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Os males da insônia e a importância do tratamento adequado

Eduardo de Sousa Martins e Silva e José Carlos Rosa Pires de Souza (*) | 03/03/2021 07:24

A insônia pode ser definida como uma dificuldade persistente na iniciação e/ou na manutenção do sono, resultando em prejuízos em sua qualidade e duração; é um quadro complexo, com muitos malefícios à qualidade de vida. Nesse sentido, a insônia é considerada um problema público de saúde e estimativas apontam que até 30% da população mundial possa ser afetada pela condição. Não obstante, muitas pessoas, infelizmente, ainda enxergam a insônia como um mal “menor”, não dando a devida importância à falta de sono e, dessa forma, não buscando ajuda profissional para tratar o problema. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a insônia afeta, em algum grau, até 40% dos brasileiros, mas poucos procuram assistência profissional.

O sono é um processo fundamental para a vida humana e, normalmente, costuma-se pensar, de maneira errônea, que dormir é um processo passivo em que o cérebro entra em um estado de baixa atividade. No entanto, as pesquisas científicas das últimas décadas revelam que o sono é um fenômeno extremamente dinâmico; e que não só compensa o tempo que passamos inconscientes, mas também melhora a eficiência de nossas ações acordados. O ato de dormir se associa com a plasticidade neuronal; e com a forma como certas regiões do nosso cérebro e mecanismos fisiológicos do nosso corpo se recuperam e se adaptam diariamente. O sono influencia a memória, o aprendizado, o humor, a imunidade, a temperatura corporal, entre outros processos.

Os males da insônia, por consequência, vinculam-se a maiores riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial sistêmica (popularmente conhecida como “pressão alta”), transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, irritabilidade excessiva, falta de concentração, problemas de memória, diminuição da imunidade e câncer. De forma geral, a maioria dos casos de insônia são causados por maus hábitos relacionados ao sono e podem ser facilmente tratados; as sequelas da insônia crônica, no entanto, são bem mais difíceis de serem remediadas.

O uso excessivo de bebidas estimulantes como café, refrigerantes, energéticos, chimarrão e tereré atrapalha com que se inicie e se mantenha o sono. A cafeína, uma substância encontrada em vários destes produtos, é conhecida pelas suas propriedades estimulantes de diminuir o cansaço e de aumentar o foco.  No entanto, o tempo médio para que ela saia do organismo é de, aproximadamente, 16 horas. Isso faz com que o seu consumo possa ocasionar episódios de insônia e diminuir a qualidade geral do sono.

A realização de atividades na cama como ver televisão e mexer no celular são práticas comuns, mas que podem dificultar com que o indivíduo consiga relaxar e iniciar o sono. Os ruídos e a luminosidade da televisão, bem como a distração que o celular fornece, atrapalham o adormecimento e podem levar, em longo prazo, a quadros psicológicos em que o indivíduo não relaciona mais a sua cama e o contexto noturno como um momento de descanso. Nessa circunstância, é normal que apareçam casos de ansiedade relacionada ao sono, em que o indivíduo se acha incapaz de dormir; ou tenta excessivamente adormecer e não consegue iniciar o sono, devido ao nervosismo da situação e à preocupação.

O tratamento da insônia pode ser não farmacológico, baseado em hábitos relacionados à “Higiene do Sono” (evitar estimulantes, evitar exercícios físicos perto da hora de dormir, criar uma rotina com horários fixos para o sono, entre outros) e em terapias comportamentais, que ajudam o indivíduo a lidar melhor com a situação por meio de técnicas psicoterápicas. O tratamento farmacológico deve ser feito sempre por profissionais especializados e em situações específicas que, realmente, exijam intervenção medicamentosa. A automedicação para tratar a insônia é um problema grave que pode gerar dependência pela substância, além de interações medicamentosas com outros fármacos e sequelas. A insônia é tratável, mas por profissionais especializados. Caso esteja passando por situações de dificuldade em manter ou iniciar o sono, procure assistência profissional.


(*) Eduardo de Sousa Martins e Silva é acadêmico do curso de Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e José Carlos Rosa Pires de Souza é psiquiatra, PhD em saúde mental, especialista em Medicina do Sono e professor do curso de Medicina da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

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