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Cidades

Após perder a esposa, idoso é encontrado morto e acende alerta sobre depressão

UBSs e UPAs atendem pessoas que passam por sofrimento e outro ponto de apoio é o GAV (Grupo Amor Vida)

Caroline Maldonado | 10/06/2021 07:16
Saúde mental na velhice tem ficado mais debilitada durante pandemia.
Saúde mental na velhice tem ficado mais debilitada durante pandemia.

Todos sabiam que ele estava muito triste pela morte da esposa há cinco meses, mas ninguém imaginava que o senhor de 83 anos cometeria suicídio na varanda de casa, no Jardim Parati. A cena foi um choque para o filho que o encontrou morto na última sexta-feira (4). Depois que mais um caso desses entra para estatística, a orientação que fica é paciência para ouvir e observar as mudanças de comportamento do idoso.

Histórias como essa não são poucas. O suicídio mata mais que homicídio e é o segundo na lista de causas de mortes violentas, em Campo Grande, conforme os últimos dados divulgados pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde).

“É preciso ter calma e paciência para conversar com o idoso e observar se ele está com alguma mudança de comportamento”, explica o Capelão Edilson dos Reis, que há 32 anos trabalha no combate ao suicídio. Teólogo e filósofo, com pós-graduação em Saúde Mental, Edilson já adianta que somente um psicólogo inscrito no Conselho Regional de Psicologia pode dar o atendimento necessário a um idoso com qualquer sintoma de depressão, mas indica o caminho de como perceber o que está acontecendo antes que o pior aconteça.

Pertencimento x Isolamento - “Em primeiro lugar, não temos que pensar em como ‘lidar com o idoso’ e sim em como a gente se ‘prepara para lidar com o idoso’. Na nossa cultura, na maioria dos casos não somos ensinados a cuidar deles. Temos que entender que existem necessidades e limitações, vai ter diversas doenças, desde as mais simples até Alzheimer, Parkinson, por exemplo. E pior vem agora: na pandemia, quando ele perde contato com as pessoas ou até um ente querido por morte, ele perde o referencial social, vai se tornando um anônimo, um invisível na família dele. Ele perde a referência de pertencimento ao grupo”, explica Edilson.

Para algumas tarefas que antes fazia sozinho, agora o idoso precisa dos parentes e se nesses momentos falta paciência na família, ele pode começar a sentir-se invisível, entrar em um “quadro permanente de desesperança, ansiedade e depressão”. É a hora de prestar atenção em algumas mudanças.

Comportamento - Muitos parentes acabam achando que tudo é natural da idade, um erro que pode ser fatal. Solidão, vontade de estar sozinho e perda do apetite são alguns sintomas que mostram que o idoso não está bem. “Ele quer ficar sozinho, quer ficar deitado, demora a levantar e vai perdendo o prazer naquilo que tanto gostava de fazer antes”, detalha o especialista sobre o momento em que o idoso “não quer mais dar trabalho para a família”.

“Tem que perguntar com carinho, afetividade, com calma para ouvir e descobrir o que ele está sentindo para ver se é o caso de encaminhar a um psicólogo. Não pode se irritar com idoso, porque o que ele justamente não quer é dar trabalho para a família, ele fica na dele e pode entrar em desesperança”, detalha Edilson.

Solidão, vontade de estar sozinho e perda do apetite são alguns sintomas que mostram que o idoso não está bem (Foto: Kisie Ainoã)
Solidão, vontade de estar sozinho e perda do apetite são alguns sintomas que mostram que o idoso não está bem (Foto: Kisie Ainoã)

Ajuda - Nem todo mundo tem condições de pagar um psicólogo, mas existem algumas alternativas. A primeira é a rede pública. As UBSs e UPAs estão preparadas para atender pessoas que passam por sofrimento, diagnosticar e tratar casos de saúde mental, conforme o psiquiatra Eduardo Gomes de Araújo, integrante da Coordenação de Saúde Mental da Sesau.

“Temos os Caps que são 24 horas para atender pessoas que sentem que precisam de ajuda e, além disso, temos reuniões mensais com os clínicos gerais das unidades básicas para orientar sobre esse tema”, assegura Eduardo ao se referir aos Caps, que são Centros de Atenção Psicossocial. Clique aqui para ver a lista de endereços.

Ele destaca que casos de ansiedade, depressão, esquizofrenia e outros sem tratamento podem resultar em complicações que perduram a vida toda ou até ser a porta para que as pessoas cometam crimes, por isso, é importante a família se empenhar na busca por ajuda especializada.

Edilson lembra ainda do GAV (Grupo Amor Vida), que há 20 anos atua em Campo Grande dando apoio a pessoas com pensamento suicidas. Clique aqui para acessar o site do GAV.

Outra opção são as clínicas escolas de Psicologia das universidades. Elas têm departamentos em que professores e alunos prestam atendimento gratuito. Para quem precisa conversar, mas não quer sair de casa tem também o telefone 188 do CVV (Centro de Valorização da Vida).

Quem procura um psicólogo em consultório particular pode consultar se o profissional é inscrito no Conselho clicando aqui. 

O importante é falar com alguém, porque “uma dor não compartilhada dói mais”, lembra Edilson.

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