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Desempenho da economia brasileira em 2021: Perspectivas

José Matias-Pereira (*) | 22/06/2021 13:30

Para tratar da crise econômica que se abateu sobre a economia mundial, em especial, no Brasil, é necessário recordar a origem e os efeitos das medidas adotadas para enfrentar a pandemia de covid-19. A divulgação, em dezembro de 2019, pelo governo chinês da existência de uma doença infecciosa causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), detectada na cidade de Wuhan, na China, com elevado nível de letalidade, alarmou o mundo. Ao longo de 2020, a doença se alastrou pelo planeta de forma devastadora, vitimando cerca de 1,8 milhão de pessoas. O agravamento da pandemia colapsou os sistemas de saúde dos países ricos e pobres, que passaram a adotar medidas restritivas (lockdowns), relegando a um plano secundário os seus efeitos na economia. Essas medidas provocaram fortes quedas nas economias da grande maioria dos países no mundo (exceto a China).

Os resultados do desempenho da economia em 2020 revelam que os custos das medidas adotadas para enfrentar a pandemia no Brasil, notadamente os lockdowns, foram bastante elevados. O Produto Interno do Brasil caiu 4,1% naquele ano (IBGE, 2021). Constata-se que apenas a agropecuária (+2%) teve crescimento na comparação com o ano de 2019. Por sua vez, a indústria teve uma queda de 3,5% e serviços de 4,5%. Os efeitos dessa recessão econômica em 2020 causou diminuição dos níveis de produtividade das indústrias; aumento do desemprego; diminuição da renda das famílias; queda nos níveis de investimento; perda de faturamento em comércios, serviços, entre outros efeitos danosos.

Diante desse cenário inquietante, agravado pela segunda onda da pandemia de covid-19, a principal indagação dos especialistas e do mercado diz respeito à consistência do processo de recuperação da economia brasileira em 2021. Assim, indaga-se: os indicadores do desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre permitem afirmar que a recuperação em 2021 irá ocorrer em forma de V? A recuperação da economia em forma de V ocorre quando, após uma queda abrupta da atividade econômica, acontece uma alta na mesma intensidade.

Os dados divulgados pelo Sistema de Contas Nacionais Trimestrais (IBGE) sobre o desempenho do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano indicam, em princípio, que a recuperação da economia está ocorrendo de forma consistente. Esse cenário positivo está respaldado na comparação do primeiro trimestre de 2021 com os últimos três meses de 2020, o que resultou no crescimento de 1,2% do PIB. Observa-se que a agropecuária foi favorecida pela melhora na produtividade e no desempenho de alguns produtos, sobretudo, a soja, que tem maior peso na lavoura brasileira e previsão de safra recorde este ano.

O avanço das indústrias extrativas (3,2%) ajudou a atividade industrial, que também registrou crescimento na construção (2,1%) e na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (0,9%). O único resultado negativo ficou nas indústrias de transformação (-0,5%). Os resultados positivos nos serviços, que contribuem com 73% do PIB, ocorreram em transporte, armazenagem e correio (3,6%), intermediação financeira e seguros (1,7%), informação e comunicação (1,4%), comércio (1,2%) e atividades imobiliárias (1,0%). Outros  serviços ficaram estáveis (0,1%). A única variação negativa ocorreu em administração, saúde e educação pública (-0,6%).

É importante destacar que, com esse crescimento de 1,2% no primeiro trimestre de 2021, o PIB retornou ao patamar do quarto trimestre de 2019. Os resultados positivos na agropecuária (5,7%), na indústria (0,7%) e nos serviços (0,4%) foram decisivos para a expansão da economia brasileira nesse primeiro trimestre de 2021. Registre-se que esse é o terceiro resultado positivo, depois das quedas de 2,2% no primeiro e de 9,2% no segundo trimestre de 2020 (o que explica o recuo em 4,1% do PIB naquele ano).

Constata-se que, apesar dos efeitos trágicos da segunda onda da pandemia de covid-19, a diminuição das restrições que impediram o funcionamento das atividades econômicas no país em 2020 foi decisiva para o crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2021. Os ganhos de eficiência e um ambiente externo favorável contribuíram para esse resultado animador. A elevação nos preços das commodities e a crescente adaptação das empresas e famílias ao cenário de pandemia também ajudaram para os resultados consistentes do PIB no período em análise. Isso explica a elevação, em cadeia, das projeções feitas pelos organismos internacionais, especialistas e mercado para o crescimento do PIB em 2021.

Assim, em que pese às variáveis econômicas que ainda pesam contra, como por exemplo, a chegada de uma terceira onda da pandemia, é posssível afirmar que existem fortes indícios de que a economia vai continuar se recuperando nos próximos trimestres, em decorrência do cenário externo favorável; vacinação em massa contra a covid-19 nos países desenvolvidos e emergentes (Brics), inclusive no Brasil; crescente abertura dos comércios; continuidade dos estímulos fiscais; elevação da confiança e do consumo das famílias. Nesse sentido, apoiado nos indicadores do desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre, pode-se argumentar que o crescimento da economia em forma de V é factível, sinalizando que o PIB pode alcançar o patamar de 5,5% no corrente ano.

(*) José Matias-Pereira é economista, advogado e doutor em Ciência Política pela Universidade Complutense de Madri.

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