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O sonho não realizado

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 14/10/2016 10:00

Há dias em que nos vem à mente só lembranças ruins e, com elas, indisposição e desânimo. Não é só o corpo que precisa de atividade, o cérebro também. É preciso combater a paralização e ter propósitos que dependem da força de vontade num mundo que conspira pela inação e indolência. A ação começa no espírito, na vontade que tem de ser transmitida ao cérebro e se externar em ações. Mas como pouco se sabe sobre a vida, o espírito jaz adormecido diante da árdua luta pela sobrevivência.

É preciso entender as causas da paralização e do marasmo. No Brasil eles têm duas origens: as condições externas de lutas pelo domínio econômico-financeiro e dos recursos naturais, somadas à falta de estadistas que visem o progresso e eficiência no trato das contas externas e internas; e a falta de preparo da população para um viver responsável e solidário.

A Inglaterra foi celeiro de mentes brilhantes que, com seus conhecimentos poderiam ter dado um curso benéfico para a trajetória da humanidade, mas faltou humildade espiritual e a participação de todas as capacitações para que um mundo melhor fosse construído. Em vez disso, estão surgindo distopias caóticas e reais. Água e ar são bens de valor inestimável, pois sustentam a vida. No entanto, o dinheiro foi colocado acima de tudo o mais. Florestas destruídas. Enormes áreas devastadas. Rios e mares poluídos. Reflorestar, sanear, despoluir, recuperar o solo já não são levados em consideração, pois não conferem renda financeira. Então que futuro poderá se apresentar?

O economista Celso Furtado (1920-2004) falou do sonho irrealizado no Brasil apesar dos recursos disponíveis. Afastada do solo real da vida, a humanidade só tem criado pesadelos. Como poderá sonhar uma geração que não lê, que não faz reflexões sobre a vida e o mundo, e que por essas razões acaba tendo visão curta, imediatista?

Sem dúvida está ocorrendo uma queda no discernimento e no bom senso. Falta a interação com o eu interior e a participação da intuição. As pessoas "vão levando" a vida no automático, sem prestar atenção no que estão fazendo, com o foco disperso em pensamentos confusos. É imperioso voltar a despertar a intuição, a simplicidade, a clareza e a naturalidade.

No filme “O homem que viu o infinito”, o jovem Srinivasa Ramanujan (Dev Patel), nascido em 1887, em Madras, na Índia, foi estudar cálculos matemáticos em Cambridge, Inglaterra, ao lado do racionalista professor Hardy (Jeremy Irons), destacando o confronto entre a intuição e a racionalidade. O filme não explica com clareza para que serve a matemática, nem como funciona a intuição, um dom natural concedido a todos os seres humanos. A matemática é fascinante pelo desenvolvimento dos cálculos e conclusões a que eles induzem, chegando a fortalecer no intelectual a arrogância de só acreditar no que se pode comprovar com o cérebro, levando ao encontro do ateísmo.

Para o espírito observador, que tem o eu interior desperto e faz questionamentos e reflexões intuitivas, a natureza revela a perfeição do Criador, e a regularidade do comportamento das séries numéricas mostram isso. A matemática e a geometria estão presentes em toda a natureza. A ciência dos números conduz ao conceito do infinito, que se acha além das capacidades cognoscitivas do cérebro, mas o racionalista não quer entender isso, de que existe muito mais além da capacidade cerebral restrita ao tempo e espaço.

Ramanujan sofreu o preconceito por ser indiano e por ter a capacidade de visualizar fórmulas e equações com a intuição, pois as leis naturais funcionam uniformemente em todo o universo, como a grande regularidade que se sintetizam nas fórmulas, mas descuidou da saúde. Temos de cuidar das necessidades do corpo atentamente, para permanecermos fortes e sadios para alcançar o autoaprimoramento e viver de forma construtiva e beneficiadora para realizar os sonhos.

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Prodigy Berrini Grand Hotel e é associado ao Rotary Club de São Paulo; é articulista e escritor

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