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O par perfeito

Por João Bosco Leal (*) | 06/12/2013 08:57

Após se tornar sua "amiga" através de uma das atuais redes sociais, passaram a trocar diversas informações e descobriram que, apesar das vidas totalmente distintas, sempre distantes e de não possuírem nenhum conhecimento anterior, tinham muitos amigos comuns, seus pais moravam no mesmo prédio de um parente dele e ela conhecia sua família.

Tinham estudado em colégios e faculdades diferentes, mas de níveis semelhantes e moravam em regiões distintas do país. Era um homem oriundo de uma boa família, inteligente, educado, sensível e pelas mensagens que postava, soube que se tornara um escritor.

Seus textos e seus pensamentos, propostas, experiências e maneira de encarar a vida neles expressos, encantavam-na cada vez mais. Todos estes fatos e várias descobertas durante suas trocas de mensagens despertaram seu interesse em conhecê-lo pessoalmente.

Frequentemente o convidava para ir à sua cidade conhece-la, mas com muitos afazeres ele não podia atendê-la. Entretanto, abriu-lhe a possibilidade de se comunicarem através do Skype, onde poderiam se ver e expressar fisicamente seus sentimentos a respeito de qualquer assunto.

Era a abertura que faltava para um novo ingrediente naquele conhecimento: a atração física. Na primeira conversa seus olhos já brilhavam ao vê-lo ali bem diante dela, usando bermuda e sem camisa, sentado na poltrona e diante do teclado onde escrevia as coisas de que tanto gostava.

As conversas começaram com as palavras normalmente trocadas em situações semelhantes: coincidência, conhecidos comuns, mundo pequeno, mas logo foram se tornando mais soltas, desinibidas, como se entre dois velhos amigos que guardavam segredos mútuos.

Pelos monitores eles não só se viram como começaram a se insinuar, se provocar, se mostrar e em muito pouco tempo, se desejavam alucinadamente. Apesar da aparente presença física, estavam a quilômetros de distância, o que a deixava bem mais à vontade.

Livre de preconceitos e tabus, nas ligações seguintes sabia exatamente onde aquilo a levaria e não demorava a erguer, abaixar, se desfazer das roupas e se tocar, deliciando-se com a visão do outro fazendo a mesma coisa até que entre ações, visões, palavras e sussurros estivessem completamente extasiados.

Aquelas cenas passaram a fazer parte de seu quotidiano e diariamente contava os minutos para que a noite chegasse e pudesse, novamente, no silêncio de seu quarto, sentir aquele fogo ardendo em suas entranhas. Era uma paixão diferente, por ela jamais sentida, onde só ocorriam sorrisos e prazeres.

Suas amigas, parentes e conhecidos jamais poderiam imaginar o que estava lhe provocando as mudanças notadas por todos e depois de tantos questionamentos sobre o que a fazia tão feliz, acabou confidenciando para sua melhor amiga, que a fez enxergar a realidade.

Como todos os que escrevem, aquele era um sonhador, que fantasiava suas buscas por uma companheira perfeita e colocava no papel o fruto de sua imaginação, seus sonhos, desejos e prazeres, mas como ela, também possuía seus problemas, ansiedades, medos e frustrações.

Provavelmente também havia sentido muitas paixões - algumas retribuídas, outras não -, possuía vontades físicas e emocionais como todos e talvez estivesse realizando aquelas fantasias com ela simplesmente para, naquele momento, não se lembrar de seu verdadeiro amor.

O par perfeito, sem defeitos e repleto de qualidades, só existe em nossa imaginação.

(*) João Bosco Leal, jornalista e empresário

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