ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, QUINTA  28    CAMPO GRANDE 23º

Artigos

O pecado mora ao lado

Por Octaciano Nogueira (*) | 17/08/2011 06:07

O mês de agosto é conhecido no calendário popular como o “mês do desgosto”. Para a Presidente Dilma não tem sido diferente.

No mesmo dia em que os jornais anunciaram mais uma espetacular ação da Polícia Federal, prendendo 35 servidores e dirigentes do Ministério do Turismo, O Globo fez um balanço com o título “Em seis meses, um balaio de escândalos”.

Na matéria estão relacionados: 1) O afastamento do ministro-chefe da Casa Civil, por não ter conseguido explicar como, em quatro anos, multiplicou por 20 seu patrimônio.

2) Sob pressão de seu próprio partido, e declarando não aceitar ser posta contra a parede, a Presidente trocou o ministro das Relações Institucionais pela da Pesca.

3) Acuada pela denúncia de que o filho do ministro dos Transportes tinha aumentado seu patrimônio pessoal em 86.500%, não teve outro recurso que demiti-lo. Com ele saíram 27 diretores dos órgãos que integram a estrutura daquela Pasta.

4) No Ministério da Agricultura a crise começou com a demissão da diretoria da CONAB, do irmão do líder do Governo no Senado. O ministro ainda se mantém no cargo, mas seu principal auxiliar, secretário geral do Ministério, pediu demissão, sob a acusação de tolerar a atuação de lobista que, entre outras prerrogativas, tinha sala privativa no Ministério.

5) Em entrevista ao semanário Veja, um ex-diretor do Banco do Brasil afirmou que o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, estava envolvido na fabricação de um falso dossiê contra seu concorrente José Serra, do PSDB, episódio conhecido como “dos aloprados”.

6) Antes que o mês chegue ao fim, a Polícia federal prendeu 35 dirigentes e servidores do Ministério do Turismo, entre os quais o secretário-geral, o 2º na hierarquia do Ministério.

Nenhuma das acusações e denúncias atinge ou envolve a Presidente, mas o seu Governo está no meio de um tiroteio poucas vezes visto na história política do país, a não ser em tempos de crise.

E o que é pior: a saraivada é, em grande parte, o que se convencionou chamar de “fogo amigo”. Poucas vezes um Presidente se viu forçado a uma corrida de obstáculos, como a que está submetida a atual Chefe do Governo.

A exceção talvez tenha sido o curto e desastrado governo de Jânio Quadros, de cujo equilíbrio mental muitos em sua época duvidaram. Dilma já ultrapassou a barreira simbólica dos sete meses. Mas ainda tem pela frente 40 meses de seu mandato.

Ela tem a sustentação não só os dois maiores partidos representados na Câmara, mas também uma confortável maioria no Senado. Não é da oposição, porém, que vêm as ameaças, pressões e intimidações. A principal razão é que, como se viu até agora, o pecado mora ao lado.

Trazer para seu governo os destroços do governo Lula, talvez tenha sido o seu único, senão o principal erro. O difícil não é sair do “imbróglio” que está metida, para desviar de si os golpes que vêm, sobretudo dos que deviam defendê-la.

(*) Octaciano da Costa Nogueira Filho é professor aposentado do Instituto de Ciência Política (Ipol) da Universidade de Brasília (UnB).

Nos siga no Google Notícias