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Diversificação: O segredo do sucesso

Ademar Silva Junior (*) | 02/06/2012 11:09

A necessidade da diversificação da produção remonta a própria existência humana e não são poucos os relatos de civilizações que pereceram por não se atentarem a esta necessidade. Um dos relatos mais marcantes é o episódio conhecido como “A grande fome de 1845 a 1849” na Irlanda, que causou a morte de um milhão de pessoas e forçou a imigração de mais um milhão. Isso ocorreu porque boa parte da população irlandesa dependia unicamente da batata para sobreviver e se alimentar. Na década de 1840 o fungo Phytophthora infestans dizimou o cultivo de batatas em quase toda a Europa, e dividiu a história da Irlanda em pré-fome e pós-fome.

Podemos citar também um exemplo nacional. De 1866 a 1913 vivemos no Brasil o ciclo da borracha, uma época em que a forte demanda européia por borracha natural fez com que surgisse em meio a floresta amazônica os “Barões da Borracha”. Estes exploravam as seringueiras nativas, exportavam a produção e acumularam riquezas que fizeram surgir as metrópoles de Manaus e Belém. Entretanto cometeram o mesmo erro dos irlandeses, ou seja, não pensaram em buscar novas atividades produtivas. A partir de sementes de seringueira pirateadas para Inglaterra, países da Ásia passaram a cultivar seringueiras e a produzir borracha natural em volume e com um custo muito infereior a borracha natural extraida das matas amazônicas. O resultado foi a falência dos Barões da Borracha e a quase extinção da produção de borracha natural a partir do extrativismo de árvores nativas.

A busca pela diversificação passa pelo conhecimento das oportunidades de mercado. Não basta simplismente produzir por produzir, é preciso saber para quem vender. Falando especificamente no Mato Grosso do Sul, é sabido de muitos que a Costa Leste do Estado vem se tornando um dos maiores pólos florestais do país, que deve alcançar, até 2020, a marca de 1 milhão de hectares de cultivo florestal. Isso vem acontecendo devido à instalação de grandes fábricas de celulose naquela região. Via de regra, áreas de cultivo de eucalipto para celulose vem sendo implantadas em áreas arrendadas de produtores rurais.

Baseado nesta observação e atento (acredito que “antenado” é jovial demais, nesse caso”) nas oportunidades de mercado, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-MS) criou o Programa Mais Floresta. Por meio dele, tem sido possivel levar informações sobre os potencialidades do mercado florestal aos produtores rurais de Mato Grosso do Sul, mais precisamente os que estão na Costa Leste, região Nordeste e Norte do Estado, que são regiões dominadas pela pecuária de corte extensivo em áreas em que grande parte das pastagens estão degradadas. A proposta é que estes produtores conheçam as oportunidades de mercado para produção de eucalipto, madeiras nobres e seringueira e passem a inseri-las em sua propriedade como atividade produtiva, sem ter que arrendar sua propriedade para uma empresa.

De julho de 2011 a agosto de 2012 serão realizados 19 Workshops Florestais. Dos 12 que ja foram efetuados, contabilizamos a participação de 1.107 produtores, que ouviram palestras sobre o mercado da borracha natural e do eucalipto, aspectos técnicos do cultivo de seringueira, potencialidades do cultivo do eucalipto junto com pastagens e quais a linhas de financiamento disponíveis para investimento na área florestal e a importância da diversificação dos investimentos.

Com a contribuição desta iniciativa, somada a outras ações, começam a surgir outras áreas de cultivo de eucalipto, principalmente em consórcio com a pastagem e também um pólo de produção de seringueiras na região Nordeste do Estado que já vem sendo chamado por especialistas da área florestal de “Arco da Borracha”, que inclusive já desperta o interesse de empresas de manufaturas. Isso representa a materialização de uma solução a partir de uma necessidade, bem como o surgimento de uma nova cadeia produtiva. É a diversificação funcionando em termos práticos.

Como falei no início, diversificar é o segredo do sucesso. A história de vários povos já nos mostrou isso. O SENAR-MS, por sua vez, está objetivamente realizando sua missão, que é promover a educação, a informação e o conhecimento em agronegócio a comunidade rural de MS, com inovação e competência, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico do Estado.

(*) Ademar Silva Junior é presidente do Conselho Administrativo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso do Sul e Presidente da Comissão Nacional de Silvicultura e Agrossilvicultura.

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