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Nos tempos da Rua Dom Aquino II

Por Heitor Freire* | 03/11/2011 14:32

Campo Grande é uma terra maravilhosa e dadivosa para mim. Dos meus 71 anos, 57 foram vividos aqui. Considero um privilégio viver nesta terra.

Na Rua D. Aquino, um pouco para baixo, mais perto da Avenida Calógeras, existia antigamente o Inca Hotel, de propriedade da da. Elin, mãe do Jofre Leite Brun, meu irmão e amigo pessoal. Durante um período a Rosaria, minha mulher, que estudava no colégio das irmãs, ali se hospedava. No mesmo tempo também morava no hotel, o Darlan Leite Soares, sendo então um conhecido antigo da Rosaria.

Quando começamos a trabalhar juntos, eu e o Darlan, num dia qualquer ele se encontrou com a Rosaria, reatando assim uma antiga amizade. Isso acabou também consolidando o nosso relacionamento. Uma vez, num acerto de contas entre nós, tornei-me credor do Darlan, de uma certa importância. Sem documento, negócio entre amigos, sem juros (nunca cobrei juros de ninguém, graças a Deus, embora tenha muitas vezes pago juros extorsivos). Só que o tempo passava e nada de pagamento.

Nesse período o Darlan adquiriu um ponto na Avenida Mato Grosso, onde instalou um trailer, para vender cachorro quente e sanduíches, a que deu o nome de Urtigão. E me fez uma proposta: pagar o seu débito mediante o fornecimento de lanches para as minhas (inúmeras) filhas. Eu fiz as contas, daria um zilhão de sanduíches. Mas aceitei a proposta o que deixou as gurias muito contentes. Assim, umas duas vezes por semana, à noite, nós nos dirigíamos para a lanchonete do Darlan. Era uma festa. O Darlan permitia também que elas atendessem seus clientes, preparando os sanduíches, o que fazia com que se sentissem importantes. Até que uma noite, após as gurias comerem os seus lanches, ele chegou dizendo: “Heitor, essas meninas comem muito e o meu capital de giro está acabando. Assim, só desta vez, não daria para você pagar?”. Atendi o seu pedido. Só que a partir daí, a cada duas noites, uma eu pagava. Ou seja, o meu crédito foi para o espaço. Mas a amizade permaneceu incólume.

O Darlan era noivo da Lúcia, que tinha uma escola de datilografia, onde a minha filha Flávia aprendeu a “teclar”. Ela gostou tanto que se tornou jornalista, profissão que exerce com toda maestria. O Darlan ficou noivo da Lúcia por 25 anos. E não se casou com ela. E agora, após quase 30 anos, o Darlan me cai do céu resolvendo satisfatoriamente para mim, uma questão que se arrastava intrincada.

Outro fato interessante acontecia no edifício Arnaldo Serra, na rua Dom Aquino – em frente às Americanas, onde eu morava com a minha família na década de 70. O prédio não dispunha de área de lazer nem de garagem. Não havia espaço para as crianças do prédio brincarem: elas ficavam restritas aos apartamentos e aos corredores. E as minhas meninas sempre foram muito ativas. Logo inventaram de tocar a campainha dos apartamentos e corriam a se esconder para ver o que acontecia. Cada morador que atendia e não encontrava ninguém ia se queixar ao “seu” Maguetta, síndico do edifício.

Uma vez, a minha filha Andréa, tocou a campainha do apartamento do próprio “seu” Maguetta no momento em que ele se preparava para sair. Deu de cara com ela, que perdeu o rebolado, mas sendo muito esperta, logo disse que estava pedindo uma xícara de açúcar para sua mãe. O “seu” Maguetta olhou bem para ela, e perguntou: “ Cadê a xícara?”. Ela disse que iria buscar e sumiu no infinito. Foi um santo remédio, nunca mais fizeram isso. Andréa chegando em casa foi logo se justificando com a Rosaria que ficou morrendo de vergonha.

Como o nosso apartamento se localizava na área central da cidade, e também pelo carinho com que a Rosaria tratava nossos parentes que moravam no interior, estes eram nossos hóspedes com certa freqüência, quando vinham para tratar de assuntos comerciais ou de saúde.

Como é gostoso viver aqui e recordar estas coisas.

(*)Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado

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