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Manifesto pela não-violência contra mulheres

Por Leonel M. Bandeira (*) | 15/10/2012 13:57

Impressiona-me, há um bom tempo, a capacidade de nós seres humanos enxergarmos tão somente o que nos convém. Neste caso, em especial as mulheres que já sofreram ou sofrem algum tipo de violência doméstica.

Raro é o policial que não tenha se deparado com a lamentável cena: uma mulher toda lesionada chorando, cercada de crianças - que também choram - aponta pra um ser ignóbil que invariavelmente está embriagado. É impossível ficar indiferente. Não pensar que ali está um ser humano, que como todos os outros necessita de amor e carinho, tratado como um “bicho”.
Ocorre, todavia, que para a surpresa geral, esta mesma mulher - que há pouco soluçava – resolve “perdoar” seu agressor, alegando que este é excelente pessoa e tudo mais. Desculpem-me, mas não é. Não pode ser excelente pessoa um indivíduo que trata gente como se objeto fosse. Ademais, perdoar não é esquecer, tampouco aceitar...
Daí, posso ser rechaçado pelos órfãos de Nelson Rodrigues. Aqueles que pensam que mulher gosta de apanhar. Ou pior, “tem” que apanhar. Acreditem-me, já ouvi da boca de pessoas que cria sensatas este tipo de asneira. Ora, quem o fez, depositou, naquele mesmo instante, em minhas mãos dois atestados: o de corno e o de burro. O primeiro porque a mulher de hoje não é como a de outrora que se limitava a ficar em casa chorando as mágoas. Ela sai e desconta. Pode ter certeza. O segundo é desnecessário explicar.
Volto à questão inicial. E dirijo-me à mulher vítima de violência doméstica. Não quero passar por desacreditado na raça humana. Só que como dizia Graham Greene: “a inocência é uma forma de insanidade”. Assim, há que se perder a ingenuidade, caso não queiram ficar loucas. Crer, que é possível ser plenamente feliz, ao lado de alguém que a agride, é pueril. Porquanto qualquer laço humano pressupõe respeito. E um homem que lhe bate, se é que já teve algum por você, o perdeu faz tempo.
 Forçoso concluir que, não obstante os esforços envidados pelo Estado para coibir a violência contra a mulher, cabe à vítima, exclusivamente, mudar a própria história.
 
(*)  Leonel M. Bandeira é escrivão de Polícia Civil
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