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Crimes na Guaicurúndia: Barbárie ou desconstrução dirigida?

Por Valfrido M. Chaves (*) | 25/07/2011 09:00

Permitam-me a obviedade, somos o que somos. Entretanto, não nos inventamos. Ninguém acorda, se espreguiça e resolve se vai ser preguiçoso, caloteiro, um pai dedicado ou relapso, hetero, gay, homofóbico, ou, ainda, se vai participar de um latrocínio para conseguir 800 reais e “ter vida independente”, coforme a justificativa de uma adolescente partícipe de mais um crime estúpido em nossa capital.

Através de seu Editorial de 21/07/01, o Correio do Estado traz uma reflexão e um desafio à sociedade quanto às causas, consequências e evitação de tais rupturas perversas. Em Dourados encontra-se na UTI um jovem que, por qualquer “me dá aqui aquela palha”, foi espancado e chutado ao chão por um grupo.

Todos, gente “de família”, classe média, universitário. É preciso lembrar que, hoje, dificilmente um jovem sai para “a noite” com sua namorada, sem um grupo grande no qual se protejam mutuamente. Isolado, um casal seria presa fácil de “alcatéias da noite”. Suas motivações? Inveja, frustrações? Bando de enrustidos querendo soltar a franga, espancando aquele que ousou amar uma mulher, ao invés interessar-se pelo “lobinho de alcatéia”?

O leitor, por acaso, já viu alguém punido por esse tipo de crime-diversão tão em moda?

A sociedade, assustada, mostra-se disposta a discutir e encarar, em suas causas e conseqüências, as rupturas doentias que a mídia joga, diariamente, nas salas de televisão e jornais? Fala-se da assimilação e conseqüências desse lodo social nas almas pouco estruturadas, infantilizadas? Há, sim, discussões sobre temas “politicamente corretos” e conduzidas de modo ainda mais politicamente correto, como preconceito, homofobia, orgulho gay, racismo.

Sobre tais discussões paira, quase sempre, a superficialidade e o patrulhamento ideológico, do que resulta a unanimidade. E, como bem disse Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”, tendenciosa. Querem ver? Você pode dizer livremente que a “Fobia” seja o resultado normal de condições anormais no desenvolvimento pessoal, podendo ainda um profissional anunciar-se como especialista na cura da fobia.

Agora, há outras manifestações patológicas resultantes de condições impróprias para o desenvolvimento humano e que, se alguém anunciar “cura” para elas, seguramente vai em cana, pois tais manifestações seriam “opção”. Pensar o contrário seria preconceituoso e politicamente incorreto, do que decorre a superficialidade das discussões e impossibilidade de propostas para prevenção.

Tais fatos que nos impactam o moral e semeiam medo , levam perplexidade a todos que compartilham de uma cultura que é a continuidade de um processo civilizatório vindo da Judéia, Grécia e Roma antigas, passando pela expansão marítima dos povos ibéricos, colonialismo e escravatura.

Diante deles, muitos perguntam se não estamos diante de um processo de “desconstrução” cultural. Na “nova cultura” tudo seria relativo, inclusive a verdade e o moral. Não vemos o ódio instilado em muitos corações, através de políticas públicas, a título de superação de estigmas raciais?

Possíveis dívidas históricas de toda a sociedade para com povos indígenas não tem propostas de solução buscando-se como bodes expiatórios este ou aquele proprietário rural, por acaso no caminho da expansão de aldeias? Crimes não se tornam virtuosos quando, então, “retomada não é invasão”, na expressão de uma ilustre membro do MPF, aqui em nossa Assembléia, há oito anos passados?

A maior autoridade da República não ousou dizer que o grande escândalo de sua história, o “Mensalão”, não existiu e tudo não passou de um golpe das elites contra um governo popular? Onde ficam então os padrões de verdade, limites, moral, humanidade, na cabeça de adolescentes cujas famílias estão sem saber quando e onde possam lhes dizer “não”?

Certa vez perguntaram a um poeta quanto tempo ele teria levado para fazer certo poema e ao que respondeu: toda a minha vida. Assim é com este artigo, com o editorial “Lição do extremo” e com a “divertida” trasmissão ao vivo, por celular, do assassinato hoje nas manchetes.

Em cada momento e em cada ação está toda a vida de seus atores sob o impacto de uma grande ruptura moral coletiva mediada pela impunidade, corrupção, deboche das autoridades da República, os grandes exemplos para as massas. Seria uma desconstrução reversível?

(*) Valfrido M. Chaves é psicanalista e pós graduado em Políticas e Estratégia.

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