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Respire e permita-se viver: um convite à presença no Setembro Amarelo

Por Thaísa Clapham* | 23/09/2025 13:30

Vivemos em um mundo marcado pelo excesso de estímulos, pressa e distrações constantes. Entre notificações, demandas e preocupações, nossa mente não para: fala, julga, compara, repete histórias antigas. No budismo, essa inquietude é comparada a um macaco agitado, sempre pulando de galho em galho. Foi a partir dessa metáfora que escrevi Quem está falando na minha cabeça? (Editora Labrador). No Setembro Amarelo, mês voltado para discussão sobre temas de saúde mental, torna-se ainda mais importante discutir o que trago no livro: um caminho para compreender e silenciar o "macaco tagarela" e cultivar presença, serenidade e autoconhecimento.

O que é a mente-macaco e as sete chaves para educar a mente

Chamo esse padrão mental repetitivo de Programa Mente-Macaco Condicionada (PMMC). Ele funciona como um software interno que reforça ansiedades, crenças limitantes e hábitos automáticos. Quando não percebido, assume o controle de nossas vidas, como se fôssemos conduzidos por um colega de quarto falante e inconveniente. A boa notícia é que não precisamos expulsar esse macaco, mas aprender a educá-lo, transformando-o em aliado no processo de despertar.

Inspirada pela máxima grega "Conhece-te a ti mesmo" e pelos ensinamentos do yoga, dos Vedas, do budismo e da filosofia perene, reuni no livro sete chaves de libertação: respiração consciente, atenção plena, comunhão com a natureza, afirmações e mantras, prática da gratidão, escrita em diário e meditação. Essas práticas simples e ancestrais, quando aplicadas ao cotidiano, ajudam a quebrar a identificação com os pensamentos e a reconhecer quem realmente somos além da mente.

Neste ponto, convido você a pausar a leitura por um instante. Inspire profundamente pelo nariz, expanda o abdômen como um balão e solte lentamente, permitindo que o abdômen desça com naturalidade. Sinta a paz se espalhar pelo seu corpo. Essa é a respiração diafragmática, a respiração dos bebês: natural, profunda, sem esforço. Perceba como apenas um minuto de atenção à respiração já muda o ritmo interno. Continue a leitura sentindo-se mais presente.

A Fórmula P.A.R.E. — uma pausa que transforma

Uma das ferramentas centrais é a Fórmula PARE — Pare, Atenção, Respire, Engaje-se. Esse método oferece um atalho para interromper o fluxo automático de pensamentos, observar a mente-macaco, usar a respiração como âncora e, então, retornar ao presente. Parece simples, mas é transformador: ao mudar a forma como respiramos, mudamos também como nos sentimos e nos relacionamos com o mundo.

A respiração, aliás, é apresentada como a primeira e mais poderosa chave. Na tradição do yoga, ela é a ponte entre corpo e mente. Respirações curtas e superficiais refletem ansiedade; respirações longas e profundas trazem calma e clareza. Técnicas como a respiração diafragmática, a respiração quadrada e a alternada (nadi shodhana) tornam-se, assim, práticas acessíveis de equilíbrio emocional e mental.

Experimente agora: inspire contando até quatro, segure o ar por quatro tempos, expire também em quatro tempos e faça uma breve pausa antes de recomeçar. Essa "respiração quadrada" é simples, mas poderosa para reequilibrar corpo e mente, especialmente em meio a um dia cheio.

Na tradição hindu, a vida não é medida em anos, mas em respirações. Cada respiração pode ser um portal para a calma, para a clareza, para o autodomínio. Como disse Sócrates: "Respirar é governar-se mesmo, e quem governa-se mesmo governa a própria vida."

Como a ciência comprova tudo isso?

Pesquisas da Universidade de Harvard demonstraram que o mindfulness e a atenção plena melhoram a saúde mental ao reduzir o estresse e a ruminação mental, e podem alterar a estrutura cerebral, aumentando a massa cinzenta em áreas ligadas à atenção e regulação emocional.

A neurociência explica parte desse processo: temos entre 50 e 70 mil pensamentos por dia, e cerca de 85% deles são repetidos, segundo Joe Dispenza. Não é de se espantar que terminemos o dia exaustos, como um "macaco correndo dentro da roda de hamster". A prática do silêncio, da observação e da gratidão nos convida a sair desse ciclo. Pesquisas recentes comprovam, inclusive, que cultivar a gratidão reduz inflamação, melhora a imunidade e diminui a pressão arterial.

"Você não é o barulho na sua cabeça — é a consciência que observa."

Setembro Amarelo nos convida a lembrar que ninguém precisa caminhar sozinho. Cuidar da saúde mental é um ato de coragem. Se a mente está acelerada demais, respire — e, se precisar, procure alguém. Há profissionais e redes de apoio prontos para ajudar.

Respire, observe, silencie. Descubra que você não é seus pensamentos — você é a consciência que os observa. O verdadeiro despertar começa quando cessamos de nos identificar com a mente-macaco e reconhecemos a presença serena que já habita em nós.

Quem está falando na minha cabeça? nasceu do desejo de reunir anos de vivência como professora de meditação e yoga, certificada por Deepak Chopra, e como mentora em autoconhecimento. O processo de escrita, que levou um ano e meio, foi para mim tão transformador quanto espero que seja para cada leitor: uma oportunidade de mergulhar nas próprias vozes internas, discernir o que é ruído e o que é essência, e aprender a escolher com qual voz queremos dialogar.

No fim, a pergunta que dá título à obra não busca uma resposta única, mas um despertar: quem está falando na sua cabeça? Talvez, ao se perguntar, você inicie a jornada de autoconhecimento e encontre o silêncio que sempre procurou. Entre o ruído e o silêncio, escolha sempre voltar para casa: o presente momento.

(*) Thaisa Clapham é autora, professora de meditação, yoga e mentora em autoconhecimento.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.