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Corrupção e reforma

Por Valcir Martins* | 08/11/2011 12:30

Parece, a alguns, diferente o tratamento da atual presidente da República aos eventos e escândalos sucessivos de corrupção no governo federal daquele dado por seu antecessor, Lula da Silva. Para mim, a diferença está no estilo e pode estar no carisma, mas não há diversidade de fundo. Lula no poder era maleável, embromador, andava em volta do problema, conferia-lhe rótulos e sabia manobrar a história política do País habilmente. Dilma é severa, dura, inflexível, e enfrenta os problemas de maneira direta: indício de corrupção é para demitir ministro, exatamente porque ela não tem carisma e não sabe navegar na opinião pública como Lula fazia.

As diferenças ficam por aí. Na essência, os dois mostram absoluta complacência com a corrupção. Não está na base de Dilma o PMDB, que lhe emprestou o vice-presidente? Não continua sobranceiro, penetrando tranquilamente todos os antros e furnas dos esquemas governamentais, o indefectível José Dirceu? E, por falar em José, o outro, o SARNEY, não permanece mandando e desmandando em ministérios? Ao demitir ministros, Dilma não assegura a vaga à congregação que indicou o corrupto? Assim aconteceu com a Agricultura, com os Esportes e todos os demais. A impressão que fica, é verdade, é de desconforto da Presidenta, mas a atuação política é a mesma de Lula: afagar as hostes de apoio.

A corrupção no Brasil não vai acabar com substituições de ministros por outros do mesmo time e nem mesmo por outros do time adversário. A questão não se trata de ser o presidente ou o ministro mais ou menos moralista, ter mais ou menos carisma, ter maior severidade ou, enfim, de apoio eventual da opinião pública, é de natureza político-institucional. Com efeito, Lula, Dilma assim como outros que lhes antecederam representam forças que assolam e tomam o poder pela via do financiamento das campanhas políticas, nas quais os partidos mais fortes - significando os mais adiantados nas pesquisas - cedem a interesses privados e comprometem a divisão de poder de acordo com esses interesses. Basta lembrar que o Congresso Nacional tem grupamentos bem delineados: os representantes dos banqueiros, do setor empresarial não financeiro, os sindicalistas e os evangélicos, o resto é pulverizado, de modo que aqueles quatro grupos dominam a vida legislativa e política do País.

Os partidos, por outro lado, no âmbito das coalizões permitidas por lei, asseguram-se reciprocamente divisões espúrias de poder a conveniências setoriais, regionais e pessoais. Enquanto não for implantada uma reforma política séria, que comece pelo financiamento público de campanhas, acoplado à absoluta e total proibição e fiscalização da não utilização de recursos privados, continuaremos a ver a corrupção brasileira no café, no almoço e no jantar, como fato impávido e colosso a infestar as páginas cotidianas.

Este texto, do advogado João Humberto Martoreli, foi publicado no Jornal, tem o meu aval. Concordo plenamente.

(*) Valcir Martins é bancário aposentado

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