Mato Grosso do Sul: terra indígena desde os primórdios
Debates atuais, principalmente entre os mais abastados, poderosos e representantes das elites sociais e políticas, trazem à sociedade a presença indígena em Mato Grosso do Sul como um certo entrave ao progresso, desenvolvimento e crescimento do estado. Diante desse desafio, principalmente aos povos originários locais, como trabalhar um enfrentamento a esse tipo de desinformação e trazer a público uma maior compreensão da valiosa história dos povos originários do passado e do presente destas terras locais?
O que grande parte dos sul-mato-grossenses ainda desconhece é a vibrante presença indígena neste estado desde tempos remotos. Assim, toda vez, por exemplo, quando a mídia traz a notícia de uma retomada de território por parte de um determinado povo, comentários racistas, preconceituosos e depreciativos multiplicam-se.
No não entendimento daquilo que é a cosmovisão dos povos originários quanto às suas terras e da história de pertencimento a esses territórios, grande parte da população local age em ataque àquilo que é luta justa e, inclusive, com base em texto constitucional.
Por aqui estamos há milhares de anos, através da presença ancestral que escreve a nossa história desde tempos memoriais antecedendo a chegada destrutiva do não indígena que tentou de vários meios promover nosso apagamento total. Mato Grosso do Sul é terra indígena, desde a história mais remota da humanidade e a ciência tem trazido provas disso.
Muito ainda precisa ser feito, para que o estado conheça de forma mais ampla e consciente sobre os povos indígenas que compõem o Mato Grosso do Sul. Várias ações são necessárias para que, no contexto local, o estado conheça mais a fundo a respeito da presença milenar dos povos originários, tanto no estado, como no Brasil e por todo o continente americano, incluindo-se aqui as Américas do Sul, Central e do Norte.
Um destaque importante tem relação com o trabalho desenvolvido nos espaços escolares, pelo qual os professores se empenhem muito mais na divulgação de informações claras, precisas e destituídas de estereótipos que envolvam as temáticas da história de existência e de resistência dos povos indígenas hoje presentes no atual Mato Grosso do Sul.
Pelo fato do debate ser amplo, podemos, com esse destaque, refletir sobre esse ambiente tão estratégico que é a escola, quando o objetivo é fazer com que a atual sociedade reflita mais a respeito da temática indígena. Muitas outras ações podem ser pensadas e desenvolvidas neste sentido, inclusive em outros espaços importantes.
Em suma, o estado não conhece como deveria de fato conhecer a respeito da temática que envolve a nossa presença por estas terras. Esse conhecimento contribuiria em muito no combate a todas as ações que bem de perto temos experimentado, quando o assunto é o desrespeito à nossa história de lutas, de existência e resistência até aqui.
(*) Kleber Gomes, indígena terena, professor e mestre em Ensino de História pela UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul)
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