Cresce investimento em RH
De certos assuntos é impossível se esquivar: a qualificação da mão de obra brasileira é o mais proeminente deles. O leitor mais atento já percebeu que, nas últimas semanas, a análise desse entrave ao desenvolvimento nacional não sai do foco dessa nossa conversa.
Muitas outras novidades rondam os mundos da educação e do trabalho, mas perdem a relevância quando confrontadas à contundência de números como os evidenciados por pesquisa da Deloitte divulgada esse mês.
A empresa de consultoria ouviu representantes de quase uma centena de organizações brasileiras e o resultado aponta novamente para a lacuna que existe entre as necessidades das corporações e o perfil de trabalhadores disponíveis no mercado.
De acordo com a pesquisa, a maioria (58%) ampliará, ainda esse ano, o orçamento do setor de recursos humanos. Além disso, e aqui está o flagrante, 70% afirmam que a área que mais receberá investimentos é Treinamento e Desenvolvimento.
Destaca-se que a capacitação dos colaborares deixou para trás – e muito para trás – rubricas estratégicas como Remuneração (46%); Tecnologia da informação (37%); Comunicação interna (28%); Medicina, segurança do trabalho e saúde (27) e Benefícios (24%).
Agora cruze essa informação com outro resultado do estudo: o comprometimento do colaborador está diretamente relacionado com o tempo de casa – um fenômeno provocado pelo aquecimento do mercado de brasileiro e a disputa por novos talentos.
Ou seja, a área de Treinamento e Desenvolvimento está sendo encarada como ferramenta de retenção de jovens profissionais, mais – até mesmo – do que a oferta de salários vultosos ou benefícios exorbitantes.
O fato, entretanto, não pode ser considerado uma surpresa, especialmente entre aqueles que incluem o estágio nessa política de RH. Isso porque uma outra pesquisa do instituto TNS InterScience aponta que 64% dos estudantes que passam por esses programas são efetivados.
Vale sempre lembrar que a figura do estagiário é tão importante para a preparação de talentos adequados às demandas das empresas que o governo concede isenção no pagamento de encargos trabalhistas como forma de estimular permanentemente a inserção de estudantes.
Pelo lado dos jovens, há ainda mais benefícios além da capacitação prática per se, pois de acordo com a Lei nº 11.788/08 nenhum agente de integração – organização que faz a ponte entre as instituições de ensino e as concedentes de estágio – não pode cobrar-lhes nada pelo serviço.
No mais, contam com uma série de relatórios de acompanhamento que devem ser preenchidos periodicamente. Por meio desses documentos, registra-se a evolução da capacitação do estagiário, permitindo a interrupção imediata do treinamento caso se detecte algum desvio.
(*) Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp.