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Devo falar sobre dinheiro com as crianças?

Por Lélio Braga Calhau (*) | 31/01/2015 14:00

No dia a dia do Fórum encontramos conflitos dos mais variados tipos. Muita coisa gira ao redor do dinheiro. Gente que se desentende por conta de dívidas ou compras mal feitas. Têm pessoas que não gostam de arcar com compromissos assumidos previamente, filhos que buscam interditar pais idosos para administrarem o seu dinheiro, ladrões que não gostam de trabalhar e preferem o crime como sustento de vida, gente que casa e se divorcia por amor e dinheiro, etc.

Tem de tudo. Juízes, promotores de justiça e advogados acompanham esses dramas diários. Uma grande parcela desses conflitos poderia ser resumida a única situação: falta de limites.

Diversos especialistas afirmam que é bom ensinar educação financeira às crianças. Uns defendem que o ensino deva começar aos quatro, outros, aos cinco ou seis anos. Cada um adota uma idade como referência e têm lá os seus motivos. Há quem defenda a existência de três cofrinhos: um para curto, outro para médio e o terceiro para economias de longo prazo - tudo para facilitar a assimilação dos princípios da educação financeira pelas crianças.

A meu ver, estão todos certos, não só pela necessidade de ser feito prematuramente, mas, também, pela importância de se preparar aquela criança em formação para um dos grandes desafios do ser humano na atualidade que desencadeia uma série de conflitos sociais: a tal falta de limite.

Nesse contexto, educar financeiramente as crianças é a transformação de um ser humano, um processo pedagógico onde os limites sociais são explicados e vivenciados em pequenas moedas num cofrinho e nas explicações de seus familiares. É um aprendizado que influenciará positivamente outras áreas de sua vida, pois há desejos, vontades, mas há limites. O dinheiro, então, serve de exemplo para que as coisas tenham um bom uso em toda a sua vida.

Não podemos continuar nessa fúria consumista global. O planeta não aguenta mais! Aquelas moedinhas, que as crianças aprendem a manusear, ajudam a formar um adulto com maior senso de limites e com a capacidade de entender que a Terra não pode continuar a ser saqueada e destruída como vem sendo feito há tempos. Á água acabou, os apagões de energia elétrica são iminentes e as matas vão sendo devastadas e só não vê quem não quer.

Fruto dessa educação financeira social deficiente, nos transformamos nas últimas décadas em adultos que não analisam a fundo o limite dos recursos disponíveis (e o dinheiro está incluído nisso), gastamos, consumimos e saqueamos o planeta mais e mais. Não vou apontar uma idade certa para se falar com crianças sobre dinheiro. Na minha visão, qualquer idade é excelente para se começar a educação financeira.

Todavia, tudo aponta que quanto mais cedo aquele cofrinho for dado para uma criança e sua família passar a lhe explicar sobre como funciona o dinheiro e sobre as suas limitações, haverá um adulto mais bem preparado para enfrentar um mundo com cada vez menos recursos disponíveis (financeiros ou não) e estará sendo formado adequadamente. A Terra agradece, também!

(*) Lélio Braga Calhau é promotor de Justiça de defesa do consumidor do Ministério Público de Minas Gerais. Graduado em Psicologia pela UNIVALE, é Mestre em Direito do Estado e Cidadania pela UFG-RJ e Coordenador do site e do Podcast "Educação Financeira para Todos".

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