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Uma lição de economia da inovação: o caso da produção do milho em Sergipe

Por Márcio Rogers Melo de Almeida (*) | 18/03/2017 15:00

O milho é o grão de maior relevância nacional dada a sua importância econômica e social. Essencial para diversas cadeias produtivas alimentares (humana e animal), com intenso efeito multiplicador na geração de renda dos municípios produtores, congrega uma gama de agricultores com níveis de tecnificação completamente diversos.

Possui uma capilaridade espacial abrangente no território nacional, com previsão de 16,5 milhões de hectares plantados para a safra de 2017 e dinâmicas regionais que em alguns aspectos tendem a se diferenciar substancialmente.

Mesmo sendo uma cultura de exportação com tendência a certo grau de homogeneidade nos pacotes tecnológicos adotados para o manejo agrícola, verificamos, ao nível de produção macrorregional, pólos dinâmicos de sucesso e regiões pouco dinâmicas ou estagnadas em relação ao estado da arte da tecnificação adotada.

Na última década, alavancada principalmente pela demanda externa crescente no começo do século (ciclo internacional das commodities) e intensificada pelas taxas de crescimento do mercado interno, a cultura do milho se mostrou bastante dinâmica com intenso aumento de produtividade. No entanto, existiram diferentes reações aos estímulos externos e internos nos âmbitos regional e local.

Se considerarmos como referência comparativa a produtividade por hectare, encontrada nas regiões brasileiras, veremos objetivamente o que consideramos como diversidade de dinâmicas regionais. Em torno da produtividade média brasileira (5,5 ton/h) orbitam produtividades bem distintas, tomando como base a safra de 2015. As regiões norte e nordeste possuem produtividade abaixo da média nacional com 68% e 45% da brasileira.

No outro extremo, as regiões sul, sudeste e centro-oeste estão acima da média nacional. A comparação entre as regiões mostra mais intensamente os extremos. Quando comparamos o sudeste (região de maior produtividade ton/h) com as regiões norte e nordeste temos um distanciamento ainda mais explicito: norte e nordeste produzem 57% e 36% do que se produz por hectare no sudeste.

Por trás dessas tendências mais gerais, escondem-se casos singulares de dinamismo e ciclos virtuosos que merecem ser sublinhados e é aqui que o caso sergipano ganha uma importância fundamental como fonte de um modelo de desenvolvimento que se destaca quase como uma “ilha” no “marasmo” econômico que caracteriza o entorno territorial.

A produtividade geral do estado de Sergipe no período posterior ao ano de 2006 apresenta uma tendência bem diferente da média nordestina, mantendo níveis de produtividade em torno da média nacional. No período de 8 anos, a produtividade média do milho nordestino é bem abaixo da encontrada isoladamente em Sergipe (apenas 57%) com tendência ao aumento dessa distância em termos de eficiência produtiva.

Elementos nos indicam que a partir da mesorregião do Agreste houve um efeito difusor de tecnologia e a construção de um ambiente eficiente de inovação tecnológica. Nessa região, inicialmente, deu-se um grande esforço de pesquisa, validação e difusão de novas variedades adaptadas de milho inicialmente por parte do setor público derivada da política de ensaios regionais de cultivares capitaneada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de uma forte e intensa ação de transferência de tecnologia em parceria com a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (EMDAGRO). O setor público assumiu a totalidade do risco do empreendimento até o ponto de se tornar viável para o mercado a aposta na região.

Em paralelo, germinou-se um ambiente institucional de inovação dinâmico com vantagens competitivas associadas à redução dos custos de transação e forte atuação de agentes empreendedores afeitos ao risco próprio das atividades empresariais. Por último, também essencial, foram as ações de grandes empresas privadas que introduziram novas variedades adaptadas e um conjunto de técnicas de manejo associadas, propiciando a absorção e o efeito-transbordamento da tecnologia e uma maior eficiência dos fatores de produção locais.

Junta-se a isso, a publicação do zoneamento de risco climático que propiciou as linhas de financiamento do crédito agrícola adequadas para a alavancagem da cultura e o aumento de recursos para custeio das safras.

A integração estratégica e complementar entre esforços públicos e privados fez com que o caso sergipano se descolasse do panorama regional como uma ilha de eficiência em relação ao ambiente de negócio em meio a uma região pouco dinâmica. Nesse espaço, percebe-se um surgimento de ciclo econômico virtuoso com todas as etapas produtivas ligadas a cultura do milho em harmônico desenvolvimento. Uma lição a ser ensinada em economia da inovação.

(*) Márcio Rogers Melo de Almeida é economista e analista em gestão estratégica da Embrapa Tabuleiros Costeiros

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