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Os refluxos da crise econômica mundial no Brasil

Por José Matias-Pereira (*) | 16/08/2011 10:30

Está ficando evidente que nenhuma economia está imune aos efeitos dos recentes refluxos da crise na economia mundial. A recaída da economia mundial - decorrente das medidas inadequadas que foram adotadas para conter a crise econômica global que eclodiu nos Estados Unidos (EUA) no final de 2008 – está colocando a sociedade mundial novamente em alerta.

Verifica-se, nesse contexto, que os países desenvolvidos possuem espaço menor de manobra diante da crise de dívida que atinge a Europa. É preciso alertar, entretanto, que além das economias dos Estados Unidos e dos países-membros da zona do euro (países que adotam a moeda única na União Européia), os efeitos da crise também estão chegando com intensidades diferentes, nas quatro maiores economias emergentes, os denominados BRICs, que inclui Brasil, Rússia, Índia e China, sinalizando uma redução do crescimento econômico e o aumento da inflação.

É oportuno recordar que a crise aprofundou-se a partir dos desdobramentos do recente impasse político vivido entre o governo Barack Obama (democrata) e o partido republicano, para autorizar a elevação do nível de endividamento dos EUA, para evitar que aquele país deixasse de honrar os compromissos com os seus credores.

O frágil acordo que resultou desse desgastante enfrentamento político culminou com o rebaixamento pela agência de classificação de risco Standard & Poors da nota de crédito dos EUA. A crise ampliou-se em seguida para os países do continente europeu e para o resto do mundo, provocando fortes quedas nas principais bolsas de valores mundiais, nos primeiros dias de agosto último.

Conforme evidencia os indicadores econômicos e sociais mais recentes divulgados por diferentes instituições multilaterais mundiais (FMI, Banco Mundial, OCDE), além dos EUA, os países da zona do euro estão sentindo, em escalas distintas, os efeitos dos refluxos da crise, especialmente na deterioração do mercado de trabalho e da renda.

Observa-se que, apesar dos esforços feitos pelos governos da Alemanha e França e pelo Banco Central Europeu para resolver as questões envolvendo a crise soberana da zona do euro, por meio da concessão de elevados empréstimos os países em crise, e assim amenizar a desaceleração das economias, os resultados não são animadores. A crise, que na sua origem era um problema de liquidez dos bancos, transformou-se numa crise fiscal em importantes países da União Européia, como por exemplo, a Espanha e a Itália.

A existência de um sentimento de frustração dos cidadãos na União Européia, na medida em que a sociedade verifica a ineficiência de seus governantes para enfrentar a crise de maneira adequada - o que vêm provocando a desaceleração do crescimento econômico e reduzido as receitas públicas, e aumentando o nível de desemprego - é um fenômeno preocupante.

A crescente insatisfação das populações, traduzidas nas pesquisas de opinião pública e nas manifestações de protestos contra as medidas de austeridades que estão sendo adotadas na Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Reino Unido, Itália, França e Alemanha, são ameaças que pairam sobre a região, pois caso intensifiquem-se podem refletir na governança e mesmo na governabilidade em alguns daqueles países, colocando em dúvida a própria sobrevivência da União Européia.

Diante desse cenário de turbulência, pode-se argumentar que o governo brasileiro, ao lado da sociedade, precisa preparar-se de maneira adequada para enfrentar os complexos problemas socioeconômicos e políticos que o Brasil terá que enfrentar nos próximos anos. Nesse sentido, precisa elevar o nível de consistência da política econômica, utilizando com mais intensidade a política fiscal e reduzindo a importância da política monetária.

Para isso é recomendável que aprofunde os cortes nos gastos correntes do setor público, priorizando os investimentos em setores estratégicos, diminua tributos, em particular os impostos indiretos, reduza o serviço da dívida, por meio de cortes na taxa de juros, controle a inflação e evite a valorização do real, entre outras medidas.

(*) José Matias-Pereira é professor-pesquisador associado do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade de Brasília. Economista e advogado, é doutor em Ciência Política (UCM-Espanha) e pós-doutor em Administração pela FEA/USP. Autor, entre outros, de Economia Brasileira, Finanças Públicas: A política orçamentária no Brasil, Curso de Administração Pública, Curso de Administração Estratégica.

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