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Qual é o nosso sonho?

Por Jully Heyder da Cunha Souza (*) | 03/09/2013 09:57

Durante esta semana pudemos respirar por alguns instantes do mais puro ar do ideal de liberdade e igualdade, ao recordarmos o histórico discurso proferido há 50 anos por Martin Luther King, na marcha sobre Washington, ocorrida em 28/08/1963.

Um século antes daquele discurso um grande homem, em cuja sombra estava King, havia conduzido o parlamento americano à abolição da escravatura naquele País. Mas cem anos depois, lá estavam 250 mil negros anunciando as mazelas da segregação e do ódio racial, ainda imperantes na sociedade americana na época.

Naquele 28 de agosto histórico, Martin Luther King anunciou ao mundo um sonho de liberdade: “eu tenho um sonho” – dizia. “Um sonho de que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”.

Este eloquente e poderoso discurso produziu efeitos e reverberou por muito mais além do que alcançou a voz de Luther King. Reverberou pela história! E até hoje, em todo mundo, aquelas palavras servem de inspiração para as causas de liberdade, igualdade e justiça, temas, aliás, tão comuns em nosso ambiente de debate crítico da Ordem dos Advogados do Brasil.

E é esta inspiração que me leva a propor uma pequena reflexão: “Qual é o nosso sonho?” Qual é o nosso sonho? Em um país em que milhões de pessoas são escravizadas pelos grilhões da desigualdade e da pobreza. Aferrolhadas por míseras bolsas disso e bolsas daquilo.

Qual é o nosso sonho? Quando não se importam em educar nossas crianças, e muitas delas deixam a vida ainda na juventude, levadas pelas drogas e criminalidade. Qual é o nosso sonho? Onde milhares sucumbem sem atendimento médico adequado em hospitais precários, e ao mesmo tempo milhões de reais são desviados da saúde pública em escândalos surreais.

Qual é o nosso sonho? Quando homens que tiveram a coragem de se opor ao crime, são cruelmente assassinados em frente a escolas, e corpos são achados esquartejados em lixões. 

Qual é o nosso sonho? Onde a infâmia da corrupção golpeia instituições e poderes do Estado, e a apuração casos graves é simplesmente jogada para debaixo do tapete da impunidade.

Qual é o nosso sonho? Em um momento em que o ideal de justiça se torna, cada vez mais, apenas uma teoria a ser estudada nos livros da faculdade. Qual é o nosso sonho? Quando a advocacia, a profissão que existe pelos direitos, agoniza entre as ofensas às suas prerrogativas e a morosidade endêmica do Poder Judiciário.

Qual é o nosso sonho? E se temos sonhos, como de fato todos temos, que lutemos por eles armados com a força do nosso pensamento, e tenhamos fé de que um dia nossos filhos e netos, e talvez nós, viveremos em uma sociedade justa e fraterna.

(*) Jully Heyder da Cunha Souza, advogado e secretário Geral Adjunto da OAB/MS

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