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O educador Darcy Ribeiro: da inquietação ao Beijódromo

Por Isaac Roitman (*) | 05/12/2010 08:03

Alguns meses depois do lançamento da primeira semana de arte moderna, nasce em Montes Claros no dia 26 de outubro de 1922 uma das personalidades mais inquietas do século passado. Filho de farmacêutico e professora, concluiu seus estudos primários e secundarios em sua cidade natal. Mudou-se para o Rio de Janeiro com o objetivo de estudar Medicina.

Depois de três anos abandonou o curso. Foi para São Paulo e graduou-se em 1946 na Escola de Sociologia e Política. Até 1956 trabalhou junto aos índios do Pantanal, Brasil Central e da Amazônia. Fundou o Museu do Índio, criou o Parque Índigena do Xingu e escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa índigena.

Nos anos seguintes, dedicou-se à educação primária e superior. Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira convidados pelo chefe da Casa Civil da Presidência da República, elaboraram o ante-projeto da Universidade de Brasília com a colaboração de cientistas e pensadores, cúmplices na grande aventura de reflexão sobre o modelo universitário brasileiro.

Em 1960, Darcy assim se expressou: “Comecei então a argüir sobre a necessidade de criar também uma universidade e sobre a oportunidade extraordinária que ela nos daria de rever a estrutura obsoleta das universidades brasileiras, criando uma universidade capaz de dominar todo o saber humano e colocá-lo a serviço do desenvolvimento nacional”.

Em 21 de abril de 1962, no segundo aniversário da nova capital, a UnB foi inaugurada, em cerimônia no Auditório Dois Candangos, que ficou pronto 20 minutos antes da solenidade. Darcy foi seu primeiro reitor.

Posteriormente foi ministro da Educação e depois ministro-chefe da Casa Civil de João Goulart, onde coordenava a implantação de reformas estruturais quando sucedeu o golpe militar de 64 que o levou ao exílio. A propagação de suas ideias rompeu fronteiras. Viveu em vários países da América Latina, conduzindo programas de reformas universitárias.

Retornou ao Brasil, em 1976, dedicando-se à educação e à política. Foi eleito vice-governador do Estado do Rio de Janeiro (1982) e coordenou o Programa Especial de Educação com o encargo de implantar 500 Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS) - escolas de turno completo para crianças e adolescentes -.

Em 1991 foi eleito como senador da República, onde elaborou e fez aprovar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), sancionada pelo Presidente da República em 20 de dezembro de 1996. Planejou e fundou (1994), em Campos dos Goytacases, no Rio de Janeiro, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), que hoje leva o seu nome, com a ambição de ser uma Universidade do Terceiro Milênio. Em 1995 recebe o título de Doutor Honoris Causa da UnB.

Darcy Ribeiro deixa uma vasta obra literária tendo sido eleito em 1992, como membro da Academia Brasileira de Letras. Darcy faleceu em 17 de fevereiro de 1997. No seu último ano de vida, dedicou-se a organizar a Universidade Aberta do Brasil, com cursos de educação a distância, e a Escola Normal Superior, para a formação de professores de 1º grau. Implantou a Fundação Darcy Ribeiro com o objetivo de manter sua obra viva e elaboraração de projetos nas áreas educacional e cultural.

Paulo Ribeiro, sobrinho de Darcy que preside a Fundação assim se expressou: “Darcy Ribeiro era a consciência do Brasil, um grilo falante sempre alertando para as mazelas brasileiras, principalmente a falta de investimentos em educação”. O principal campus da UnB leva seu nome.

Recentemente, a UnB lançou uma revista de divulgação cultural e científica – Revista Darcy - homenageando esta figura ímpar da intelectualidade brasileira. Uma nova homenagem será prestada na UnB ao seu fundador. Em 06 de dezembro de 2010 por iniciativa da UnB, da Fundação Darcy Ribeiro e do Ministério da Cultura será inaugurado o Memorial Darcy Ribeiro.

Oportuna e merecida homenagem. O memorial foi idealizado pelo fundador da UnB e vai abrigar todo o acervo do antropólogo e educador e terá também um anfiteatro dedicado à convivência que foi carinhosamente apelidado de “Beijódromo” pelo próprio Darcy. Esse ousado e notável monumento assinado pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, manterá viva a voz e as idéias do inquieto e querido educador brasileiro. A UnB está em festa. Viva Darcy Ribeiro.

(*) Isaac Roitman é doutor em Microbiologia e professor aposentado da UnB. É presidente do Comitê Editorial da Revista Darcy.

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