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Quando os enteados sentem ciúmes: como lidar com esta emoção delicada

Por Cristiane Lang (*) | 11/07/2025 13:30

A formação de uma nova família é sempre um processo delicado. Quando um dos adultos entra em um relacionamento com filhos de vínculos anteriores, a chegada de um novo parceiro pode despertar nos enteados uma série de sentimentos — entre eles, o ciúmes. Embora muitas vezes velado ou manifestado em formas indiretas, o ciúmes dos enteados é uma reação emocional legítima, que precisa ser compreendida com empatia, acolhimento e maturidade.

Esse ciúmes pode surgir em qualquer idade, seja na infância, adolescência ou até mesmo na vida adulta, e está geralmente ligado à sensação de perda de espaço, amor ou exclusividade. Por isso, é fundamental que o adulto responsável saiba reconhecer os sinais e lidar com a situação de forma construtiva.

Por que os enteados sentem ciúmes? 

O ciúmes dos enteados pode ter muitas origens. Entre os motivos mais comuns, destacam-se:

  • Medo de ser substituído: A presença de uma nova figura na vida do pai ou da mãe pode gerar a sensação de que o amor será dividido — ou até retirado.
  • Mudança na rotina e nas prioridades: A dinâmica familiar muda com a chegada de um novo parceiro. Isso pode fazer com que os filhos sintam que perderam espaço.
  • Lealdade ao outro genitor: Algumas crianças e adolescentes sentem que aceitar o novo parceiro é trair o pai ou a mãe biológico(a).
  • Busca por atenção: Quando os filhos sentem que não estão sendo ouvidos ou vistos como antes, o ciúmes pode se manifestar como uma tentativa de recuperar esse olhar.

Sinais de ciúmes nos enteados

Nem sempre o ciúmes é verbalizado. Em muitos casos, ele se revela em atitudes e comportamentos. Os sinais mais comuns incluem:

  • Afastamento repentino do pai ou da mãe.
  • Hostilidade, rejeição ou frieza com o novo parceiro.
  • Tentativas de manipulação ou chantagem emocional (“Você gosta mais dele(a) do que de mim”).
  • Regressões comportamentais, como atitudes infantis ou birras.
  • Dificuldade em aceitar a nova dinâmica familiar.

Reconhecer esses sinais é o primeiro passo para cuidar da situação com sensibilidade.

Como lidar com o ciúmes dos enteados? 

Lidar com essa emoção exige paciência, empatia e, sobretudo, a disposição de escutar. Aqui estão algumas estratégias que podem ajudar:

Valide o sentimento:

Dizer para uma criança ou adolescente “você está com ciúmes” pode soar como acusação. O melhor caminho é abrir espaço para que eles falem como estão se sentindo. Mostre que é normal ter medo ou sentir desconforto com mudanças. Validar o sentimento não é concordar com todos os comportamentos, mas mostrar que é possível falar sobre o que se sente sem ser punido ou julgado.

Reforce o amor incondicional:

É importante que o pai ou mãe deixe claro que o amor pelos filhos não mudou e que o espaço deles na família continua sendo único e insubstituível. Frases como “nada nem ninguém muda o quanto eu te amo” ou “você é e sempre será minha prioridade” ajudam a acalmar a ansiedade emocional.

Inclua os filhos nas decisões, quando possível:

Envolver os filhos em pequenas decisões da nova rotina pode aumentar a sensação de pertencimento. Eles não precisam “aprovar” o novo relacionamento, mas se sentirem ouvidos e considerados pode fazer muita diferença.

Construa vínculos com respeito ao tempo deles:

O novo parceiro não deve forçar a intimidade ou tentar ocupar o lugar do pai ou mãe biológico. O respeito pelo tempo e pelos limites da criança é essencial para a construção de confiança. Vínculo se constrói com paciência, presença e escuta.

Evite colocar os filhos no meio de conflitos conjugais:

Nada é mais nocivo para uma criança ou adolescente do que ser forçado a tomar partido. O ideal é que os adultos mantenham suas questões de casal longe dos filhos e protejam o vínculo parental da tensão conjugal.

Ofereça um ambiente seguro e estável:

Mudanças já geram insegurança. Portanto, é fundamental garantir que a nova família ofereça estabilidade emocional, rotinas previsíveis e afeto constante. A segurança do ambiente ajuda a criança a lidar melhor com a presença de uma nova figura.

Procure ajuda especializada, se necessário:

Em casos em que o ciúmes se manifesta com muita intensidade ou se prolonga, a ajuda de um psicólogo pode ser essencial. A terapia familiar ou individual pode ajudar a criança a elaborar seus sentimentos e encontrar caminhos saudáveis de convivência.

Cuidados importantes 

Não minimize o que a criança sente: Frases como “isso é besteira” ou “você vai se acostumar” só reforçam a sensação de que ela está sozinha no que sente. Não rotule o comportamento como malcriação ou birra sem refletir: O ciúmes pode se disfarçar de raiva ou teimosia. Olhar além da superfície é importante. Não exija que o filho ame o novo parceiro: O vínculo pode ser construído com respeito, sem necessidade de afetos forçados ou expectativas irreais.

Quando o tempo é aliado 

Em muitos casos, o ciúmes dos enteados diminui com o tempo, à medida que percebem que o novo parceiro não é uma ameaça, mas alguém disposto a somar. A convivência respeitosa e constante, sem imposições ou competições, costuma abrir espaço para relações mais naturais e afetivas.

Mais escuta, menos cobrança 

Quando os enteados sentem ciúmes, o que eles mais precisam não é de correção, mas de acolhimento. Por trás de comportamentos difíceis muitas vezes há medos, inseguranças e sentimentos confusos. A escuta atenta, o diálogo constante e o amor demonstrado com ações são ferramentas poderosas para atravessar essa fase.

Famílias reconstituídas podem dar certo, sim — mas elas pedem, mais do que tudo, a disposição de amar de forma madura, consciente e paciente.

(*) Cristiane Lang, psicóloga clínica especializada em oncologia

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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