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Cidades

Com dengue hemorrágica, aos 10 anos Beatriz descobriu que saúde é algo coletivo

População foca na covid-19 e esquece da dengue que já matou 31 pessoas este ano no Estado

Lucia Morel | 11/05/2020 14:11
Com dengue hemorrágica, aos 10 anos Beatriz descobriu que saúde é algo coletivo
A pequena Beatriz ficou seis dias internadas com dengue hemorrágica e agora se recupera em casa. (Foto: Arquivo Pessoal)

Seis dias internada com dengue hemorrágica. A pequena Beatriz Castilho Arruda, de apenas 10 anos, passou maus bocados por conta da doença. Ela começou a ter os primeiros sintomas na terça-feira, 28 de março, e na sexta, 1º de abril, com quadro agravado, teve que ser internada.

No bairro onde mora com a família, a Vila Carvalho, há muitos terrenos baldios e segundo a mãe dela, que trabalha na área da saúde, é nítido perceber que enquanto fala-se diariamente sobre a covid-19, a dengue, que é doença endêmica em Mato Grosso do Sul, vem sendo esquecida, assim como os cuidados necessários para evitá-la.

Larissa Domingues Castilho de Arruda, 35 anos, contou que toma os cuidados necessários em sua casa para evitar a dengue. Servidora pública da área da saúde, ela afirma que é meticulosa na atenção à limpeza, mas que ainda assim, a menina acabou se infectando.

“Na verdade, a gente acaba sempre cuidando dos dois (dengue e covid). Como ela está em isolamento em casa, sem aulas, a gente cuida ainda mais. Tanto que no começo nem acreditei muito que podia ser dengue. Mas no bairro têm muitas árvores, vizinhos que a gente não sabe como cuidam do quintal, terrenos baldios”, enumera.

Ela acredita inclusive que por conta do medo do novo coronavírus, as pessoas devem estar evitando ir ao médico ou aos hospitais. “Às vezes a pessoa sente algum sintoma, mas evita ir ao médico pra não sair ou porque está com medo de se contaminar e acaba ficando pior. Com a Beatriz, agimos rápido e ela se recuperou rápido também”, contou Larissa.

Sobre ter que enfrentar justamente o risco da covid-19 dentro do Hospital da Cassems, a servidora estadual comenta que, apesar disso, sentiu-se segura e percebeu que os profissionais de saúde estão muito atentos em evitar a transmissão da doença.

“A gente acha que nunca vai acontecer com a gente. A gente toma todos os cuidados, mas tem o mosquito que não desaparece fácil e ao mesmo tempo, tive que interná-la no hospital e tinha o risco de covid lá. Mas percebi que eles restringiram muito a circulação de pessoas e isso me deixou mais segura”.

Larissa diz ainda que ela prestava mais atenção em si mesma e em se higienizar com álcool, por exemplo, para cuidar da filha, do que nos profissionais que acompanhavam a pequena. “Eles já seguem um rigor de higiene né? Tinham todos os apetrechos”, destacou.

Esta foi a primeira vez que Beatriz pegou dengue e teve uma queda tão baixa de plaquetas que teve derrame pleural e precisou receber mais plaquetas para estabilizar o quadro de saúde. Agora ela está em casa, se restabelecendo.

Com dengue hemorrágica, aos 10 anos Beatriz descobriu que saúde é algo coletivo
Pelo Nova Lima, o que mais se vê são terrenos baldios cheios de lixo. (Foto: Paulo Francis)

Nova Lima – Região de alerta para dengue em Campo Grande, no bairro Nova Lima, moradores afirmaram que os cuidados contra a dengue tem sido esquecidos.

Renildo da Conceição Alves, 50 anos, é soldador e teve dengue no meio do ano passado. Desde então, diz que cuida bastante da limpeza de sua casa, mas afirma que não vê isso dos vizinhos.

“Agora a gente só escuta sobre o coronavírus e pelo que percebo, o pessoal não anda cuidando muito da dengue não. Minha mãe mesmo, tem 79 anos e nem dorme à noite direito com medo desse “corona”, mas nem lembra que a dengue existe”, relata.

Para ele, as pessoas estão focando muito em um problema e se esquecendo do outro, com isso, param de se cuidar como deviam. Pelo bairro, a reportagem registrou diversos terrenos baldios cheios de lixo, entulhos, restos de móveis e mato alto.

Ariovaldo Pereira de Paula, 37, é pedreiro e compartilha da opinião de Renildo. “Só escuta sobre corona ultimamente, mas quando vejo matéria sobre as mortes por dengue, fico preocupado. Parece que ninguém está cuidando. Não vejo ninguém limpando ou falando sobre importância de cuidar”, lamenta.
 A comerciante Rosimeire Souza, 57 anos também já teve dengue e afirma que basta uma vez para começar a mudar de hábitos. “A gente aprende que precisa cuidar. Eu e minha família pegamos e ficamos traumatizados. É muito ruim. A gente toma conta do que é nosso, mas se a pessoa que mora ao lado de casa não toma conta, nada garante que a gente não vá pegar”, sustenta.

Somente este ano, 31 pessoas morreram de dengue em Mato Grosso do Sul, 5 delas em Campo Grande. Apesar da taxa de letalidade da doença ser menor que a de covid-19, a necessidade dos cuidados não podem cair no esquecimento, uma vez que a dengue já infectou 23,7 mil pessoas este ano no Estado.

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