ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 19º

Artigos

Mulher de setenta

Por Heitor Freire (*) | 06/04/2015 09:16

De repente, não mais que de repente, percebi que minha mulher passara dos setenta anos. E observei que ela estava mais alegre, ativa e carinhosa, do que sempre. Ou seja, atingir essa idade não teve nenhuma influência negativa. Pelo contrário. E comecei a constatar quantas mulheres conheço que estão na mesma situação. É impressionante, pelo número e pela qualidade.

A mulher como protagonista principal da espécie humana, e que em média vive 5 anos a mais que o homem, atinge hoje o patamar de setenta anos, ostentando uma disposição invejável, conquistando espaços, realizando ideais, mantendo uma atenção ativa em todos os aspectos da vida nacional, interessando-se como nunca por política com uma participação efetiva em movimentos sociais como se comprovou com as manifestações que ocorreram e ocorrem em nosso país.

Historicamente a mulher sempre mereceu destaque em toda a trajetória da humanidade. Embora a história sempre se refira aos homens e a seus feitos, quem consegue ler nas entrelinhas, observa sempre o papel, às vezes oculto, mas sempre presente das mulheres. Desde Eva, passando por Sara, Cetura, Agar, Rebeca, Raquel, Lia, Bala, Zelfa, Séfora, Rute, Judite, Ester, Dalila, Abigail, Betsabé, Maria Madalena, Maria, entre tantas outras tiveram ações que marcaram suas presenças no tempo e nos espaço.

“A mulher de trinta anos” talvez seja o título mais conhecido de Honoré de Balzac. Foi este romance que originou o termo "balzaquiana" para designar mulheres mais maduras. Neste livro o autor penetra de maneira ampla e generosa na alma feminina, a ponto de merecer de sua amiga Zulma Carraud as seguintes linhas: "Você tem uma inteligência do coração das mulheres que nunca foi dada a nenhum outro homem... nunca um homem conseguiu entrar mais fundo na existência delas...". Balzac, em “A mulher de trinta anos”, foi um precursor do feminismo, ao mostrar Julie, a infeliz heroína, às voltas com problemas fundamentais da vida amorosa e sentimental das mulheres e com o fracasso do casamento.

Conforme apontaram os críticos Gabriel Hanotaux e Georges Vicaire, "Balzac prestou às mulheres um serviço imenso, que elas nunca lhe poderão agradecer suficientemente, pois duplicou para elas a idade do amor... Curou o amor do preconceito da mocidade".

Pois bem, imaginem que Balzac segundo seus críticos “duplicou para elas a idade do amor...” isso cantando e exaltando a mulher de trinta. Roberto Carlos cantou a mulher de quarenta. Martinho da Vila, todas as suas mulheres.

Ao longo dos tempos vários escritores, cantores e homens de todos os quadrantes continuamente cantam a mulher e suas virtudes. Quem hoje poderá merecer a laudatória de duplicação da idade do amor da mulher de setenta? Quem alcançou e conquistou a posição de destaque foram elas mesmas. Por seus próprios méritos. A experiência adquirida ao longo dos anos passa a ser valorizada e essa é a maior beleza que a mulher pode ter nessa fase da vida.

A mim, cá do meu canto como testemunha ocular do que afirmo, só me resta cantar, louvar e agradecer: Viva a mulher de setenta!

(*) Heitor Freire – corretor de imóveis e advogado

Nos siga no Google Notícias