação há um ano), buscar sempre refúgio na comida pode não ser a melhor solução para lidar com isso. A gente começa a se deparar com as consequências desse ato, como o sentimento de culpa, o aumento de peso, dificuldades de realizar atividade física, etc.

Mas como saber se minha fome é fisiológica ou emocional? Que tal se fazer as seguintes perguntas:

  • Meu estômago está roncando? Não importa o que seja, preciso me alimentar ou vou desmaiar!
  • Há quantas horas estou sem comer nada?
  • É fome mesmo? Ou é vontade de comer coisas específicas, com muitas calorias e superdoces?
  • Como está sendo meu dia? Estou irritado/triste/ansioso por alguma razão?
  •  Se eu comer esse alimento agora, como vou me sentir depois?

Avalie a sua fome e tente se conhecer. Se você puder, faça acompanhamento psicológico: você não é obrigado a enfrentar essa barra toda sozinho. Procure ajuda, converse com amigos e familiares. Tente buscar alguma atividade de lazer, respeitando, é claro, os protocolos de segurança contra a covid-19: cante, dance, faça alongamentos, medite, leia um livro, assista ao filme ou à série que todo mundo está comentando. Mantenha uma rotina, mesmo estando em casa, com horários para a realização de suas tarefas e também das suas refeições. Pode parecer clichê, mas neste momento o melhor a se fazer é se reconectar consigo e buscar fontes de prazer para além da comida.

(*) Fabiana Tanabe é nutricionista do Núcleo de Assistência Nutricional Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

(*) Stéfani Schneider é nutricionista coordenadora do Núcleo de Assistência Nutricional Universidade Federal do Rio Grande do Sul .

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