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O desafio da escolha profissional

Por Kamila de Souza (*) | 19/03/2019 10:07

A escolha profissional, apesar de ser um processo esperado, é, também, um pouco complicada, uma vez que envolve não só optar por um curso superior ou investimento em algum segmento do mercado, mas em um posicionamento diante do próprio desejo, das próprias expectativas, bem como das expectativas familiares, sociais, econômicas, dentre outras.

“O que você quer ser quando crescer?” o primeiro questionamento sobre algumas decisões que serão necessárias para o nosso futuro. Normalmente, as crianças respondem sob o viés da escolha de uma profissão. Certa vez, me surpreendi com um garoto de 11 anos que me dizia das profissões com as quais sonhava: borracheiro, caminhoneiro, serralheiro e, por último, depois de participar de uma mega formatura do curso de medicina, decidiu, por alguns momentos, que seria administrador de empresas, pois, assim, poderia ter o negócio que quisesse, inclusive uma empresa que promove festas incríveis, já que todo negócio demanda administração. Ousado, inteligente ou só uma criança com sonhos?

Esse garoto me chamou a atenção por não submeter os seus sonhos aos padrões e demandas externas. Ele não estava preocupado com o quanto ganharia, com o prestígio social que alcançaria ou os pais, amigos e familiares o tratariam. Sua única preocupação era a de escolher uma profissão possível de lidar com as adversidades e, mesmo assim, estar satisfeito com a escolha.

Talvez seja por andar na contramão da nossa vontade que sofremos tanto ao pensar na escolha de um caminho, de uma profissão. Mas, qual é essa vontade? O que você quer? Do que você gosta? Você sabe e, principalmente, reconhece no que você é bom? O que você precisa melhorar, mudar? Você não é bom em quê? São perguntas que nos desorganizam, nos deixam, muitas vezes, sem respostas e implicados em pensar sobre o que estamos fazendo com o nosso próprio destino.

Pensar sobre a própria vida é trabalhoso e envolve uma responsabilidade imensa, pois, independente do que aconteça, responderemos às consequências. Não serão os nossos pais, a sociedade, o governo, o companheiro...seremos nós! Sofremos influências sim do meio em que vivemos, das pessoas com quem partilhamos os dias, isso é inquestionável. Todavia, se sabemos dos nossos desejos, sustentamos a nossa posição e lidamos, da melhor forma possível, com o discurso do outro.

Seguindo essa lógica, é disso que se trata um processo de análise e/ou de orientação profissional. A orientação é um processo de produção de conhecimento sobre as próprias habilidades, comportamentos, sonhos e outros pontos pessoais alinhados a uma produção sobre a realidade profissional em vista (cursos, universidades, mercado de trabalho, perspectiva de carreira). Esse processo fornece subsídios para uma escolha possível.

Já o processo analítico, além de tudo isso e de implicar o sujeito em seu desejo e em suas dúvidas, propicia o desenvolvimento da maturidade para a escolha. Esta diz da posição de saber lidar ou não com aquelas informações de si, da realidade profissional, com as expectativas familiares, com as adversidades enfrentadas não só na profissão, pois são imprevisíveis, mas com as intercorrências que poderão surgir na vida.

Talvez, esse processo seja um espaço não de fazer desaparecer a angústia da escolha, mas de dar suporte para que ela seja manejada da melhor forma possível, já que cada escolha remonta em uma renúncia, em uma perda. A angústia é uma constante, pois escolhas e a responsabilidade sobre elas também é constante.

Escolher uma profissão pode ser fácil para alguns e difícil para outros. Mas, independentemente disso, é importante questionar-se do porquê da escolha e se você está realmente disposto a pagar o preço por ela. Isso não significa que você não possa mudar de ideia, ter outras opções, trocar os seus investimentos de tempo, energia e dinheiro. Pode significar que você tenha que pensar sobre como construir a vida que você quer, a partir das escolhas que você faz!

(*) Kamila de Souza é psicóloga, pós graduanda em saúde mental. 

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