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Sobre o seca pimenteira

Por Valfrido Medeiros Chaves (*) | 26/03/2015 10:51

“Há mais coisas entre os céus e a terra, do que sonha a vã filosofia”, sentenciou Shakespeare, poeta bretão, reconhecido como o mais profundo conhecedor da alma humana que trilhou o Mundo Ocidental. E o que saiu da pena deste gênio, sempre merece ser usado com parcimônia e respeito, para clarear penumbras que nos rodeiem.

Realmente muitas coisas há que habitam o limbo da incerteza e do lendário. Coisas que, em vendo, vacilamos passar para diante, por temermos passar por mentirosos, ou amalucados. E, ao ouvirmos, duvidamos. Todavia, quando algo aparentemente inexplicável é sistematicamente relatado por pessoas que merecem nossa credibilidade, é o caso de pararmos para pensar sobre o tipo de “fenômeno duvidoso” em questão, e buscarmos o enfoque que poderia nos trazer alguma luz sobre o incógnito que nos desafia a razão.

Coisa intrigante que sempre se ouve é esta: pessoa que recebe determinada visita em sua casa ou propriedade e tem uma planta, ou mesmo animal objeto da atenção e admiração do visitante. Logo após, em questão de horas, o vivente que foi foco da admiração elogiosa apresenta-se como se, sobre ela, tivesse sido jogado herbicida, ou água fervente.

Este relato tem tal persistência, que dele derivou uma expressão popular muito conhecida: “o seca pimenteira”. Seria aquela pessoa que, após focar sua atenção e sentimentos incógnitos sobre um ser vivo, resulta em que este entre em súbito processo de desvitalização.

Tenho o fenômeno como veraz. Pelo pouco que compreendo do ser humano, sei que sentimentos e energias intensas são mobilizadas no mundo interno das pessoas que se deixam levar pela cobiça paralisante, destrutiva, e que chamamos de inveja. Movidos por tal sentimento, cobiçamos não para tomar do outro e usufruir, mas simplesmente para impedir que o outro usufrua daquilo de que dispõe. Isto sabemos ser verdadeiro.

Agora, para que uma avenca se ressinta após receber uma carga de energia “negativa” de um invejoso, é preciso admitir que a planta tenha, de algum modo, sensibilidade suficiente para tal. E, tudo se passa como se assim fosse. Os botânicos poderiam nos dar uma contribuição valiosa nessa discussão!

Outro dado que pode contribuir para o entendimento do fenômeno é a circunstância de que a pessoa que abriga um sentimento negativo em seu íntimo, geralmente o reprima ou escamoteia. Isso faz com que fiquemos sem defesas face a uma destrutividade que apenas o nosso inconsciente consegue captar, uma vez que os sentimentos negativos e invejosos se dirigem a nós, e não ao objeto cobiçado. A destruição desse objeto teria apenas o fim de atingir a pessoa invejada e percebida como privilegiada.

Será que nossas avencas, pimenteiras ou quaresmeiras captam esse universo de hostilidades, num plano energético e morrem para nos defender, trazendo para si a destrutividade a nós dirigida?

E por falar em tudo isso, Você acredita em “mau olhado” e já fez alguma “benzeção contra quebranto” para proteger seus filhos pequenos? Creio ainda que , hoje, o brasileiro faz uma benzeção coletiva contra a inveja que se esconde por trás da corrupção à sombra do Estado, pois só invejosos e carentes de autoestima podem delirar poder meter a mão em bilhões e manter-se impunes! Esse delírio de onipotência serve para "anestesiar" as dores provenientes da reduzida autoestima que estigmatiza a alma do ousado corrupto. Por isso não perdem a pose quando pegos com a mão na cumbuca, seja do Mensalão ou do Petrolão.

Realmente, parece que o povo, tal como o sábio poeta bretão, sabe das coisas...

(*) Valfrido Medeiros Chaves é psiquiatra.

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