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Bode expiatório: hoje é o médico, mas amanhã pode ser você

Por Ruy Sant’Anna (*) | 17/07/2013 13:50

O programa lançado pelo Governo Federal “Mais Médicos”, também não agradou ao governador do Estado, André Puccinelli (PMDB). Ele considera a medida uma "decisão errônea" por parte do Ministério da Saúde. Ele criticou a medida por considerar que o principal problema não é a falta de médicos, mas a falta de condições de trabalho para os profissionais.

“Trazer mais médicos é importante, mas por que não trazer brasileiros? Dando condições a eles? Mato Grosso do Sul tem número superior ao que recomenda a Organização Mundial da Saúde, portanto, tem médicos, precisa é atraí-los com melhor condição de trabalho e mais recursos do governo federal”, disse em entrevista ao programa Tribuna Livre.

O governador André citou o município Novo Horizonte do Sul, como referência de boa estrutura criada pelo próprio município. Segundo Puccinelli, está bem assistido por médico porque além de bom salário o prefeito garante boas condições de trabalho.

Puccinelli também criticou as faculdades que não estão bem aparelhadas e não formam bons profissionais. Referindo-se ao programa “Mais Médicos” do governo federal, o governador acredita que esta é uma medida para maquiar um problema que seria resolvido com facilidade caso houvesse mais qualidade nos cursos de medicina. “Se fizer curso bem feito com bom estudo e condições de laboratório de análise, anatomia, farmacologia, se der boas condições em seis anos forma um bom médico” argumentou. (Fonte: campograndenews)

Evidente que André fez uma abordagem sobre o programa “Mais Médicos” durante uma entrevista não específica sobre esse tema. Emitiu sua opinião sobre a parte que lhe foi posta, até pela sua responsabilidade administrativa e por ser médico. É certo que se for convocado poderá detalhar esses e outros pontos de interesses dos sul-mato-grossenses, da classe médica e dos estudantes de medicina.

A situação da saúde pública brasileira está um caos e tem várias vertentes a serem observadas e resolvidas por quem tem esse poder, no caso o governo federal.

Por exemplo, a presidente Dilma e o ministro da Saúde a cada dia, continuam aumentando suas bolsas da maldade contra a saúde do brasileiro e da classe médica. Uma delas é o argumento temerário de que os médicos formados em medicina devem passar dois anos, especializando-se para atendimento no SUS, como se isso fosse assunto de “segurança nacional”. Piada fraca, sem nenhuma sustentação patriótica, nem legal.

Cabem algumas perguntas sobre esse autêntico caô governamental que não pode prevalecer.

Será que os negros, os indígenas, os bolsistas, os prounistas e outros amparados por legislações específicas, na área educacional, também estarão obrigados ao serviço civil obrigatório, por dois anos, como o governo quer obrigar aos médicos? Sim ou não?

A resposta é não! Então, por que colocar os médicos nessa condição ridícula e constrangedora? Que pinimba tão ranzinza... A única explicação é a de que Dilma percebeu que sua falta de atenção à administração, está inviabilizando o governo federal. Por isso, está doidinha atrás de culpados. Os médicos e acadêmicos não aceitaram a cangalha, nem o relho. Muito menos os prefeitos municipais. Cuidado você...

Alguns podem pensar que o assunto não lhes diz respeito. Enganam-se! O precedente aberto é assustador. Basta lembrarmos que Dilma não dá nem bom dia, sem antes consultar seu marqueteiro. Essa conversa com ar de seriedade, não passa de desvio do problema objetivo. O “interesse nacional” aqui é lorota sacana.

Voltando ao fajuto “interesse nacional”: do jeito que ela manipula seus argumentos com os marqueteiros, pra ela não custaria nada tornar essa questão numa campanha institucional. Daí uma coisa que parece, apenas mau gosto, pode se tornar uma campanha fanática, que mexeria com os sentimentos nobres dos brasileiros.

