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Da China, por Heitor Freire

Por Heitor Freire (*) | 10/08/2011 06:02

A China milenar, misteriosa e enigmática, está no ar: na mídia, nos negócios, nas artes, na tecnologia de ponta, na indústria, na economia, enfim, em todos os ramos de atividades humanas, despontando como uma das grandes potências do mundo moderno.

Foi divulgada pela imprensa mundial, de forma muito destacada, o episódio em que Wendi Deng, chinesa, mulher do magnata das comunicações, Rupert Murdoch, reagiu a um ataque inesperado sofrido pelo seu marido. Ele depunha sobre as malfeitorias do seu jornal centenário, em Londres, quando Wendi atacou como uma tigresa o agressor, para defender o seu marido.

O fato foi comemorado na China, elevando o moral das chinesas, principalmente pelo papel passivo que lhes foi imposto pelos homens ao longo dos tempos. A mulher chinesa está mudando a sua posição. A fama de ser submissa está sendo apagada nas últimas décadas. Na China, as mulheres são a melhor defesa para seus companheiros.

A evolução foi lenta. A garra da mulher chinesa começou a ser despertada quando a primeira imperatriz, Wu Zetian, assumiu o poder, isso nos idos dos anos 600/700. Ela se impôs de uma forma bastante inteligente, foi construindo a sua conquista aos poucos, não medindo esforços para conseguir o poder.

A China tem uma cultura milenar, como se sabe, e, ao longo dos tempos foram estabelecidas normas de comportamento para as mulheres. Um dos princípios estabelecidos no livro Banzhao, o Tratado das Mulheres, determina que a mulher chinesa deve proporcionar paz de espírito e tranquilidade ao seu marido, cuidando de seus casos. Papel que Wendi Deng cumpriu com toda eficiência.

A China esteve também presente na semana passada em Campo Grande. Nos dias 25 e 26 de julho último apresentou-se, no Teatro Glauce Rocha, a Companhia de Teatro Shaanxi, que veio a Mato Grosso do Sul para duas apresentações de seu espetáculo, promovidas gratuitamente pelo governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Fundação de Cultura, para o público da nossa cidade.

A Companhia, com 58 anos, é célebre e motivo de orgulho em seu país, percorrendo o mundo todo em apresentações que revelam o requinte, o virtuosismo e a graciosidade da técnica milenar do teatro de bonecos chineses. Ela tem um reconhecido trabalho com o teatro de sombras e o teatro de bonecos, reunindo cerca de 100 artistas, entre manipuladores, artesãos e técnicos. Destes, um grupo com nove elementos esteve em Campo Grande e encantou a platéia que lotou o Glauce Rocha nas duas noites da sua apresentação em nossa cidade.

Aproveitando a presença da Companhia Shaanxi, o Pontão de Cultura Guaicuru, sob a direção de Belchior Cabral e Andréa Freire, proporcionou também um encontro de artes distintas e populares em seu cenário: de um lado a Companhia Shaanxi e de outro o Grupo de Capoeira Conceição da Praia.

Os artistas estrangeiros têm por princípio, conhecer a cultura do lugar por onde passam e aqui foram recebidos pelo Mestre Matogrosso, ao toque do berimbau e dos tambores, revelando a arte brasileira da capoeira.

No dia 28 de julho, com entrada franca, realizou-se esse encontro que constou de três partes: em primeiro lugar um debate sobre a Companhia e sua arte com uma demonstração da sua técnica e do seu trabalho. A comunicação foi facilitada, com sensibilidade e bom humor, pelas intérpretes Flávia Freire Barbosa, do português para o inglês e vice-versa e pela integrante da Companhia, Beth, do inglês para o chinês e vice-versa. Foi um diálogo rico realizado com alegria e criatividade.

A segunda parte foi uma apresentação do Grupo de Capoeira, sob a direção do Mestre Matogrosso, que deixou os chineses entusiasmados com as evoluções feitas pelos integrantes do grupo, marcando também com muita arte a relação dos dois grupos.

E a terceira parte foi uma integração completa e total, demonstrando claramente que a linguagem da arte é universal, vencendo barreiras da língua e da cultura, interligando de forma muito criativa a performance de cada um.

Convidado para entrar na roda, o diretor da Companhia chinesa, Liang Jun, assimilou com muita rapidez os trejeitos e jogou capoeira com disposição. O mesmo aconteceu com uma integrante do grupo chinês que também aceitou entrar na roda, participando com graça dos movimentos. Nessa ocasião, o Mestre Liang comentou: “Quando duas culturas tão fortes se encontram como nesta noite, estarão ligadas para sempre”.

Para registro do evento e lembrança da passagem pela nossa cidade, o Mestre Matogrosso obsequiou o Mestre Liang com um berimbau – símbolo da arte popular brasileira – com orientações para seu uso. E o Pontão foi agraciado com um quadro que representa um dos bonecos da Companhia Shaanxi.

Assim o Pontão de Cultura Guaicuru, com muito senso de oportunidade, foi o palco de uma integração de culturas, de artes, de tradições que se irradiaram por todo o recinto, envolvendo a todos os presentes com uma vibração espiritual de grande significado.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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