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Um gesto para se tornar um “produtor de natureza”

Ângelo Rabelo (*) | 28/11/2021 15:30

Quando uma das minhas filhas entrou no programa de mestrado da Universidade Católica, “Erasmus”, sugeri que buscasse estudar o tema “água” e buscasse experiências em outros países que tiveram sucesso em sua gestão. Confesso que ela me assustou quando disse que estava indo, sozinha, para Laos no sudoeste Asiático. O que amenizou minha preocupação foi a motivação: Rio Mikong. Este rio de quase 5 mil km está localizado numa das regiões de conflitos mais intensos do mundo, entre o Vietnã e Camboja. A despeito deste cenário assustador, o Rio segue protegido por um grande acordo que existe há mais de 50 anos e assegura que o rio continue cumprindo seus importantes papéis como: geração de energia, irrigação e descedentação.

Esta experiência de sucesso, mesmo que em uma região conturbada, pode ensinar algo para nossa realidade no Pantanal e a Serra da Bodoquena onde, a necessidade de pacto é necessária. Um exemplo público, o Rio da Prata e Rio Formoso, estavam sucumbindo à nossa incapacidade de fazer gestão dos recursos hídricos através do diálogo entre as partes interessadas em seus diferentes usos. Uma batalha sem vencedores!

Esta dificuldade estava impondo uma perda a todos usuários, produtores, turismo e a economia. Os ganhos, eram apenas para os que não reconhecem a importância do ativo ambiental e usam o presente e suas ações para destruir o futuro. Mais de 12 processos, multas e diversos advogados e parecerista protelavam com diferentes recursos a possibilidade de um acordo para proteger os banhados. O passivo ambiental perdia sua capacidade de resiliência e o consolidava o risco de se tornar irreversível.

A sábia decisão tomada na última sexta-feira pelo Governador de propor uma solução definitiva através de um projeto de lei transformando os banhados em áreas de proteção ambiental é um gesto de grandeza, respeito a ciência e a sociedade. É fundamental a compreensão de todos da importância do gesto, independente do tempo, mas do início de uma política pública, o que representa no amadurecimento político e seu compromisso com o futuro. Caberá agora à Assembléia aprimorar, caso necessário, e aprovar o Projeto de Lei com a maior brevidade possível, num ato solene e comemorar está importante decisão e seus ganhos para sociedade e gerações futuras.

Com apoio da ciência, deveremos agora, assegurar recursos para iniciarmos os processos de restauração e o restabelecimento do importante papel e função do banhado e sua rica biodiversidade.

Nosso poeta maior, Manoel de Barros, certa vez perguntou: “Pode um homem enriquecer a natureza com sua incompletude?”.

Sim, pode! Sem dúvida um gesto de coragem, um gesto de um “produtor de natureza”.

(*)  Ângelo Rabelo atua na proteção pantanal e é fundador do Instituto Homem Pantaneiro.

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