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Finalmente o sistema plantio direto terá palha!

Renato Roscoe (*) | 09/04/2013 10:00

Uma das maiores dificuldades de se estabelecer plenamente o sistema plantio direto (SPD) é a produção adequada de palha. Principalmente na região central do Brasil, onde as temperaturas são elevadas e não há restrições hídricas severas, a taxa de decomposição dos resíduos é elevada e não se consegue uma adequada formação de palhada.

A cobertura do solo é um ponto chave no SPD. A palha protege da incidência direta dos raios solares na superfície, mantém a temperatura amena, evita a perda de água por evaporação e aumenta a sua taxa de infiltração. Com isso há a redução do escorrimento superficial e, consequentemente, da erosão. O material orgânico, ao entrar na matriz do solo, funciona como fonte básica de energia para os microrganismos e para fauna, possibilitando que os mesmos melhorem as condições químicas e físicas do solo.

A agricultura do norte do Paraná, passando por Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Tocantins, e finalizando por um lado no Maranhão, Piauí e sul do Pará, e pelo outro em Rondônia, é dominada pela cultura da soja no verão. Quando as condições climáticas e de solo são favoráveis, há a sucessão com o milho safrinha. Essa sucessão de culturas, com soja no verão e milho safrinha no outono/inverno, deixa pouca palha no sistema. Com a elevada taxa de decomposição, o solo acaba, na maioria das vezes, descoberto.

Idealmente, a rotação de culturas traria mais benefícios para os sistemas agrícolas da região. Mas, infelizmente, não dispomos ainda de uma alternativa que possa dar a rentabilidade e atender à escala das grandes extensões plantadas com soja no Brasil Central. O consórcio milho safrinha com capins, notadamente as braquiárias e panicuns, têm mostrado excelente potencial para melhorar o sistema de sucessão. O capim aumenta significativamente o aporte de resíduos para o sistema, aumentando a permanência da cobertura de palha no solo e também a matéria orgânica do solo.

Em experimento de longa duração da Fundação MS, observou-se que, além de proporcionar ganhos médios de 5 sacos de soja ha-1 ano-1 durante sete anos, o consórcio com Braquiaria brizantha cv Marandu não ocasionou perdas na produtividade do milho safrinha. Em anos de menores precipitações, a soja no sistema consorciado chegou a produzir 15 sacos a mais que no sistema onde ia o milho solteiro na safrinha. Outro ponto importante foi o aumento na matéria orgânica do solo na ordem de 15% quando comparado o sistema consorciado com o sem capim. Este aumento correspondeu a uma taxa de absorção de carbono de 1,6 t de C-CO2 ha-1 ano-1, mostrando um excelente potencial desse sistema em mitigar os gases de efeito estufa.

A introdução dos capins na sucessão soja – milho safrinha não resolve a questão da rotação de culturas, mas pelo menos acrescenta mais matéria orgânica no sistema, melhorando a cobertura do solo e as características físicas, químicas e biológicas do mesmo. Essa melhoria tem refletido em melhores produtividades da soja, pois o sistema fica mais protegido de possíveis estresses hídricos. Finalmente, graças ao consórcio milho safrinha com capins, conseguimos aumentar a matéria orgânica dos solos em sistema plantio direto na região dos cerrados brasileiros, melhorando a produtividade, a qualidade do solo e ainda combatendo o efeito estufa!

(*) Renato Roscoe é engenheiro agrônomo (UFV, 2005), mestre em ciência do solo (UFLA, 1997) e doutor em environmental sciences (Wageningen University And Research Centre, 2002). Atua como diretor executivo e pesquisador no setor fertilidade do solo na Fundação MS.

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