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Carne Fraca: operação eficaz ou midiática?

Por Rodrigo Casagrande (*) | 29/03/2017 09:30

O dia 17 de março de 2017 marcou três anos da prisão de Alberto Youseef, estopim da operação Lava Jato. Em 17 de abril de 2014, o Brasil começava a mudar o rumo da sua história. Ao que tudo indica, não por coincidência, no dia 17 de março de 2017 a Polícia Federal trouxe à tona a operação Carne Fraca, que aponta irregularidades em frigoríficos, que vão desde a compra de etiquetas de conformidade junto a órgãos de fiscalização até a produção de alimentos com carne estragada.

O Brasil é o maior exportador mundial de carnes bovina e de frango, transacionando com mais de 100 países, e isso não acontece sem comprovada qualidade dos milhares de produtores rurais, eficiência da indústria, controle sanitário e ótimos produtos. Vale ressaltar que os produtos exportados são auditados para entrar nos mercados de destino.

As fábricas que produzem para exportação têm a obrigação de aportar a mesma qualidade de produtos para o mercado interno, portanto acredita-se que o selo do SIF (Serviço de Inspeção Federal) deva ser um indicador confiável de que o brasileiro consome um produto de excelente qualidade e padrão dos mercados mais exigentes. Pelo que foi divulgado até o momento, os dois anos de investigação da PF numa indústria com mais de 2.800 fábricas confirmou irregularidades em 3 fábricas e tem 21 sendo investigadas.

Como reflexo dessa operação, já houve manifestação de representantes do mercado europeu, que exige que todas as empresas envolvidas no escândalo da fraude da carne tenham sua entrada bloqueada e pedem que membros do bloco adotem uma vigilância extra ao tratar de qualquer produto brasileiro no setor de carnes.

Ainda mais rigorosas, a China e a Coreia do Sul já informaram oficialmente ao Ministério da Agricultura a suspensão de importação de carnes brasileiras. No caso da China, os embarques programados para lá foram suspensos por uma semana. Já a Coreia do Sul bloqueou apenas os embarques da BRF especificamente.

O ministro da agricultura, Maggi, disse ter recebido a boa notícia que o Japão restringirá sua limitação de compra aos 21 estabelecimentos alvos da operação e ainda foi categórico em afirmar que foram divulgadas informações errôneas, como a da mistura de papelão aos embutidos.

Fica a expectativa e a torcida de que seja possível separar o joio do trigo, pois o Paraná, especialmente no setor de cooperativas, tem empresas sérias e com elevado controle de qualidade. Seria este um momento de valorização e crescimento de frigoríficos regionais de pequeno e médio porte?

Alguns players do mercado entendem que a cadeia do agronegócio foi afetada sistemicamente pela forma como ocorreu a divulgação. Se as gigantes não conseguirem colocar os seus produtos no mercado internacional, possivelmente se voltarão com tudo para o mercado nacional, o que pode fazer despencar preços não só da carne, mas também do milho e da soja, utilizados como matéria-prima para produzir ração.

Qualquer cenário traçado atualmente pode ser imaturo, mas a realidade é que toda cadeia deve ter prejuízos ainda incalculáveis.

(*) Rodrigo Casagrande é doutor em Ciências Contábeis e Administração, professor do mestrado em Governança e Sustentabilidade do ISAE/FGV, de Curitiba (PR)

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