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Só por ser 'polícia'

Por Eneri Lara* | 12/01/2012 11:30

Lendo a matéria publicada nos jornais do estado, relativa aos policiais de Campo Grande que se envolveram em uma ocorrência com morte, a qual foi também publicada em alguns jornais de alcance nacional, e lendo também os comentários postados pelos leitores ávidos em expressar suas opiniões e já eventualmente condenando os três policiais envolvidos no episódio, cheguei à conclusão de que policial não é gente. O policial não pertence à sociedade, não tem família, não produz nada ao estado, ao município e a comunidade em que vive.

O policial, seja militar ou civil, nada mais é do que um joguete nas mãos de pessoas inescrupulosas, ingratas e mal agradecidas. Eu sou policial militar há cerca de vinte e quatro anos e sempre primei pelo atendimento das ocorrências solicitadas via 190 ou as que nos deparamos na rua ao realizarmos o patrulhamento da cidade, já fiz de tudo um pouco para ajudar as pessoas que solicitam apoio policial, e aí está algo que a maioria ignora, mas a maioria absoluta dos atendimentos da policia militar é de cunho social, alguma forma de ajuda que a população precisa e não tem mais a quem recorrer, e se lembra do fone de emergência e liga, e é atendida, pois sempre comparece alguma viatura, algum policial no local para ao menos informar à pessoa qual o procedimento correto a ser adotado, dependendo de cada caso; são inúmeras ocorrências de violência doméstica, furtos, roubos e o maior número de ocorrências que vem grassando e desgraçando famílias inteiras em nossas cidades, seja ela cidade pequena ou de grande porte; a perturbação do sossego alheio. A perturbação do sossego alheio está tipificada na Lei das Contravenções Penais, conforme podemos ver logo abaixo:

Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheio:

I – com gritaria ou algazarra;

II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais;

III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;

Ocorre que o policial vai atender esse tipo de ocorrência todo dia, toda hora, às vezes sai de uma ocorrência e já entra em outra pelo mesmo motivo e isso é um problema sério que a sociedade tem que enfrentar, pois há casos de mortes registradas, cuja motivação é justamente a perturbação de sossego, a intolerância das partes, tanto do queixoso quanto do acusado. Tenho vizinhos que possuem som altamente ruidoso e sempre ligam, não importando dia, hora, sem a mínima capacidade de respeitar aos vizinhos, que são obrigados a ficar por horas a fio ouvindo musicas, se é que podemos chamar certas ‘’obras’’ de música, sempre com aquele batidão, parece que ficam só batendo com um martelo em um tambor, criatividade zero.

Partindo da premissa que eu sendo cidadão, e como a maioria das pessoas diz: “eu pago meus impostos, portanto pago seu salário”, - qual servidor público nunca ouviu isso?-, eu fico indignado com essas palavras, essas atitudes da população que de forma errônea julgam o policial pelo simples fato dele ser policial. Se eu fico em casa e suporto a perturbação e incômodo do vizinho, os outros vizinhos vão comentar: “que policinha mais frouxo”, covarde que não resolve isso. Se eu for à casa de meu vizinho reclamar do som, ele vai dizer: só veio aqui por ser policial; poderá até baixar ou desligar o som, mas logo irá recomeçar, se eu ligo para a central da PM e vem uma viatura a casa dele, vão alegar abuso, que a viatura só veio por eu ser policial e que somos corporativistas, se eu então cansado de esperar que o vizinho tome vergonha na cara e se toque e que ache educação e respeito para com o próximo e para com a própria família dele, pois o som prejudica até as crianças da casa, se em ultimo caso eu for a casa dele e tomar uma atitude mais séria, ele irá por certo reagir e então a coisa vai ficar feia, aí sim; toda a população, a mesma população que morre de vontade de invadir a casa do vizinho maldito e enfiar o som dele goela abaixo, vai ficar totalmente contra minha atitude, dizendo que sou um mau profissional, que sou desequilibrado e que só fiz isso por ser policial.

Nesse caso dos três policiais envolvidos nessa ocorrência que infelizmente terminou em morte, mesmo estando longe de tudo e alheio aos fatos reais fica fácil analisar os fatos. Sempre que se formam grupos de pessoas à beira da rua, rolando cachaça, gritaria e algazarras, você cidadão comum tenta passar com seu carro e as pessoas não se afastam, ao contrário, tem uns valentões, uns engraçadinhos que fazem é ir mais ao meio da rua e trancam sua passagem, você buzina, eles te xingam; você faz menção de avançar com o carro, vem um e dá um chute em sua porta, outro dá murros em cima do capô do carro, ai começa o quebra-quebra. Você como cidadão comum com certeza vai ser surrado, espancado e terá seu carro totalmente danificado, e com sorte sairá vivo dali e poderá depois contar aos amigos e familiares que foi vitima de uma turba de bêbados inconsequentes, mas que graças a Deus sobreviveu.

Quantas pessoas que estão lendo isto não passaram por situação similar, tendo que parar o carro, sendo humilhado e ter que engolir a seco as provocações, muitas vezes feitas até mesmo na presença de teus familiares? Sabemos que a maioria dos envolvidos, ora vitimas, são todos da mesma família e bebedeira em família na maioria das vezes acaba em violência, até morte entre parentes. Como eram maioria resolveram se juntar e agredir o policial, quebrar o carro do mesmo, e tem que se observar, o policial não estava armado, tanto que ligou para a irmã vir em seu auxílio, do contrário seria certamente massacrado pelos parentes valentões.

Depois que chegaram os irmãos policiais, aí fica fácil as “vitimas” alegarem abuso, alegarem que foram perseguidas e que os policiais foram covardes, mas enquanto era apenas um policial contra toda a maloca, estava divertido bater e quebrar o carro que provavelmente está com um carnê de 60 meses para ser pago ainda. Os donos da rua, donos da vila agora são meras vitimas da truculência de um policial que apenas se defendeu, e o povo que escreve comentários em jornais devem ser tudo da mesma estirpe, odeiam pessoas pelo simples fato de elas serem policiais. Passamos por situações idênticas todos os dias, fácil criticar o policial, mas lembrem-se: Policial é humano, e paga tantos impostos quanto qualquer cidadão do Brasil, portanto, se sua vida corre perigo, se a PAZ e tranquilidade da família do policial forem ameaçadas, ele vai agir para que seja normalizada, já que faz isso todos os dias por qualquer cidadão, imagina pela própria família.

(*) Eneri Lara é sargento da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul

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