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As dificuldades do Brasil

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 03/07/2019 07:10

Parece que o Brasil está correndo o sério risco de ser jogado no grupo de países com atraso geral, sem rumo, sem autonomia. Poucas pessoas estão percebendo e se esforçando para evitar a consumação do declínio. Desde a trágica gestão de Fernando Collor tem faltado patriotismo e seriedade, mas neste momento é preciso entender o que se passa nos bastidores internacionais. Precisamos de união em defesa do país.

O que acontecia até 2014 no Brasil? O governo mirava a reeleição, injetava dinheiro que não tinha e segurava o dólar com swap cambial. Tudo rodava no “toma lá dá cá” entre os poderes. As importações iam bem enquanto a produção permanecia estagnada. Apesar do artificialismo, circulava mais dinheiro. Após a reeleição, com a dívida lá em cima, a fonte secou. A guerra comercial aumenta a turbulência na economia. O que fazer para produzir e empregar mais?

Onde estavam os congressistas no governo de Dilma Rousseff, do PT? No período entre 2012 e 2017 a dívida incorporou juros em mais de dois trilhões de reais, questão de suma gravidade, mas pouco se falou. Assim a dívida gorda travou tudo e se tornou tão avassaladora que agora os governantes se acham diante de grandes obstáculos para destravar o país para produzir, gerar empregos, melhorar a renda, fortalecer o Brasil. Os principais problemas do atraso: má conduta nas finanças públicas, câmbio valorizado, exportação de empregos, juros elevados e despreparo educacional.

A economia deveria andar independente do governo. O livre mercado é que teria de planejar e produzir, visando atender as necessidades da população. No capitalismo de Estado, o governo exerce forte influência no planejamento da produção. A economia global adentra no túnel escuro para o qual foi direcionada. A máquina chinesa de produzir conta com a estratégia de Estado, não de uma só multinacional, e produz quantidade, qualidade e preço. Competir torna-se uma tarefa muito difícil no grande tabuleiro da globalização.

A guerra comercial deste século é diferente da fria que tinha o confronto ideológico pelo poder mundial como pano de fundo. Na atual guerra morna pelo poder, estão envolvidos fortes interesses econômicos que vão interferindo em todas as atividades e nas relações que envolvem poder e dinheiro. E tudo vai sendo afetado pelas disputas e retaliações. A humanidade adentra num período de gravidade maior do que as anteriores.

Essa situação já vinha de longe, mas não se dava muita atenção; de repente se percebe que o endividamento mundial cresceu muito. A questão da dívida deveria ser solucionada de modo a possibilitar desenvolvimento econômico mais equitativo em oposição à crescente precarização geral resultante do encolhimento da renda. A moeda forte se tornou o objetivo de todos. Países que não conseguiam manter o equilíbrio, caso dos emergentes, tinham de captar em moedas estrangeiras, interferindo na política cambial.

As recorrentes desvalorizações cambiais provocavam crises e recessões. Japão e Coreia do Sul tiveram a visão de que deveriam produzir e exportar como meio de captar a moeda forte. A China, observando tudo, elaborou seu planejamento extraordinário e acumulou fabulosa reserva em dólares, mas a consequência foi a desindustrialização em muitos países, Brasil inclusive, e desemprego. A pergunta é: como consertar esse desequilíbrio?

Nas últimas décadas, vimos no palco da vida um falso jogo de cenas, enquanto nos bastidores os personagens urdiam planos de partilha do butim. Com a expansão dos abusos como coisa normal, rompeu-se a cortina, pondo a descoberto as mazelas tramadas às escondidas, expondo-as para lavagem geral. No mundo ocorre a luta entre os que querem se esconder no abrigo das cortinas e os que desejam abri-las ainda mais. A tendência é que caiam todas as cortinas encobridoras da verdade, mas o que se verá não será bonito, agravado por lutas para manter uma situação que não se sustenta mais. Os homens se digladiam para encobrir a verdade e se manter no poder.

Durante décadas, o Brasil tem caminhado passivamente como massa sem futuro, rumo ao abismo. Bastou a tomada de consciência de que o país é mais do que foi legado, de que os brasileiros são mais do que pão e circo e começou a gritaria contra aqueles que lançam a Luz da Verdade para enxergar o caminho seguro da retidão.

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini, é articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida.

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