Trata-se do caminho para a servidão, agora escancarado. A liberdade de escolha do profissional desaparece, dando lugar ao pretexto de, em nome do “interesse nacional”, o estado escravizar as pessoas para suprir suas inabilidades e incompetências de bem administrar.

Algum colega advogado gostaria de largar sua família, trabalho, acumular despesas com a sua manutenção pessoal em outro município e longe de sua família, fora outros entraves, para em nome de um fajuto “interesse nacional”, fazer o dever do governo que não trabalha?

É certo que nem todos os municípios podem ter defensores públicos, promotores e juízes, nem comarcas, pois não têm condição financeira e de movimento para enraizá-los em suas sedes. Mas, os processos pendentes são atendidos por comarcas mais próximas ou turnos de atendimentos através de estrutura judicial que se desloca.

À semelhança da “solução” para saúde “proponho”: Que o curso nas faculdades de direito sejam aumentados em dois anos e que antes de o bacharel fazer o concurso de admissão à OAB, sejam deslocados para as comarcas em todo o país e auxiliem na defesa ou acusação dos processos sob supervisão de um advogado mais experiente. Após o término deste período, os bacharéis poderiam prestar a prova da OAB e ir para onde quiserem. Pronto mais uma "solução" mágica para outro sério problema brasileiro. Que tal? Pera ê, não precisa me xingar! Segui apenas a linha de raciocínio da presidente Dilma e seus áulicos...

Hoje são os médicos, mas e amanhã? O que vai impedir o governo de decretar que todo professor tem que ficar dois anos dando aulas em escolas públicas do interior para conseguir seu diploma? Ou forçar engenheiros a atuarem por dois anos nas obras do PAC Brasil adentro, para só depois terem acesso ao certificado de conclusão de curso? Ou obrigar dentistas a atenderem na selva amazônica antes de finalizarem a faculdade? Percebem o risco?

Isso não é somente um problema dos médicos, e sim de todos nós! Quem ainda tem um mínimo apreço por um valor chamado liberdade individual tem que se posicionar contra esse autoritarismo sem paralelo no país. Cabe a cada um lutar, como for capaz, para impedir essa medida. Isso não pode passar!

Outra coisa, Dilma, Padilha e o regra três na pré-candidatura ao governo de São Paulo, em 2014, Mercadante, nenhum nem todos juntos conseguirão resolver os problemas da saúde pública em 2013, pior ainda durante as campanhas eleitorais do ano que vem.

Já que todo ano se formam aproximadamente 15.000 médicos no país, por que não aproveitar os estudantes do quarto, quinto ano e lhes transmitir conhecimentos de mais objetividade do SUS, do médico da família ou outra denominação. Para tal, aproveitando os estudantes como acadêmicos e não depois de ele formado, ter de ainda passar mais dois anos amarrado à estrutura de ensino como inabilitado.

Até o cardiologista de Dilma é contra as tresloucadas e mirabolantes ideias palacianas. Médico de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cardiologista Roberto Kalil Filho se opõe à contratação de estrangeiros para atendimento em hospitais no interior do Brasil.

"Sou terminantemente contra", diz Kalil.

Segundo ele, o maior problema da transferência de médicos para regiões distantes está na falta de condições de trabalho. Em alguns casos, afirma, o profissional "não tem nem acomodação". "Não adianta jogar os médicos [num hospital] se não houver estrutura. O médico pode ser da China, da Lua. Se não tiver seringa, se não tiver raio x, ele não vai conseguir atender ao paciente", diz. (Folha de S.Paulo)

Finalmente, que os vai e vem do governo federal sejam focados nas urgentes necessidades brasileiras e especificamente sobre a saúde pública, para que todos possamos comemorar sem medos, nem constrangimentos à democracia e à vida saudável. Por hora, dou-lhes bom dia, o meu bom dia pra vocês.

(*) Ruy Sant’Anna é jornalista e advogado.

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