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O planeta geme, por Laerte Tetila

Por Laerte Tetila (*) | 12/06/2012 14:29

As agressões ao meio ambiente continuam mais intensas do que nunca. A degradação ambiental está descontrolada e passa dos limites. Basta ver a camada de ozônio sendo esburacada e o efeito estufa aumentando; as temperaturas se elevando, a atmosfera sendo desfigurada, as geleiras derretendo, as águas apodrecendo e os desertos avançando. E o que dizer dos combustíveis fósseis, dos agrotóxicos, do lixo radiativo, do crescimento demográfico e do consumismo?

A pressão sobre o meio ambiente tornou-se assustadora e o planeta geme feito um organismo vivo, tal como na teoria de Gaia. Chegamos ao imponderável. A taxa de exploração dos recursos naturais já excede a taxa de regeneração. Incrível, mas o Planeta Terra já foi dilapidado 30 por cento a mais do que pode suportar, conforme alerta da própria comunidade científica mundial.

Este é o passivo ambiental; um passivo que vem recaindo sobre a Biosfera (sustentáculo da vida), cujo preço a humanidade vem pagando e com uma brutal e inaudita perda da biodiversidade.

É angustiante saber que mais de cem espécies, por dia, entre plantas e animais, estão sendo apagadas para sempre da face da terra. É a extinção que consumirá nada menos do que a metade da Biosfera, ainda neste século.

O corte na emissão de gases do efeito estufa tem sido um fracasso. Os centros de climatologia espalhados pelo mundo têm revelado a gravidade do problema. O aquecimento global não cessa e uma de suas múltiplas consequências é a desertificação, que já abrange mais de cem países, conforme a ONU, fato que já produziu cerca de 500 milhões de refugiados ambientais e, isso, para dizer o mínimo.

Muito embora a crise ambiental tenha se tornado um truísmo, poucos a têm levado a sério. Mesmo com o planeta emitindo sinais visíveis, sensíveis e mensuráveis de exaustão, mesmo com todos os indicadores demonstrando a amplitude dos estragos, a guerra pela apropriação dos recursos naturais que ainda restam segue mais intensa e desenfreada do que nunca. E com direito à tecnologia moderna.

É o ritmo ditado pelo consagrado padrão de produção e consumo, focado na maximização do lucro, que segue indiferente, pouco se lixando com os estragos ambientais e com o futuro da humanidade.

Nem mesmo os megaeventos mundiais, expondo com clareza científica a gravidade da crise, como a Conferência de Estocolmo (l972), a Carta da Terra (l987), o Protocolo de Kyoto (l997), a Eco-Rio (l992), a Cúpula Mundial de Johanesburgo (2002) e a famosa Agenda 21, têm sido suficientes para conter o ímpeto do binômio produtivismo-consumismo e seus efeitos arrasadores.

A sustentabilidade, magnífico conceito que visa satisfazer as necessidades presentes sem comprometer as gerações futuras, consolidada na Eco-92, hoje unânime e universal, infelizmente, só tem feito aumentar a frustração da ONU e da comunidade científica mundial, pois, quanto maior o acúmulo de informação e alerta, quanto maior o esforço pela conscientização, mais se tem dilapidado e destruído.

Por outro prisma, seria uma injustiça querer responsabilizar toda a humanidade pelo agravamento da crise, sem que apresentemos à luz do dia os protagonistas do produtivismo e do consumismo. E não é de se duvidar que tais medalhões, por ocuparem o topo da pirâmide econômica, nem se sintam como integrantes da humanidade.

Infelizmente, as iniciativas em favor do meio ambiente têm sido tímidas e apenas pontuais. A reconciliação e o novo pacto com a natureza ainda são palavras ao vento. O conceito do desenvolvimento sustentável, ainda que praticado com seriedade por alguns, já está sendo apropriado e transformado em oportunidade de bons negócios, através da propaganda enganosa. Daí o ceticismo quase unânime para com a Rio+20. Por essas e por outras, é que a velha máxima de Lampeduza nunca foi tão atual: "Que tudo mude para que tudo continue como está".

(*) Laerte Tetila é mestre em geografia física pela USP e deputado estadual (PT/MS).‏

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