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Personagens emblemáticas, por Heitor Freire (*)

Por Heitor Freire (*) | 10/09/2011 09:38

Campo Grande tem um número significativo de cidadãos que se destacaram pelo seu carisma, desprendimento, altruísmo e dedicação à cidade. Entre estes, destaco hoje o dr. Carlos Hugueney Filho, advogado dos mais brilhantes em nossa cidade.

Nasceu em Rosário Oeste, Estado de Mato Grosso, em 1902, filho de Carlos Hugueney e de Lidia de Figueiredo Almeida. Neto de Carlos Teodoro José Hugueney, cientista belga que veio para Cuiabá, por ordem do imperador D. Pedro II, para dirigir uma fábrica de pólvora instalada no Coxipó do Ouro para abastecer o Exército Brasileiro durante a Guerra da Tríplice Aliança.

Casou-se com Amélia Ribeiro, a quem conheceu no bondinho de Santa Teresa, no Rio, quando estudava Direito. Tiveram três filhos: Nelly ( que se casou com Tarcísio Dal Farra), Neusa (que se casou com Luiz Paes de Faria) e Clodoaldo ( casado com Maria Hildemy). Clodoaldo, já falecido, foi meu colega no Externato São José da professora Simpliciana Corrêa da Costa, educadora enérgica.

Dr. Carlos exerceu muitas atividades públicas, além das de sua banca de advogado: foi promotor público, juiz de direito, Sub-Chefe de Polícia, cuja jurisdição abrangia todo o Sul do Estado de Mato Grosso, e também Procurador-Geral do Estado, cargo no qual se aposentou. Para este cargo foi nomeado pelo então governador José Fragelli que nutria pelo dr. Carlos grande admiração e apesar de pertencerem a partidos políticos antagônicos, o governador à UDN e o dr. Carlos ao PSD, nomeou-o por sua seriedade, honestidade e grande saber jurídico. Era um verdadeiro varão de Plutarco.

A honestidade era a sua mais marcante qualidade, certamente herdada de seu pai, que foi quem garantiu o território do leste do Estado de Mato Grosso, em relação com o de Goiás, sem ter em momento algum requerido para si nenhum quinhão de terras.

Quando voltei para Campo Grande, em 1970, aluguei uma sala do Clodoaldo Hugueney Sobrinho, adjacente ao seu escritório de advocacia, no Edifício São José. O dr. Carlos, pai do Clodoaldo, aparecia no escritório sempre após o almoço. Nessa época já aposentado, enriquecia o nosso começo de tarde com sua prosa alegre e com a sua gentileza. Trazia sempre um sorvete para a Carmen – secretária do Clodoaldo – e outro para a Vilma – secretária do Humberto Canale. E contava histórias do seu tempo.

Dr. Carlos tinha muitos amigos, era muito alegre e bom de papo, advogado brilhante. Contou-me que, certa vez, um amigo comerciante, necessitando de dinheiro para expandir seus negócios, procurou-o perguntando-lhe se dispunha de certa importância para emprestar-lhe.

A quantia era elevada. Ele disse que sim, com uma condição: aquele valor estava destinado para a construção de sua casa, e quando chegasse à ocasião, o empréstimo deveria ser restituído imediatamente. O amigo aceitou e recebeu o dinheiro. Sem assinar nenhum documento e sem cobrança de juros. Na palavra.

Quando chegou o momento da construção, procurou o seu amigo, que lhe devolveu o dinheiro sem nenhum problema. Ele era assim. A sua casa foi construída no coração do Jardim dos Estados, em terreno localizado na rua que hoje leva o seu nome: Rua Carlos Hugueney Filho.

Foi prefeito de Campo Grande e algumas vezes presidente do Rádio Clube.

O dr. Carlos, quando candidato a presidente do Rádio Clube, tinha a sua vitória condicionada a uma circunstância: se o dr. Vespasiano Barbosa Martins, comparecesse ao Rádio Clube no dia da eleição era certa a sua derrota. Se ele não viesse, a vitória estava assegurada. Representavam partidos políticos antagônicos: o dr. Carlos, o PSD; o dr. Vespasiano, a UDN.

Nunca teve automóvel nem conta em banco – tinha um cofre no seu escritório onde guardava o dinheiro. Só circulava de táxi. Como prefeito de Campo Grande, em 1941, devolveu o nome original da Rua 14 de Julho, que havia sido mudado para Rua João Pessoa. Deu continuidade também às ruas 14 de Julho, Rio Branco e Avenida Afonso Pena, que eram interrompidas por propriedades de gente importante. Conseguiu convencer os proprietários a concordarem com a extensão das ruas, sem nenhum ônus para a Prefeitura.

Faleceu em 8 de julho de 1974, deixando muitas saudades.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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