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Cidades

Apesar de perigos raros, especialista alerta para cuidados com piercings

Perfuração e manutenção inadequadas podem infectar; hospital nega relação do piercing com morte de jovem em MS

Guilherme Correia | 14/07/2022 12:29
Jovem exibe piercing na orelha. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Jovem exibe piercing na orelha. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

O uso de piercings já foi feito por diferentes civilizações antigas, com diferentes motivos e significados, e segue como uma prática estética de milhares de pessoas, nos dias de hoje. A perfuração da pele para inserção de um objeto metálico, no entanto, requer cuidados e pode haver complicações se não houver precauções.

O doutor em doenças infecciosas e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Everton Lemos, explica que furar o corpo, seja para colocar uma joia ou após acidente com materiais cortantes, expõe o organismo a um risco maior de ocorrer uma inflamação e infecção no local.

A região pode ficar mais suscetível à entrada de bactérias ou vírus, por exemplo, especialmente quando materiais contaminados sem esterilização são utilizados. No entanto, infecções que se espalham até provocarem mortes são considerados muito raras.

Em julho, uma adolescente, de 15 anos, morreu infectada em Engenheiro Caldas (MG) após colocar um piercing de forma caseira, quando uma amiga usou uma agulha sem esterilização para perfurar a sobrancelha.

“A pele é o maior órgão do corpo humano e tem funções muito importantes. Entre elas, a defesa do nosso organismo contra agentes externos. Ela impede que muitos microrganismos, como bactérias ou fungos, invadam nosso organismo e causem uma infecção. Para tanto, nossa pele precisa estar saudável e íntegra, sem ferimentos.”

No entanto, o especialista afirma que locais que estejam dentro das normas de biossegurança reduzem consideravelmente o risco de contaminação e tornam segura a prática. “É claro que, a implantação de piercing deva ocorrer em locais que realizam esses procedimentos e estejam dentro das normatizações de biossegurança, com ambiente limpo, materiais seguros, estéreis, e técnicas adequadas."

Isso reduz consideravelmente o risco de contaminação após implantação, bem como, complicações. Diferente de um acidente com material pérfuro, a exemplo um prego enferrujado, que pode haver a presença desses microrganismos que pode causar infecção no local, dada a sujeira visível presente nesse prego", explica o enfermeiro e pesquisador.

Em relação ao piercing e o risco de contaminação e complicações, Lemos ressalta que alguns locais do corpo, como a boca ou a orelha, podem ser mais suscetíveis a complicações.

“A boca é uma região bastante úmida, tem colonização de muitas bactérias e o tempo para cicatrização pode ser mais demorado. Já a orelha, por ser cartilagem, apresenta uma região com pouca vascularização, dificultando a chegada de um exército de defesa, que são as células de defesa do nosso organismo.”

Entretanto, segundo ele, qualquer região do corpo pode apresentar infecção e até complicações graves, tais como genitais, umbigo, sobrancelhas ou mamilos. “Isso pode depender do tipo de micro-organismo que contaminou, podendo ser até mesmo mais patogênico, quando há maior potencial de causar uma infecção.”

Outro fator a ser destacado são os cuidados no momento e após a realização da perfuração. “É importante que o estabelecimento tenha cuidados de higiene e siga normas de biossegurança. Além disso, que a pessoa que mantenha os cuidados com assepsia do local, principalmente lavando as mãos para tocar, observar a cicatrização e se há presença de secreção durante esse período de cicatrização.”

Quanto menos cuidado com a assepsia houver no momento da inserção do piercing e da pessoa, aumenta o risco de complicação”, diz Lemos.

Quanto à imunidade, o pesquisador ressalta que pessoas com diabetes podem apresentar maior risco de complicação, devido ao tempo de cicatrização da pele e risco de infecção.

Repercussão - Andressa Vitória Oliveira dos Santos, de 20 anos, morreu na noite de 9 de julho, no Hospital da Vida, em Dourados, a 233 quilômetros de Campo Grande. No atestado de óbito, consta que a vítima teve choque séptico e encefalite. Inicialmente, a família afirmou que a inserção de um piercing na boca tinha relação com o óbito.

Conforme apurado pelo Campo Grande News, o diretor técnico da unidade, Adriano de Souza Santos, informou que não é possível afirmar se a morte da jovem teve esta causa. Ela ficou 24 dias internada na unidade hospitalar para onde já foi transferida em estado grave de Itaporã.

A Funsaud (Fundação de Serviços de Saúde de Dourados) também nega a relação. O órgão afirma que ela chegou com histórico de crise convulsiva e suspeita de comprometimento neurológico grave. "Não é possível afirmar que a evolução do quadro clínico da paciente até seu óbito tenha referência com a colocação do piercing.”

A jovem foi submetida a uma cirurgia para drenagem de abscesso cerebral e recebeu cuidados intensivos até o dia da morte.

Segundo a família, ela ficou com a  boca inflamada por conta do piercing no lábio inferior, antes da internação. Ela também tinha joias no umbigo e sobrancelha e já teve no nariz. Os familiares também afirmaram que isso nunca causou problemas para a jovem. Ela era casada e deixa um filho de três anos.

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