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"Presa" em casa na Itália, jornalista de MS mal consegue abastecer geladeira

"O medo é tão grande, que isso fica na cabeça da gente o dia inteiro, é angustiante", destaca a Eliane, que vive em Milão

Liniker Ribeiro e Izabela Sanchez | 10/03/2020 16:27
"Presa" em casa na Itália, jornalista de MS mal consegue abastecer geladeira
Apesar de geladeira mais vazia, Eliane garante que não estão faltando suplementos; idas ao supermercado é que diminuíram e ocorrem somente em casos de grande necessidade (Foto: Eliane Oliveira/Arquivo pessoal)

O governo italiano estendeu para todo o país a quarentena imposta, até então, ao norte da Itália, por conta do surto de Covid-19, o novo coronavírus. Agora, a ordem é para que todas as pessoas fiquem em casa. A saída é permitida apenas por necessidades comprovadas de saúde ou trabalho. A exigência vale para todos e tem afetado a rotina de muita gente, incluindo a sul-mato-grossense Eliane Oliveira, que há 20 anos deixou o Estado para viver em Milão, metrópole na região da Lombardia, norte da Itália, e área mais afetada pela doença.

Casada e com dois filhos, a jornalista e agora professora de português conta que o surto do vírus tem mexido com a rotina da família e, principalmente, privado a população. "Estamos enfrentando todas as privações possíveis, até de pensamento. A gente não consegue pensar em outra coisa, você liga a TV e só se fala nisso, você olha nas ruas e tem um silencio ensurdecedor. A última vez que eu sai de casa foi na sexta-feira", revela Eliane em entrevista exclusiva ao Campo Grande News.

"O medo é tão grande, que isso fica na cabeça da gente o dia inteiro, é angustiante. Ontem eu passei o dia inteiro caminhando de lá pra cá dentro de casa, sem saber o que fazer", comenta.

Conforme a última atualização, divulgada nesta terça-feira (10), o total de mortes pelo coronavírus na Itália saltou 36%, segundo a Agência de Proteção Civil do país . Ao todo, 631 óbitos foram registrados, o maior número em um país europeu. Mais de 10 mil casos foram registrados no país.

"Presa" em casa na Itália, jornalista de MS mal consegue abastecer geladeira
A sul-mato-grossense Eliane Oliveira ao lado dos filhos, de 14 e 9 anos; jornalista e professora, ela mora há 20 anos no norte da Itália (Foto: Eliane Oliveira/Arquivo pessoal)

Os números preocupam Eliane. "No meio desse caos todo que estamos vivendo, dessa epidemia, a Organização Mundial de Saúde já está começando a falar em pandemia, o país tem registrado números absurdos".

Com a nova medida, missas, casamentos, funerais estão proibidas. Bares, restaurantes, discotecas, teatro, museus, academia, tudo está sem funcionar, conforme conta Eliane. "Você não pode circular".

Até mesmo as escolas estão sem aula. Os filhos da professora, de 14 e 9 anos, estão estudando de casa há pelo menos três semanas. "A mais nova recebe atividades e os professores devem fazer novos uploads em uma plataforma que eles estão criando, a partir de hoje. Já o mais velho, tem encontros onlines com os professores, não necessariamente todas as matérias, como se estivessem na escola, mas as principais matérias, e todo dia tem aula online", explica.

O marido de Eliane, jornalista, também tem trabalhado de casa. Ela, que aguarda ansiosa o lançamento de seu terceiro livro didático no país, também terá que esperar mais tempo para a finalização do trabalho, o coronavírus adiará o lançamento, previsto para o fim de agosto.

Abastecimento - Apesar do surto do novo coronavírus, a sul-mato-grossense destaca que as famílias estão muito bem abastecidas de alimentos. "Não está faltando suplemento. Quando o governo baixou os primeiros decretos, as pessoas correram aos supermercados, esvaziaram prateleiras. O governo tem batido muito nessa tecla, não vai faltar alimentos, o problema é que a gente tem que sair de casa o menos possível. Se tem que fazer compras, vai só uma pessoa", explica Eliane.

Segundo ela, nesse momento de tensão, a ajuda ao próxima tem sido fundamental. "Eu mesmo faço a minha compra e de uma vizinha que mora no mesmo andar. Ela é idosa, sujeita a risco e essas pessoas não podem sair de casa. Então a gente se ajuda, um vai e compra para todo mundo".

Mas, até na hora de circular pela cidade os cuidados são necessários. "Supermercados menores não permitem que entrem todo mundo de uma vez, é preciso manter uma distância de cerca de mais de 1 metro, 1 metro e meio das pessoas, além de usar máscaras e luvas para não ficar pondo a mão nas coisas, complementa Eliane.

E toda vez que alguém sai de casa, o retorno exige uma série de medidas. "Meu marido é transplantado, tem uns 5 anos. Passou por diálise, tem uma baixa defesa imunitária, os medicamentos que evitam a rejeição do órgão adormecem o anticorpos da pessoa para não reconhecer o órgão transplantado como um corpo estranho e, por isso, ele não pode sair de casa. Quando eu saio e volto pra casa, lavo a mão com desinfetante antes de tocar em qualquer outra coisa", conta.

Fotos publicadas pela jornalista e professora em uma rede social mostram o cenário em uma das cidades mais conhecidas e visitadas da Itália. "Quando eu tirei, voltei para casa chorando. Você vê uma cidade de joelhos", lamenta emocionada. "Dói no coração você ver a cidade como está, ou melhor, toda a Itália. Isso está acabando a economia. Hóteis estão fechando, bares fechando, porque as pessoas não saem de casa, não compra", retrata.

Saúde - Conforme a sul-mato-grossense, até mesmo em casos de suspeita de infecção pelo novo vírus deve ser tratado com cuidado. "O governo tem explicado incansavelmente quais são os sintomas do corona vírus. Então, se você tiver febre alta, começar a tossir e não souber se é um resfriado, uma gripe ou o corona vírus, a primeira coisa que eles dizem é: não vão ao hospital, não vão para o pronto-socorro, não podemos procurar ajuda, a gente telefona para o médico de família, que é o médico público que acompanha cada paciente e, se houver suspeita, médicos vão até você para fazer os testes".

Conforme ela, a medida é uma forma de não permitir que a pessoa saia de casa logo no primeiro sintoma e, ao chegar em hospital, acabe contagiando outras pessoas. "O contágio é muito rápido", resume.

"Presa" em casa na Itália, jornalista de MS mal consegue abastecer geladeira
Antes cheios de gente, espaços públicos estão ficando cada vez mais vazios após decreto do Governo Italiano por conta do surto do novo coronavírus (Foto: Eliane Oliveira/Arquivo pessoal)

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