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No centro do palco

Por Dante Filho (*) | 09/12/2014 16:02

A acareação de Paulo Roberto Costa (“o amigo Paulinho”e Nestor Cerveró, na CPMI da Petrobrás, na última terça-feira, é um dos documentos humanos mais importantes de nossa história contemporânea porque permitiu o confronto de dois personagens emblemáticos que mexem profundamente com o imaginário e os sentimentos da sociedade brasileira. Ali estava a síntese do Brasil encontrando-se consigo mesmo.

No futuro, quando os desdobramentos desse escândalo chegar aos vetores reais da punibilidade, vamos recordar esse momento como chave de todo o processo. Quem viver, verá.

Na superfície, Paulinho e Cerveró estavam, respectivamente, representando o sentimento de culpa e o cinismo que viceja na Pátria neste instante. Nas esferas mais profundas, tudo ali, naquele ambiente teatral, emblematizava os traços fundamentais da tragédia e da comédia nacionais.

Dois homens que durante muitos anos manipularam bilhões e bilhões de dólares, frente a frente, com seus advogados, acompanhados e escrutinados por parlamentares, sob o olhar da mídia, apresentavam-se ao País numa espécie de simbologia essencial sobre o que é a verdade e a mentira num contexto em que o cidadão é grande vítima, e o Estado, com seus poderes tentaculares, o veículo da infâmia e da vilania. Nada mais filosófico, poético e dramatúrgico.

Um detalhe chamou a atenção: a barba branca de Paulinho. Em poucos meses ele vem mudando sua imagem pessoal. Durante a fase de denúncia, ele estava imberbe, com leve sorriso no canto dos lábios. Depois da prisão, entrou em cena o personagem sóbrio, ostentando um bigode meio canhestro.

Agora, depois da delação premiada, o que se vê é a imagem do “rei deposto”. Na obra monumental do historiador Johan Huizinga, “O outono da Idade Média”, acreditava-se que cabelos e barbas detinham poderes mágicos que poderiam redimir as culpas e pecados. Talvez Paulinho, nesta altura dos acontecimentos, tenha decidido apegar-se a alguma crença na esperança de se ver livre de toda a enrascada em que se meteu. Não será fácil.

Neste sentido, a impressão que tive de Nestor Cerveró é de que ele ainda não está plenamente convencido que pertence a esse mundo. Jura inocência e repete que não sabia de nada. Sua aparência física permanece a mesma. Que cada um tire suas próprias conclusões desse fato.

Reflexão que se faz necessária. A corrupção é a rendição do egoísmo à ganância. Muitos perguntam as razões pelas quais pessoas com salários estupendos, homens ricos, herdeiros portentosos, arrivistas de esquerda cedem voluntariamente ao crime, roubando dinheiro público.

O fenômeno do Petrolão é esclarecedor. Há milhares de explicações na praça, indo do fator biológico, genético, comportamental, enfim, dados irrecorríveis da natureza humana e até mesmo animal. De pouco adianta sistemas de controle e leis fortes, o sujeito parece não resistir à tentação de aproveitar oportunidades de subtrair para si aquilo que subjetivamente é de todos.

Não interessa que a conseqüência final seja a imensa desigualdade que permanece no entorno. Ao contrário, isso parece estimular corruptos a encontrarem meios e formas criativas para roubar. O Brasil atual é um exemplo notável deste processo. Mas nada disso é novo: a historiografia vigente mostra atos corruptos desde a idade da pedra. Claro que numa sociedade como a nossa, na qual o consumismo e a ostentação tornaram-se valores supremos, o dinheiro transformou-se no maior fetiche de poder que se tem notícia.

Num ambiente como esse, os ricos ficam mais gananciosos e os pobres mais ressentidos. Só com mecanismos de absoluta transparência (pelos quais teremos que cada vez mais abrir mão de nossa privacidade) é que a corrupção poderá ser mitigada no mundo. E olha que ainda estou sendo ingênuo.

Presidência do legislativo estadual. De longe, tem-se que a impressão de que há três deputados disputando a presidência do Poder Legislativo de Mato Grosso do Sul: Júnior Mochi, Zé Teixeira e Paulo Corrêa. O governador eleito Reinaldo Azambuja afirmou que não interferirá neste processo. Acredite quem quiser.

Se Mochi for eleito a sombra de Puccinelli ficará pairando nos céus do próximo governo durante dois longos anos, até as eleições municipais.

Se o escolhido for Zé Teixeira, haverá uma compensação no processo de equilíbrio de poder, pois ele foi negligenciado quando da escolha da vice-governadoria.

Já com o deputado Paulo Corrêa, aí é outra história: esse é pragmático o suficiente para aderir ao governo (qualquer governo) e defendê-lo com mais competência e denodo do que qualquer parlamentar do PSDB.

(*) Dante Filho é jornalista.

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