Setembro Amarelo: um breve ensaio sobre empatia
Setembro abre suas cortinas em tons de amarelo. É o sol que atravessa a manhã, é a cor que simboliza luz em meio à escuridão, mas também é um lembrete delicado: nem sempre o brilho que vemos fora corresponde ao que alguém sente por dentro. Há vidas que caminham ao nosso lado em silêncio, respirando dores que não aparecem, mas que pesam como montanhas invisíveis.
Empatia é o nome do gesto que pode mudar destinos. Não é sobre ter respostas, nem sobre oferecer soluções prontas. É, antes de tudo, sobre escutar sem pressa, estar presente sem exigências, abrir espaço para que a dor do outro exista sem vergonha e sem julgamento. A empatia é a arte rara de segurar a mão de alguém sem perguntar para onde ele vai; é simplesmente caminhar junto, até que ele se sinta forte o bastante para escolher seu caminho outra vez.
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Há quem pense que empatia é dizer a palavra certa. Mas, na verdade, muitas vezes ela é silêncio: o silêncio que acolhe, que não compara, que não tenta medir a profundidade da ferida. É o silêncio que diz: “eu te vejo, eu te sinto, e estou aqui”. E esse simples estar pode ser mais transformador do que qualquer discurso.
Setembro Amarelo nos convida a enxergar a vida com mais delicadeza. Aquele sorriso que cruza com o nosso na rua pode ser um disfarce para um coração cansado. Aquela pessoa que parece sempre forte pode estar pedindo socorro em silêncio. Por isso, é preciso suavizar o olhar, desarmar o julgamento, oferecer ternura. Nunca sabemos quando uma palavra nossa será a última âncora de alguém que se sente à deriva.
Empatia não é heroísmo; é humanidade. É a lanterna que se acende no labirinto escuro, não para iluminar a saída inteira, mas para mostrar que existe um caminho, que não é preciso desistir agora. E, às vezes, esse pequeno raio de luz é suficiente para que alguém encontre motivos para continuar.
Que neste Setembro Amarelo — e em todos os outros meses que virão — possamos ser abrigo. Que aprendamos a perguntar de verdade como o outro está, e a ouvir a resposta com o coração aberto. Que nossas palavras sejam mais leves, nossos olhos mais atentos, nossos gestos mais generosos. Porque a empatia não salva o mundo sozinha, mas pode salvar o mundo de alguém.
E talvez seja isso que mais importa: sermos, mesmo que por um instante, a prova viva de que ninguém precisa atravessar a escuridão sozinho.
(*) Cristiane Lang, psicóloga clínica especializada em oncologia
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